Salto épico dos 3 mosqueteiros
Paulo Renato Porto 11/11/2017 15:22 - Atualizado em 16/11/2017 15:14
Na literatura universal, “Dartagnan e os três mosqueteiros” travaram intensos combates que celebrizaram a saga narrada na genial obra do século XVIII do francês Alexandre. Nos tempos atuais, trazida para o universo da taba dos goitacazes, a comparação de imagem encontra semelhanças no seu homônimo campista, o presidente do Goytacaz, Dartagnan Fernandes, pelo caráter desbravador da luta, as dificuldades, os desafios e obstáculos enfrentados até o coroamento épico do acesso do clube à Série A do Campeonato Estadual, depois de longos 25 anos de espera.
A narrativa cronológica linear pode ser assim reconstituída: depois de amargar uma espantosa sequência de desastrosas administrações, que fizeram acumular dívidas e outros dissabores, como a alienação do seu próprio patrimônio, além do crédito comprometido na praça, parecia que o inevitável destino do Alvianil este ano era a interrupção temporária de suas atividades, infortúnio que seria insuportável para sua fiel e apaixonada torcida.
Todavia, Dartagnan, empresário do ramo de combustíveis, e o técnico e gestor de futebol, Carlos Lírio Barreto, decidiram encarar o desafio e, contra todas as previsões, lograram surpreender os mais incrédulos com o histórico feito.
— Enfim, o Goytacaz era um clube completamente desacreditado no mercado do futebol e na própria praça de Campos. No ano passado, fizemos vaquinha aqui dentro para pagar alimentação na estrada. Estávamos no fundo do poço. A intenção era a de não disputar o campeonato este ano — disse Dartagnan, que saboreia a histórica façanha, ao lembrar que há alguns meses era ele e alguns poucos mosqueteiros na linha de combate.
— Hoje, temos uma diretoria completa. A desconfiança desapareceu, as pessoas passaram a acreditar que o Goytacaz é um clube viável. Mas há ainda quem não acredite. É incrível, mas parece que para muitos a ficha ainda não caiu. Há muita gente que não acredita que estamos na Série A, embora ainda dependendo de uma classificação nesta primeira fase (Seletiva) para estarmos juntos aos grandes do Rio. Tem gente que não acredita que estamos reformando nosso estádio, dando à nossa torcida um novo Aryzão, com um gramado novo — comentou.
Mudança começou em indicação do treinador
O cenário começou a mudar quando o técnico Paulo Henrique sugeriu uma conversa com o empresário Flávio Trivella, da empresa Trivella, de material esportivo, que no futebol também atua na área de gestão esportiva e cuida da carreira de vários jogadores.
— No início do ano, liguei para o Paulo Henrique a fim de manifestar solidariedade pela perda do seu filho, Paulo Henrique Filho. Ele me perguntou como ia o Goytacaz. Eu disse que a situação era muito delicada, que iríamos pedir licença de um ano. Havia um débito restante de 2016 na Federação, não tínhamos como pagar. Ele, então, me sugeriu conversar com o Trivella, para que viesse nos ajudar. Eu entrei no site de sua empresa, achei interessante, ele voltou a me ligar e fizemos um contrato entre o clube e sua empresa para gerir o futebol do clube, mas com cláusulas onde a diretoria tem seu grau de autonomia. Ele nos encorajou a acreditar no sucesso que tivemos — contou Dartagnan.
Trivella já havia trabalhado com Paulo Henrique numa experiência exitosa no Quissamã, quando levou a equipe da “terra do coco” para a primeira divisão, revelando inclusive o lateral esquerdo Cortêz, hoje no Grêmio, cuja carreira é gerida por Trivella.
Seletiva é vista como divisora de águas
Na ótica de Carlos Lírio Barreto, as dificuldades tiveram inicio em 2015 quando “esses dois loucos” (ele e Dartagnan) decidiram assumir o clube.
— O presidente Dartagnan designou de 10 a 12 vices, mas só dois ou três apareceram. Então, depois veio o Márcio Rocha como vice de futebol, e foi só. O restante sumiu todo mundo. Eu ficava aqui durante tardes inteiras e não havia uma viva alma. Foi um ano pior do que esse. As dificuldades eram maiores, tanto que surgiu então a ideia de se criar uma cooperativa, através do Ricardo Bóvio, que tem serviços prestados ao Goytacaz com aquela iniciativa, porque vieram jogadores para cá que jogaram até de graça, fazíamos rifa e vaquinha para custear viagens. Sim, quase fomos rebaixados, mas se a gente não disputasse, no ano seguinte estaríamos na terceira divisão — lembrou Barreto, que avalia como fundamental a recuperação da credibilidade do clube neste processo de soerguimento da agremiação da rua do Gás.
— O Goytacaz não tinha crédito para nada. Sem dinheiro, não se podia ir ali na esquina comprar uma garrafa de água mineral fiado, porque ninguém vendia. A realidade hoje é outra, embora tenhamos um passivo enorme porque herdamos inúmeros processos trabalhistas. Mas, em dois anos e meio de nossa gestão, só tivemos uma ação e estamos honrando as parcelas — contou.
Outro ponto lembrado foi a trajetória de penúria, no começo do ano, quando o clube buscava captar recursos de publicidade estática nos espaços no estádio Ary de Oliveira e Souza junto a empresários locais.
— Poucos se interessavam e, quando um ou outro acenava em fechar contrato, queria pagar uma bagatela que não iria resolver nosso problema. Hoje, esses espaços são disputados e se encontram valorizados em razão da conquista do acesso e do resgate da imagem do clube. O Goytacaz tem hoje uma ótima marca, que qualquer empresa gostaria de ver sua imagem a ela vinculada — avaliou Carlos.
Barreto, entretanto, tem os pés no chão. O objetivo maior é a classificação nesta Seletiva, que terá inicio no dia 20 de dezembro, contra o Macaé, fora de casa. Passando por ela, o Goyta se juntará aos grandes do Rio, com direito a abocanhar de R$ 2 a 4 milhões de cotas de TV, como verdadeiro integrante da Série A.
— Ainda não conquistamos o acesso à verdadeira divisão de elite. Nossa situação ainda é muito difícil. Todo santo dia temos despesas para pagar. A Federação e a TV Globo irão pagar de R$ 100 a 110 mil por partida nesta Seletiva, mas é um dinheiro que somente entrará nos dias dos jogos. E são recursos ínfimos em relação às nossas despesas, ainda que nossa folha de pagamento seja bem enxuta — concluiu.

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