A Cidade que Preserva a História
As Estações Ferroviárias e o exemplo de Porciúncula
Por Guilherme Fonseca Cardoso


Há dias publiquei no meu perfil do facebook uma imagem da antiga Estação Ferroviária de Itaperuna, que ficava localizada na Avenida Cardoso Moreira. Segundo informações em sites especializados no tema ferrovias, a estação do século XIX (ver imagem) foi substituída por outra no século XX que mais tarde também foi demolida.

A inauguração da primeira Estação Ferroviária ocorreu em 25 de junho de 1883 e contou com a presença do Imperador D. Pedro II, que no dia anterior estava em Campos dos Goytacazes para a inauguração do sistema de iluminação elétrica da cidade.

A inauguração da Estrada de Ferro Carangola, que ligava Carangola (MG) a Campos dos Goytacazes (RJ) e a Estação Ferroviária de Itaperuna são considerados, segundo registros, marcos do desenvolvimento de Itaperuna e do Noroeste Fluminense.

As estações não são apenas edifícios, elas representam símbolos. Símbolos do desenvolvimento e do progresso da região e se não tivessem sido extintas, poderiam ter acelerado ainda mais o desenvolvimento da região. Eu, como brasileiro do Noroeste Fluminense, só tenho a lamentar a extinção das ferrovias na região, tanto para o transporte de passageiros quanto de cargas, assim como lamento o baixo investimento federal no setor, não sendo culpa de um único governo, mas de um consenso equivocado que permeia as decisões políticas em Brasília há quase 4 décadas.

Em Porciúncula, a Estação Ferroviária continua de pé a serviço da população como sede da Secretaria Municipal de Cultura e da Biblioteca Eloy Vieira Lannes, no centro da cidade. Lamentavelmente não teve o mesmo destino a Estação Ferroviária de Dona Emília, na zona rural do 1º Distrito.

A relação da Estação de Porciúncula com a história do município é muito forte. Antes denominado Santo Antonio do Carangola, o município passou a denominar-se Porciúncula em homenagem ao governador do Estado, José Thomaz da Porciúncula, que determinou a construção da estação em atendimento ao pleito da população, colocando fim ao movimento popular conhecido como “operação arranca trilhos”.

A Estrada de Ferro Leopoldina se recusava a construir uma estação na cidade e o maior interesse da população se devia ao fato da viagem para o Rio de Janeiro ser feita em apenas um dia pela Leopoldina. A compra de passagens e embarque de mercadorias só ocorriam em Tombos ou Antonio Prado de Minas, as duas em Minas Gerais. O movimento teria ocorrido em 1892, segundo registros do livro Subsídios para a História de Porciúncula, de autoria do Dr. Edésio Barbosa da Silva, p. 74.

Após a desativação das linhas na década de 70, configurando, de fato, um grave equívoco para o planejamento logístico do Brasil, o edifício só veio a ser restaurado em 1991, durante o governo Antonio Jogaib, passando a abrigar alguns órgãos municipais.

A Estação Ferroviária de Porciúncula começava uma nova fase como Centro Cultural Dr. Edésio Barbosa da Silva. Dr. Edésio, é figura ímpar na história de Porciúncula, tendo sido chefe dos três poderes no município, além de ter sido vice-prefeito de 1977 a 1983 e vereador por cinco legislaturas, integrando a primeira Câmara Municipal.

Em 2014, solicitei em ofício à Secretaria Municipal de Cultura que atendesse ao pedido do Dr. Edésio Barbosa da Silva, cujo pedido pairava há quase 20 anos na página 76 do livro “Subsídios para a História de Porciuncula”, onde menciona a instalação de uma placa na estação com a mensagem: “Por aqui passaram, durante quase um século, semeando progresso, as estradas de ferro Leopoldina e Carangola. O povo não esquece.”

No dia 26 de outubro deste ano, o secretário municipal de Cultura de Porciúncula, Vitor José de Araújo Cunha, em atendimento à solicitação, fez avançar mais uma etapa do processo de preservação da Estação ao inaugurar a placa com a presença do filho do Dr. Edésio, José Edésio.

Para alguns, pode parecer algo apenas protocolar, mas eu afirmo que esta placa servirá para as futuras gerações como um carimbo, atestando a representatividade histórica daquele edifício e na hipótese futura da estação deixar de ser sede dos órgãos públicos ali instalados, que ninguém ouse sugerir a sua demolição e sirva de estímulo à conservação do edifício, dando a ele novo uso à serviço sempre da população.

Pelo que me consta, a Estação Ferroviária de Porciúncula não é tombada por lei municipal e nem estadual. No primeiro caso, poderia ser feito por iniciativa tanto do Poder Executivo quanto por iniciativa de algum legislador.

Em relação ao Estado, sugiro à Secretaria Municipal de Cultural de Porciúncula a formação de uma comissão para defender junto ao INEPAC o tombamento estadual da “nossa” Estação Ferroviária.


Guilherme Fonseca Cardoso, arquiteto urbanista
[email protected]

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Nino Bellieny

    [email protected]