Cardiopatas 2: PF procura advogado em esquema de fraude de mais de R$11 milhões ao INSS
Matheus Berriel 12/01/2018 08:29 - Atualizado em 15/01/2018 00:11
A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta sexta-feira (12), a Operação Cardiopatas 2, um desdobramento da Operação Cardiopatas, realizada no dia 8 de dezembro do ano passado, com objetivo de apurar a atuação de uma organização criminosa em fraudes previdenciárias, desde pelo menos 2010, com envolvimento de médicos e servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O prejuízo ao órgão totaliza mais de R$ 11 milhões. Na nova etapa, iniciada por volta das 6h, os agentes da PF saíram em cumprimento de dois mandados de prisão preventiva para o advogado Joacyr de Souza Conceição, que concorreu ao cargo de vereador na última eleição em Campos pelo PDT, e um morador de Barcelos, em São João da Barra, Tiago Correa Tavares. Os dois não foram encontrados nos endereços e já são considerados foragidos, segundo a polícia. Cinco mandados de busca e apreensão também foram cumpridos durante a ação.
De acordo com o delegado da Polícia Federal, Vinícius Venturini, o desdobramento surgiu a partir de informações obtidas no material apreendido anteriormente. O número de fraudes em benefícios subiu de 34 para 67, com prejuízo total de R$ 11.385.441,76 ao INSS. "As buscas foram muito exitosas. A gente encontrou farta documentação, que robustece e comprova a fraude", afirmou.
A partir da fase inicial da operação, também foram descobertos dois novos intermediários envolvidos. "A gente tinha outros envolvidos não identificados. Com os depoimentos dos envolvidos e a análise do material apreendido, chegamos à identificação de mais dois intermediários, membros da organização criminosa", disse o delegado. Um deles é o advogado Joacyr, que é bastante conhecido em Campos, segundo Vinícius Venturini. O envolvido não foi encontrado em Goitacazes, na Baixada Campista, onde ocorreram as buscas, acompanhadas por um representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
— Eu fiz uma busca rápida (na internet), ele tem pouquíssimos processos. Está meio parado, não é atuante. Ele não atuava como advogado no esquema — afirmou o delegado. — Os intermediários cooptam pessoas, geralmente humildes, e forjam documentos médicos, obtém documentos para serem apresentados ao INSS, para obterem auxílio-doença — explicou.
Um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido na residência de um cardiopata, na localidade campista de Poço Gordo. "Ele se submetia a exames cardiológicos, mas se identificava com os nomes dos beneficiários da quadrilha. Apresentava a identidade de um cliente da quadrilha, que recebia um eletrocardiograma com o coração doente e ia até a perícia. Era uma fraude bem arquitetada, porque havia médicos envolvidos, que facilitavam o deferimento, mas, mesmo os médicos honestos poderiam ser induzidos ao erro", destacou o delegado.
Paulo Pinheiro
Ainda segundo Vinícius Venturini, o cardiopata realizava de dois a três exames mensais e recebia R$ 300 por cada um deles. "Se ele tem consciência, isso ele nega, que está fazendo um exame para fraudar o INSS, ele é partícipe desse crime. Embora ele não seja o beneficiário direto, a ação dele contribuiu. Então, ele responde, na medida da participação dele, pelo crime de estelionato previdenciário", ressaltou.
O material apreendido no cumprimento dos mandados desta sexta ainda será analisado. Novas diligências serão realizadas na tentativa de cumprimento das prisões preventivas. Em relação à fase anterior da operação, quando 14 de 15 mandados de prisão preventiva foram cumpridos, apenas seis envolvidos seguem presos. Todos eles atuavam como intermediários. O único foragido é o suspeito de chefiar o esquema, identificado como Rogério Vasconcelos Maciel. Novas diligências aconteceram, inclusive na última quinta-feira (11), mas o mandado de prisão preventiva segue em aberto. Sete servidores do INSS, entre eles o médico Admardo Henriques Tavares, conseguiram converter a prisão em afastamento do cargo exercido. Já o médico particular Jairo Rodrigues Perissé foi solto após o final do prazo de cinco dias da prisão temporária.

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