Há dias publiquei no meu perfil do facebook uma imagem da antiga Estação Ferroviária de Itaperuna, que ficava localizada na Avenida Cardoso Moreira. Segundo informações em sites especializados no tema ferrovias, a estação do século XIX (ver imagem) foi substituída por outra no século XX que mais tarde também foi demolida.
A inauguração da primeira Estação Ferroviária ocorreu em 25 de junho de 1883 e contou com a presença do Imperador D. Pedro II, que no dia anterior estava em Campos dos Goytacazes para a inauguração do sistema de iluminação elétrica da cidade.
A inauguração da Estrada de Ferro Carangola, que ligava Carangola (MG) a Campos dos Goytacazes (RJ) e a Estação Ferroviária de Itaperuna são considerados, segundo registros, marcos do desenvolvimento de Itaperuna e do Noroeste Fluminense.
As estações não são apenas edifícios, elas representam símbolos. Símbolos do desenvolvimento e do progresso da região e se não tivessem sido extintas, poderiam ter acelerado ainda mais o desenvolvimento da região. Eu, como brasileiro do Noroeste Fluminense, só tenho a lamentar a extinção das ferrovias na região, tanto para o transporte de passageiros quanto de cargas, assim como lamento o baixo investimento federal no setor, não sendo culpa de um único governo, mas de um consenso equivocado que permeia as decisões políticas em Brasília há quase 4 décadas.
Em Porciúncula, a Estação Ferroviária continua de pé a serviço da população como sede da Secretaria Municipal de Cultura e da Biblioteca Eloy Vieira Lannes, no centro da cidade. Lamentavelmente não teve o mesmo destino a Estação Ferroviária de Dona Emília, na zona rural do 1º Distrito.
A relação da Estação de Porciúncula com a história do município é muito forte. Antes denominado Santo Antonio do Carangola, o município passou a denominar-se Porciúncula em homenagem ao governador do Estado, José Thomaz da Porciúncula, que determinou a construção da estação em atendimento ao pleito da população, colocando fim ao movimento popular conhecido como “operação arranca trilhos”.
A Estrada de Ferro Leopoldina se recusava a construir uma estação na cidade e o maior interesse da população se devia ao fato da viagem para o Rio de Janeiro ser feita em apenas um dia pela Leopoldina. A compra de passagens e embarque de mercadorias só ocorriam em Tombos ou Antonio Prado de Minas, as duas em Minas Gerais. O movimento teria ocorrido em 1892, segundo registros do livro Subsídios para a História de Porciúncula, de autoria do Dr. Edésio Barbosa da Silva, p. 74.
Após a desativação das linhas na década de 70, configurando, de fato, um grave equívoco para o planejamento logístico do Brasil, o edifício só veio a ser restaurado em 1991, durante o governo Antonio Jogaib, passando a abrigar alguns órgãos municipais.
A Estação Ferroviária de Porciúncula começava uma nova fase como Centro Cultural Dr. Edésio Barbosa da Silva. Dr. Edésio, é figura ímpar na história de Porciúncula, tendo sido chefe dos três poderes no município, além de ter sido vice-prefeito de 1977 a 1983 e vereador por cinco legislaturas, integrando a primeira Câmara Municipal.
Em 2014, solicitei em ofício à Secretaria Municipal de Cultura que atendesse ao pedido do Dr. Edésio Barbosa da Silva, cujo pedido pairava há quase 20 anos na página 76 do livro “Subsídios para a História de Porciuncula”, onde menciona a instalação de uma placa na estação com a mensagem: “Por aqui passaram, durante quase um século, semeando progresso, as estradas de ferro Leopoldina e Carangola. O povo não esquece.”
No dia 26 de outubro deste ano, o secretário municipal de Cultura de Porciúncula, Vitor José de Araújo Cunha, em atendimento à solicitação, fez avançar mais uma etapa do processo de preservação da Estação ao inaugurar a placa com a presença do filho do Dr. Edésio, José Edésio.
Para alguns, pode parecer algo apenas protocolar, mas eu afirmo que esta placa servirá para as futuras gerações como um carimbo, atestando a representatividade histórica daquele edifício e na hipótese futura da estação deixar de ser sede dos órgãos públicos ali instalados, que ninguém ouse sugerir a sua demolição e sirva de estímulo à conservação do edifício, dando a ele novo uso à serviço sempre da população.
Pelo que me consta, a Estação Ferroviária de Porciúncula não é tombada por lei municipal e nem estadual. No primeiro caso, poderia ser feito por iniciativa tanto do Poder Executivo quanto por iniciativa de algum legislador.
Em relação ao Estado, sugiro à Secretaria Municipal de Cultural de Porciúncula a formação de uma comissão para defender junto ao INEPAC o tombamento estadual da “nossa” Estação Ferroviária.
Guilherme Fonseca Cardoso, arquiteto urbanista
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