Garotinho solto, Campos presa?
05/10/2017 10:30 - Atualizado em 16/10/2017 19:17
Ponto Final
Ponto Final / Ilustração
Garotinho solto, Campos presa?
“Durante a prisão de Garotinho, Campos não teve protestos. Por que será?”. A afirmação e a pergunta deram título à reedição desta coluna, no Folha 1, no dia seguinte (28) à liberdade do ex-governador Anthony Garotinho (PR), após 14 dias de prisão domiciliar na famosa “casinha na Lapa”. Pois ontem (04), exatamente uma semana depois, grupos de redes sociais ligados ao garotismo começaram a fazer convocações para fechar todas as entradas e saídas de Campos amanhã, sexta, dia 6, a partir das 8h. Alvo da ação que promete parar o município em ato de terrorismo político, o prefeito Rafael Diniz (PPS) foi tratado como “verme” e “demônio”.
Segurança tem mapa para reação
Não se sabe como as forças públicas de segurança, como Polícias Militar, Rodoviária Estadual e Rodoviária Federal, além de Guarda Civil Municipal, irão reagir à ameaça de parar a cidade. O que nenhum dos seus comandantes ou subordinados poderá alegar, assim que o dia de amanhã raiar, é que foram pegos de surpresa. A logística da operação é detalhada sem receio nas convocações por WhatsApp: “vamos fechar todas as entradas e saídas, da Tapera a Serrinha, do Km 8 à Stª Maria, do Pq. Imperial ao Farol, do Fundão a Sapucaia, da Alberto Lamego a Martins Lage, da Pecuária a Itereré”.
Ecos da Lapa
Impossível disfarçar a origem do terrorismo que se pretende instalar na cidade. Logo após sair da prisão no dia 27, ainda diante à “casinha da Lapa”, Garotinho “profetizou”: “Esse governo (Rafael) pode acabar a qualquer momento. A cidade está sendo destruída”. No seu eco, pregam as convocações ao ato de terrorismo político de amanhã: “vamos mostrar para esse verme, vulgo Rafael Diniz, que nós temos a força. Nós colocamos ele lá e nós tiraremos. Não podemos ficar de braços cruzados, assistindo essa corja de ladrões que vieram (sic) para roubar, matar e destruir. Vamos mostrar para essa cambada que nós temos a força”.
Juízo dos ressentidos
Refletir sobre quem classifica de “verme” e “corja de ladrões”, usando verbos como “roubar” e “matar”, sem apresentar uma mísera evidência, é gastar pensamento com quem não demonstra ter ou valer algum. Tanto pior quando tudo indica se estar agindo para servir aos interesses políticos de alguém condenadoa nove anos e 11 meses de prisão, pelos crimes de corrupção eleitoral, associação criminosa, coação de testemunhas e supressão de documentos, na tentativa de fraudar o pleito a prefeito de Campos vencido no voto, ainda em primeiro turno, por quem agora se pretende condenar pelo juízo dos ressentidos.
Promessa descumprida
Medidas como a suspensão da passagem social, na última segunda-feira (02), sangram a popularidade de Rafael, eleito não apenas com os votos da classe média, tradicionalmente refratária ao garotismo, mas também das classes desfavorecidas. Sobre a questão, pertinente o artigo do advogado Gustavo Alejandro Oviedo, publicado ontem no blog “Opiniões”: “como sabemos, agora o dinheiro acabou. A promessa do atual governo de manter os programas sociais está sendo descumprida. A conta por ter falado demais na campanha — ciente à época da batata quente que ia receber — pertence a Rafael Diniz, e a pagará com popularidade”.
Engano de Nero
Mas o mesmo articulista conclui sua análise equilibrada ao parágrafo final: “Já a conta da administração municipal ficar refém do populismo e das despesas demagógicas sem receita permanente deve ser cobrada, sem dúvida, aos Garotinho”. Há muitos devedores na falência do transporte público goitacá. E se um deles, logo o mais antigo, pensa que pode tocar fogo em Campos, à distância segura de um apartamento na Zona Sul carioca, entoando seu microfone pago na Tupi, como Nero a sua harpa, está muito enganado. Será só mais um dos tantos que comete, ladeira abaixo, desde que decidiu ser candidato a governador em 2014.
Perda de Vidas
Assim que as forças de segurança pública tomarem as providências para que Campos não se torne refém do terrorismo político nesta sexta, como já fizeram com quem ameaçou e medrou transformar em baderna o desfile de 7 de setembro, o município terá pela frente outro desafio. E talvez ainda mais grave, pela importância da Saúde Pública e a capacidade de liderança dos médicos em qualquer comunidade. Ao governo, além da abertura a ouvir, é necessário dizer. Aos médicos, o diagnóstico de que o caos na Saúde existia quando Garotinho era governo ou estava preso. Na queda de braço, perde a cidade. E a perda é de vidas.
José Renato

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