Programação quilombola marca passagem do Dia da Consciência Negra
20/11/2017 16:41 - Atualizado em 21/11/2017 13:45
Mais de 150 pessoas participaram, nesta segunda-feira (20), na localidade de Aleluia, na região do Imbé, distrito de Morangaba, da programação para marcar o Dia da Consciência Negra, data da morte de Zumbi, último líder do Quilombo dos Palmares. O evento, organizado pela Associação das Comunidades Quilombolas do ABC (Aleluia, Batatal e Cambucá), reuniu lideranças comunitárias, representantes de apoiadoras e do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), além do vereador Abu.
A programação começou com um café da manhã na varanda do galpão da associação, tudo feito com "produtos da terra", tirados das roças dos quilombolas. Em seguida, o presidente da associação, Paulo Honorato, levou os convidados para uma caminhada por pontos considerados emblemáticos para a comunidade, como o Açude de Aleluia, construído em 1921, e as ruínas da antiga escola da comunidade, substituída há alguns anos por uma municipal.
- É importante que nossos filhos e netos conheçam a nossa história, para manter a tradição. Há poucas décadas, vivíamos em um verdadeiro regime de escravidão, trabalhando das 6h às 18h, sendo ainda obrigados a gastar todo o salário na "venda" (mercearia) dos patrões. Após muita luta, temos hoje a nossa terra, que não é para ser vendida, mas repassada aos nossos filhos, como símbolo dessa conquista - afirmou Honorato, referindo-se ao processo de ocupação e resistência que deu origem ao primeiro assentamento rural de Campos, com a desapropriação de terras da Fazenda Novo Horizonte, da antiga Usina de Rio Preto.
Em um intervalo da caminhada, o subchefe do Parque Estadual do Desengano, o biólogo João Rafael Marins, falou da importância da parceria entre o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e as comunidades. "Nosso papel é orientar vocês a fazerem a coisa certa, respeitando o meio ambiente, e temos registrado muitos avanços nesse sentido. A preservação dessa rica biodiversidade da região é importante para todos, pois ajuda a manter as nascentes e também fomentar o turismo ecológico, outra fonte de recursos para as comunidades", destacou.
Honorato enumerou diversas conquistas, como a organização e estruturação das comunidades. "Uma dessas conquistas é o resfriador de leite de Aleluia, que permite à comunidade entregar o produto direto à empresa, evitando o atravessador. Temos que lutar para mostrar que o negro pode sim ocupar lugares de destaque, pode sim fazer um mestrado, pode sim fazer um doutorado. É um processo e temos que seguir em frente", explicou.
A programação se estendeu até o meio da tarde, com brincadeiras com as crianças, almoço, gincana, filme quilombola e encerramento. "Esse é um momento de reflexão sobre até onde avançamos, o que precisamos avançar, mostrar ao quilombola que a terra é pertencimento dele, que a cultura é pertencimento dele, e é dessa maneira que vamos estruturando nossas lutas e nossas conquistas", afirmou a representante da Coordenação Nacional de Comunidades Quilombolas, Lucimara Muniz.

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