Calças Molhadas
- Atualizado em 19/09/2017 13:52
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“Venha comigo a uma sala de aula do terceiro ano... Há um menino de nove anos sentado à sua carteira e de repente há uma poça entre seus pés, e a parte dianteira de suas calças está molhada. Pensa que seu coração vai parar porque não pode imaginar como isso aconteceu. Nunca havia acontecido antes, e sabe que quando os meninos descobrirem nunca o deixarão em paz. Quando as meninas descobrirem, nunca mais falarão com ele enquanto viver. O menino acredita que seu coração vai parar, abaixa a cabeça e reza esta oração: "Querido Deus, isto é uma emergência! Eu necessito de ajuda agora! Mais cinco minutos e serei um menino morto". Levanta os olhos de sua oração e vê a professora chegando com um olhar que diz que foi descoberto. Enquanto a professora está andando até ele, uma colega chamada Susie está carregando um aquário cheio de água. Susie tropeça na frente da professora e despeja inexplicavelmente a água no colo do menino. O menino finge estar irritado, mas ao mesmo tempo interiormente diz "Obrigado, Senhor! Obrigado, Senhor!" De repente, em vez de ser objeto de ridículo, o menino é objeto de compaixão. A professora desce apressadamente com ele e dá-lhe shorts de ginástica para vestir enquanto suas calças secam. Todas as outras crianças estão sobre suas mãos e joelhos limpando ao redor de sua carteira. A compaixão é maravilhosa. Mas como tudo na vida, o ridículo que deveria ter sido dele foi transferido a outra pessoa - Susie. Ela tenta ajudar, mas dizem-lhe para sair. "Você já fez demais, sua grosseira!" Finalmente, no fim do dia, enquanto estão esperando o ônibus, o menino caminha até Susie e lhe sussurra, "você fez aquilo de propósito, não foi?" E Susie lhe sussurra, "eu também molhei minha calça uma vez". Que possamos ver as oportunidades que sempre estão em torno de nós para fazer o bem.”
Estes são os anjos! Quantas e quantas vezes ficamos a procurar por anjos de “asas”, santos imortalizados e um Deus distante... Nos esquecemos de que os anjos vivem na terra e estão ao nosso lado. Temos todos os dias oportunidades de ajudar, de aproximar, de reconciliar, de abrandar corações... Sejamos menos egoístas. Vivemos em uma época de grande inconsistência de valores. Época em que a “maquiagem” dos fatos, a primeira vista, tenta enganar a todos que são ingênuos. Época em que não vemos uma atitude real de ajuda ao próximo, com sinceridade em servir... Época de repensar valores e pessoas, pois não podemos nos deixar levar pelo consumismo. Época de buscar “grandes pessoas”!
Fernando Pessoa em seu Poema em Linha Reta nos leva a repensar a nossa trajetória, quando nos sacode a alma, poetizando ... “Toda a gente que eu conheço e que fala comigo, nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana, que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; que contasse, não uma violência, mas uma covardia! Não, são todos o ideal, se os ouço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? ... Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, vil no sentido mesquinho e infame da vileza.”
Que a vida possa realmente nos conduzir por trilhas que valem a pena serem trilhadas... Que nós possamos acordar em tempo, e não permitir tantas vezes ignorar o vento que nos sacode e sussura em nossos ouvidos vozes de despertar. O tempo passa, os relógios trabalham incessantemente em seus tic-tacs apressados, nos mostrando com firmeza que é tempo de reagir, de levantar, de buscar com intensidade os nossos sonhos e desejos. Vamos em frente... Arre, como nos diz Pessoa! Vamos evitar nos colocar nos altares da vida, vamos construir em nosso interior um ambiente de simplicidade como o da estrebaria em que Jesus foi gerado, exemplo de humildade que a humanidade recebeu, e então que sejamos capazes de pautar as nossas atitudes no bem comum, na singeleza dos atos, indo de encontro aos afetos, amenizando os desafetos, aprimorando os laços, repensando relações turbulentas que como a água do aquário que caiu podem também deixar extravasar o lado menos bom e se reconstruir em sólidas vivências no cotidiano de nossas vidas... Ao invés de apontar culpados, que possamos voltar para nós mesmos o dedo que aponta a culpa do outro e verificarmos quanto crescimento nos aguarda...
A vida é bela, basta que deixemos a condução da energia do bem estar presente ao nosso redor, entornando todas as águas estagnadas dos aquários da vida, beneficiando a todos que nos cercam, sem precisar dizer que fomos nós os protagonistas deste recomeçar, mas apenas partícipes ativos na reconstrução de um mundo melhor, onde com certeza os valores sólidos que buscamos com avidez sejam reais dentro de nós e implantados com muito amor em todos que nos cercam. Como nos diz Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.”... Uma maravilhosa semana a todos!!!
Com afeto,
Beth Landim

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