Safra da cana amarga perdas
Dora Paula Paes 11/11/2017 15:15 - Atualizado em 17/11/2017 15:41
A moagem da cana de açúcar nas três usinas de Campos fechou o ciclo da safra 2016-2017. Na indústria, os resultados não foram nada animadores. As três usinas juntas (Coagro, Paraíso e Canabrava) moeram 1 milhão de toneladas de cana, gerando 3 mil novos postos de trabalho. Um prejuízo enorme para os produtores. Em percentuais, levantamento do Sindicato da Indústria Sucroenergética aponta que o faturamento será na ordem de 40% a 50% menor do que no ano passado. Mas, o setor não espera por nada melhor no ano que vem. A estiagem já gerou 50% de perda na produção de cana. Pelos cálculos, inicialmente, a produção será suficiente apenas para colocar uma usina em operação. “A agricultura está à beira do caos”, diz o presidente do sindicato Frederico Paes.
— Hoje a gente vive não o estado de emergência, mais de calamidade pública. A gente escuta muita bobagem por falta de conhecimento técnico. É preciso andar na lavoura, no campo, correr os pastos. Animais estão morrendo e outros estão sendo vendidos para não morrer no campo. Culturas brancas como banana, abacaxi, feijão e mandioca estão sendo disseminadas — diz Frederico, que também é presidente da Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro).
Segundo Frederico, precisa chover muito para manter esses 50% (perda já existente), não há como qualificar o que está acontecendo com o campo. “2018 é um ano preocupante para o produtor que sai de casa de manhã e volta e não vê a chuva. As lagoas secaram sem nenhum tipo de drenagem, 2014 foi a pior estiagem dos últimos 100 anos, mas naquela época os lençóis estavam razoáveis por causa dos anos anteriores. Agora não tivemos chuva suficiente em 2015 e 2016, por isso, o estrago pode ser maior”, destaca.
Técnicos, sindicatos, Emater, Associação dos produtores, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e Pesagro defendem que o município decrete situação de emergência. “Não resolve a situação de falta de chuvas, mais anemiza a situação futura do produtor. Por exemplo, acesso a financiamento para recompor as lavouras, montar projetos de irrigação com ajuda do governo federal. Campos não é um oásis, todos os municípios vizinhos decretaram. Estamos no deserto. Esperamos que o prefeito Rafael Diniz respeite a situação técnica”, destaca Frederico.
Solução seria Rafael decretar emergência
A preocupação não é só na indústria, o presidente da Associação Fluminense dos Produtores de Cana de Açúcar (Asflucan), Tito Inosoja, confirma os números do Sindicato das Usinas e prevê para o próximo ano, se chover bastante, uma safra de 600 mil toneladas, com apenas uma usina moendo e “mal”. A solução imediata, segundo ele, seria o governo do prefeito Rafael Diniz apressar o processo para decretar a situação de emergência, assim como, as prefeituras de Quissamã e Porciúncula. São Francisco de Itabapoana tem se movimentado para decretar.
— A coisa mais importante é o decreto de emergência. Estive na reunião com o secretário do Desenvolvimento Econômico do Estado, Christino Áureo, em Pádua, na sexta-feira, e ele nos passou que está trabalhando com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para transformar a região em área do Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), que já abrange norte do Espírito Santo e Minas Gerais com socorro. Nos anos 80, Evaldo Inosoja tentou, mas não conseguiu apoio político. Acho que chegou a hora, mas nossos políticos devem estar atentos para não perdermos essa oportunidade, salvação do setor agrícola da região num todo — disse Tito.
Fatores de perdas — Alguns fatores são apontados para a redução da safra 2017. Os preços dos produtos da cana estão baixos (açúcar e álcool), principalmente o açúcar. Todos os órgãos de consultoria indicavam um ano razoável para o açúcar, mais o mercado internacional deu um descontrole total e o produto caiu abaixo do custo de produção. Então, a usina não pode fazer só álcool, tem que fazer os dois produtos”, explicou Frederico Paes.

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