O Pai é nosso...
02/04/2018 12:50 - Atualizado em 02/04/2018 13:00
 
Páscoa para mim é ouvir sem interromper, falar sem acusar, dar sem poupar, orar sem cessar, responder sem brigar, partilhar sem fingir, desfrutar sem reclamar, confiar sem vacilar, perdoar sem ferir... Como nos diz Pe Fábio de Melo... “Uma das coisas que eu acho fascinante em Jesus, é a capacidade que ele tinha de encontrar no meio da multidão, pessoas. Ele era capaz de reconhecer em cima de uma árvore um homem, e descobrir nele um amigo. Bonito, uma amizade que nasce a partir da precariedade, quando você chega desprevenido, o outro viu o que você tem de pior, e mesmo assim, ele se apaixonou por você. Amor concreto, cotidiano, diário. Jesus se apaixonava assim pelas pessoas e as tornava suas amigas. As trazia para perto Dele. É fascinante olhar para a capacidade que esse homem, que esse Deus tem, de investigar a miséria do outro e encontrar a pedra preciosa que está escondida. Isso é Páscoa, isso é ressurreição. É quando no sepulcro do nosso coração, alguém descobre um fio de vida, e ao puxar esse fio, vai fazendo com que a gente se torne melhor. Não há nada mais bonito do que você ser achado quando você está perdido. Não há nada mais bonito do que você ser encontrado, no momento que você não sabe para onde ir e não sabe nem onde está... O amor humano tem a capacidade de ser o amor de Deus na nossa vida, por causa disso: porque Ele nos elege! Por isso que é bom termos amigos, porque na verdade, as pessoas amigas antecipam no tempo, aquilo que acreditamos ser eterno... Quando elas são capazes de olhar para nós e descobrir o que temos de bonito... mesmo que isso, às vezes, costume ficar escondido por trás daquilo que é precário. Por isso, agradeço muito a Deus pelos amigos que tenho. Pelas pessoas que descobriram, no que eu tenho de pior, uma coisinha que eu tenho de bom, e mesmo assim continuam ao meu lado, me ajudando a ser gente, me ajudando a ser mais de Deus, ajudando a buscar dentro de mim, a essência boa que acreditamos que Deus colocou em cada um de nós. Ter amigos é como arvorear: lançar galhos, lançar raízes... Para que o outro quando olhar a árvore, saiba que nós estamos ali... Que nós permanecemos para fazer sombra, para trazer ao outro, um pouco de aconchego que às vezes ele precisa na vida...” Isso é Páscoa...
Para os judeus, a Páscoa também é a festa mais importante do ano e há a reunião de parentes e amigos. Devemos ensinar aos nossos filhos e netos que ser um homem livre implica em responsabilidades de ser humilde e levar a liberdade aos outros que não tem. Jesus, humildemente, dobrou-se até o chão para lavar os pés dos discípulos. Gesto de extrema humildade e serviço, à semelhança de um escravo. Faz-se irmão verdadeiro, servindo, e pede que façamos o mesmo. Eis o caminho que nos conduz à redenção, à liberdade, à vida. Nossos gestos de amor tornam-se sacramentos: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.
É fácil condenar. Exigente é amar, servir e dispor-se em favor da vida. Porém a vida é vitoriosa sempre. Romperam-se os laços da morte e a plenitude da vida penetrou todo o universo, em cada ser humano.
O exemplo do lava-pés caracteriza-se por uma ação pontual e simbólica de Jesus Cristo. Envolve uma série de passos práticos: levantar-se, tirar o manto, cingir-se com a toalha, tomar a jarra com água e a bacia, lavar os pés dos discípulos. Diversos atos em função de uma atitude. Apesar do conjunto (atitude) parecer mais importante do que as partes (atos), eles não sobrevivem isoladamente. Os atos sem atitude tornam-se ações mecânicas, passageiras. A atitude sem atos também não sobrevive, porque se revela estéril. A relação é recíproca.
No caso de Jesus Cristo, cada etapa do gesto era impulsionada pela atitude fundamental de Deus: estar a serviço do homem. O cristão precisa, desta maneira, mergulhado no ensinamento que vem do alto, colocar-se por inteiro nas ações de promoção da vida, e vida em abundância (cf. Jo 10, 10).
O PÃO é o alimento símbolo do inteiro, não só substância. No pão o ser humano reconhece os elementos fundamentais do mundo: a TERRA que recebe a semente e faz crescer o trigo, a ÁGUA na mistura com a farinha, o FOGO e o AR para o cozimento. O pão é, em todas as culturas e em todas as linguagens, metáfora do alimento. A palavra pão vem do grego “pân” que significa TUDO.
O vinho, diferente do pão, não é uma necessidade. Porém, ao lado do pão da necessidade, do pão que sacia, do pão cotidiano, é sinal da gratuidade, da festa, da alegria. Que sabor teria a vida ou para que serviria sem o símbolo da gratuidade, da alegria e da plenitude da vida?
Assim, pão e vinho são sinônimos de partilha e de humanização. Uma celebração da vida. Anunciam a família que se reúne, a mãe que o amassou, o pai que o ganhou e os filhos que se alimentam. Jamais um sem o outro! Numa sociedade na qual predomina o mais forte, a partilha é uma ameaça onde triunfa o individualismo. A partilha nos recorda o destino comum de toda humanidade. Numa sociedade onde predomina o desperdício, a partilha é sinal de comunhão e de fraternidade.
Portanto, o Pai não é seu, não é meu... O Pai é nosso!!! Que possamos vivenciar a Páscoa, todos os dias do ano... com erros e acertos, mas sobretudo com amor sincero...
Feliz Páscoa!
Com afeto,
Beth Landim

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