Visões sobre Gilmar Mendes do artigo ao áudio vazado
24/12/2017 14:00 - Atualizado em 25/12/2017 11:20
Do artigo ao áudio
Um artigo assinado pelo jornalista e autor Zuenir Ventura na página 17 de O Globo, escrito no mínimo no dia anterior à sua publicação, dá exata noção de como decisões do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes, andam incomodando: “Para leigos como eu, soa meio esquisita a frequência com que o ministro Gilmar Mendes desautoriza juízes, revogando decisões, distribuindo habeas corpus e mandando soltar presos — não os comuns, bem entendido, apenas os especiais”, destaca Zuenir logo na abertura do seu artigo.
“Chama o Gilmar!”
Vindo de um renomado formador de opinião, o artigo ainda busca em outras fontes para mostrar o quanto virou “chacota” os posicionamentos de Gilmar Mendes. “Ancelmo Gois elegeu como frase do ano ‘Gilmar solta’ e, para o procurador da Lava Jato Carlos Fernando dos Santos Lima, ele simplesmente ‘encarnou papai Noel’. Um popular gritou outro dia para quem era conduzido num camburão: ‘Chama o Gilmar!’. Pronto, caiu na boca do povo, pelo que faz e também pelo que diz usando até comparações com ‘rabo de cachorro’. Além de soltar presos, Gilmar solta a língua e manda às favas a liturgia do cargo”.
Atribuído a juiz
São muitas as opiniões sobre Gilmar, mas elas se tornam ainda mais evidenciadas quando vêm de dentro da própria magistratura. É isso que está acontecendo com um áudio atribuído ao juiz eleitoral de Campos, Glaucenir Oliveira, responsável pela prisão do casal Garotinho, no qual críticas firmes são feitas ao ministro: “Gilmar não mesmo vergonha na cara, infelizmente. Não adianta fazer campanha contra ele porque ele sorri, é sarcástico, entendeu? É desanimador, sabe? É desanimador. É uma desilusão”.
“A mala foi grande”
Entre outras declarações, no áudio, que o casal Garotinho já disse que quer perícia para constatar a veracidade e tomar medidas cabíveis contra o juiz, ainda há denúncias graves sugerindo que a decisão de Gilmar em soltar Anthony teve “valor alto”: “Segundo os comentários que eu ouvi hoje – comentário sério, de gente lá de dentro – é que a mala foi grande (...) O que se cita no próprio grupo dele é que a quantia foi alta”. O áudio pode ser ouvido na íntegra no Folha 1.
CNJ de olho
Na noite de ontem, o site Consultor Jurídico (Conjur) informou que a Corregedoria Nacional de Justiça vai instaurar um pedido de providências para apurar a conduta do juiz Glaucenir. Segundo o ministro João Otávio de Noronha, corregedor nacional de Justiça, falou ao site será instaurado um pedido de providências para analisar que infrações foram cometidas. Depois, eventualmente, será instaurado um processo administrativo disciplinar.
PF também no caso?
Ainda segundo o Conjuir, a Polícia Federal também deve instaurar um inquérito para apurar se houve crime na conduta de Glaucenir. O corregedor-geral de Justiça do Rio de Janeiro, desembargador Claudio Mello, disse que recebeu o áudio do magistrado e uma série de informações e vai apurar que procedimento adotar. O magistrado foi procurado pela equipe de reportagem da Folha na tarde de ontem. As ligações telefônicas não foram atendidas. No entanto, ao Consultor Jurídico, o juiz teria dito “que não quer falar publicamente sobre assunto. Só explicou que não fez qualquer acusação, apenas fez comentários num grupo fechado de juízes”.
"Deus é fiel e Gilmar também"
Na mensagem, quem gravou o áudio também diz que “temos outros ministros que são omissos, parece que se acovardam”. Mas como bem indagou Zuenir Ventura em seu artigo: “De onde vem todo esse poder de Gilmar Mendes? Dizem que é do temor, até físico, que inspira nos colegas, o que é desmentido pelo destemor com que o enfrenta um confrade, o ministro Luís Roberto Barroso. Ao mesmo tempo em que desperta revolta em uns, ele é a esperança de outros, como Cabral”. O jornalista não termina seu texto sem antes lembrar das orações na saída de Garotinho do presídio: “‘Deus é fiel’. Deveria estender o gesto de gratidão e acrescentar: “‘Gilmar também’”.
Publicado na edição da Folha deste domingo.

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    Rodrigo Gonçalves

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