O assassinato de Marielle Franco, num Rio sob intervenção, em 4 pontos centrais
15/03/2018 13:48 - Atualizado em 15/03/2018 14:16
O assassinato de Marielle Franco, num Rio sob intervenção, em 4 pontos centrais
Matéria por: Nexo (www.nexojornal.com.br)
A vereadora Marielle Franco fazia do combate ao racismo e à violência policial contra moradores de comunidades do Rio suas bandeiras. Na noite de quarta-feira (14), ao voltar de um debate com jovens negras, a vereadora pelo PSOL foi morta a tiros, no Estácio, região central do Rio. Ela estava no carro quando um outro veículo se aproximou e seus ocupantes começaram a atirar. Nenhum pertence foi levado. O motorista da vereadora, Anderson Pedro Gomes, também morreu. A assessora de imprensa de Marielle, Fernanda Chaves, que estava ao seu lado, sobreviveu. Até o momento, a Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio trabalha com a hipótese de execução. Em nota, o PSOL pediu apuração “imediata e rigorosa” e afirmou que a hipótese de crime político não deve ser descartada. A Anistia Internacional Brasil e a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Rio também cobraram rápida apuração.
O Palácio do Planalto ofereceu o apoio da Polícia Federal para as investigações. O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, também afirmou que acompanhará o caso pessoalmente. O ministério foi criado em fevereiro pelo presidente Michel Temer, logo após o anúncio da intervenção federal na segurança do Rio em razão da escalada dos registros de violência na capital e em cidades do estado. Nesta quinta-feira (15), Temer afirmou que a morte da vereadora foi ato de “extrema covardia” e que o “crime não ficará impune”.
Quem é Marielle Franco - Marielle exercia seu primeiro mandato na Câmara, para o qual foi eleita em 2016, com 46.502 votos, a quinta maior votação para o Legislativo municipal. Aos 38 anos e mãe de uma filha de 19 anos, ela teve uma trajetória dedicada aos direitos humanos. Marielle era socióloga, formada pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio e mestre em Administração Pública pela UFF (Universidade Federal Fluminense). Antes de assumir o mandato na Câmara, trabalhou em organizações como o Centro de Ações Solidárias da Maré, complexo de favelas no Rio, e a Brasil Foundation. Ao lado do deputado estadual Marcelo Freixo, em 2009, ela integrou a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio como assessora.
Polícia na cena do crime. Foto: Reuters
Na Câmara, a vereadora integrava o bloco de oposição ao governo de Marcelo Crivella (PRB). Era uma das sete mulheres entre os 51 parlamentares. Marielle defendeu projetos voltados à saúde da mulher e à educação, tendo como perspectiva a ampliação da rede de atendimento a mulheres pobres. Em setembro de 2017, a Câmara aprovou um projeto de autoria de Marielle que propôs a ampliação das Casas de Parto em áreas de vulnerabilidade social da capital, para a realização de acompanhamento das gestantes e partos normais.
Como ela atuava na questão policial - Como militante e vereadora Marielle dedicava-se também à questões da segurança pública, em especial a abordagem policial em comunidades. Sua dissertação de mestrado, “UPP: a redução da favela a três letras”, tratou da atuação das Unidades de Polícia Pacificadora no Rio, projeto implantado pelo governo estadual a partir de 2008. A UPP teve por objetivo ocupar morros e comunidades como parte de uma estratégia de combate ao tráfico de drogas e à violência. Marielle acompanhou parte dessa política na Maré, complexo de 16 comunidades na zona norte do Rio, onde nasceu e foi criada. Experiências pessoais da vereadora pautaram seu posicionamento e as críticas à atuação policial, considerada abusiva por Marielle, em especial contra jovens negros. “Quantos jovens precisarão morrer para que essa guerra aos pobres acabe?”, escreveu a vereadora, na terça-feira (13), ao comentar a morte de um homem de 23 anos por policiais militares. No domingo (11), a vereadora usou suas redes sociais para denunciar a ação do 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio na comunidade Acari, zona norte da capital. O batalhão está entre os recordistas de registros de mortes, de acordo com o ISP (Instituto de Segurança Pública).
Após a intervenção federal na segurança do Rio, Marielle foi escolhida como relatora da comissão da Câmara organizada para acompanhar as ações federais, que estão sob o comando do general do Exército Walter Braga Netto. Crítica da intervenção, a vereadora considerava a medida ineficaz e questionava a ausência de políticas consolidadas voltadas à educação, cultura e lazer.
Qual a linha de investigação - Ao menos nove tiros foram disparados contra o carro em que a vereadora estava. Integrantes do partido e familiares disseram desconhecer se a vereadora vinha sofrendo algum tipo de ameaça. “Ela incomodava pequenas e grandes máfias”, afirmou, sem entrar em detalhes, o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) à BBC Brasil. Das informações tornadas públicas até o momento, o que se sabe é: Ao menos quatro tiros atingiram Marielle. Os disparos foram na direção da vereadora, sentada no banco traseiro. O carro onde Marielle tinha os vidros escurecidos, o que indica que os autores sabiam previamente da posição dos passageiros, o que reforça a suspeita de execução. Os criminosos fugiram sem levar nenhum objeto das vítimas. A polícia solicitou imagens de câmeras de segurança do entorno onde o assassinato ocorreu. Além da assessora de imprensa de Marielle, que sobreviveu ao ataque, uma segunda testemunha, não identificada, prestou depoimento à Polícia Civil. O motorista morto durante a abordagem estava na linha de tiro, segundo policiais, e foi atingido na lateral das costas. Anderson Pedro Gomes estava fazendo “bico”, substituindo o motorista regular de Marielle, conforme relatou a esposa Ágatha Arnaus Reis.
O que diz o interventor federal - As polícias Civil e Militar estão sob o comando do interventor federal. Ou seja, quem comanda a segurança pública do Rio é o presidente Michel Temer via seus interventores militares. Por meio de nota, o general-interventor Braga Netto afirmou que “repudia” ações criminosas e que está em “contato permanente” com o secretário de Segurança. O governo federal colocou a Polícia Federal à disposição, mas até o momento as investigações seguem com a Divisão de Homicídios. Na manhã desta quinta-feira (15), o chefe da Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa, se reuniu com Freixo e o titular da Divisão de Homicídios, delegado Fábio Cardoso. Prestes a completar um mês na função de interventor federal, Braga Netto tentará, até 31 de dezembro de 2018, dar uma resposta à escalada de violência no Rio. Nesse período, o general mudou postos de comando das políticas e oficiais do Exército têm feito ações de policiamento em comunidades e presídios. Nas poucas entrevistas que concedeu, o general afirmou que um dos propósitos da intervenção é combater o crime organizado e a corrupção nas polícias. Ao jornal Folha de S.Paulo, por escrito, ele afirmou que a ação policial será insuficiente se não vier acompanhada de projetos de inclusão social e melhora dos serviços públicos.
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NOTA DO PSOL: MARIELLE FRANCO, PRESENTE!
O Partido Socialismo e Liberdade vem a público manifestar seu pesar diante do assassinato da vereadora Marielle Franco e de Anderson Pedro Gomes, motorista que a acompanhava.
Estamos ao lado dos familiares, amigos, assessores e dirigentes partidários do PSOL/RJ nesse momento de dor e indignação. A atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta. Não podemos descartar a hipótese de crime político, ou seja, uma execução. Marielle tinha acabado de denunciar a ação brutal e truculenta da PM na região do Irajá, na comunidade de Acari. Além disso, as características do crime com um carro emparelhando com o veículo onde estava a vereadora, efetuando muitos disparos e fugindo em seguida reforçam essa possibilidade. Por isso, exigimos apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo. Não nos calaremos!
Marielle, presente!
Partido Socialismo e Liberdade
14 de março de 2018.
Foto: Mídia Ninja

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    Thaís Tostes

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