Guilherme Belido Escreve - Quando a vida não tem nada a ver com ser idoso
Guilherme Belido 22/07/2017 19:56 - Atualizado em 24/07/2017 17:54
O mundo inteiro tem discutido a vida dos idosos, sendo que o debate – por melhor intencionado que seja – abriga sob uma mesma planilha diferentes pessoas, modus vivendi, grupos, ambientes, circunstâncias sócio-econômicos-familiares e mais uma interminável série de questões. Em suma, todos os tons de cinza, de azul, de verde, de vermelho...
Na prática, funciona como juntar uma dúzia de ovos, uma vassoura, um abacaxi, duas pinhas bem maduras e um rolo de arame farpado num mesmo embrulho e depois reclamar que ficou difícil de levar. Pudera, né?
Mas, deixando para mais adiante as diferenças gritantes do que se entende (ou de quem se entende) como idoso, um aspecto curioso chama atenção: o caso concreto em que o politicamente correto – que é não chamar idoso de velho – parece não prevalecer.
Contrastando com quase todas as normas recomendadas no sentido de se evitar formas excludentes ou discriminatórias de tratamento, neste contexto o ‘politicamente correto’ sugere o avesso. Ou seja: a aparente falta de cerimônia ou respeito entra melhor do que a definição tecnicamente convencionada.
Vejamos: ao se apontar para uma fila de banco e comentar que você está atrás ‘daquele velho ali’... ou ‘daquele senhor idoso’, via de regra, vai pesar mais o segundo. Claro, há toda uma entonação que precisa ser levada em conta. Mas a carga do ‘senhor idoso’ pode ser mais taxativa e mais discriminadora do que a outra.
Até porque para a pessoa em foco, ser definido por “velho” é um escape pela má conduta de quem chama. Já para o educado “senhor idoso” não há salvação. É uma sentença. Estamos, portanto, diante de um raro exemplo em que o politicamente correto passa, na prática, a ser incorreto.
Evidente, cada circunstância traz suas próprias peculiaridades e não se trata aqui dos cenários em que os ‘politicamente corretos’ são pra lá de chatos...
...E afinal? Quem é idoso?
Se há algo que o dia-a-dia nos ensina é a dificuldade em estabelecer qual faixa etária identifica a figura do idoso. Não confundir com envelhecimento biológico que, mais rigoroso – mas também com flexibilidades –, exibe suas fronteiras.
Não nos referimos ao que as estatísticas da entidade “X” ou do instituto “Y” fornecem como média. Afinal, as organizações precisam estabelecer tais rótulos, ou não existiriam as classificações. Daí as definições tipo “Terceira Idade”, “Melhor Idade”, “Idoso Jovem”...
O Código Penal Brasileiro, por exemplo, estabelece idoso a partir de 70 aos. Já para a ONU, a Terceira Idade começa aos 65. Enfim, os órgãos têm que encontrar uma média, até por motivos de amparo e proteção.
Mas a vida nos mostra que o leque de variação se abre de A a Z com três determinantes muito fortes: saúde física, saúde psicológica e condição econômico-financeira. (*Por tão relevante, nem incluímos a questão espiritual, que se mostra pré-condição a todas as demais).
Variações – A saúde propriamente dita é basilar. Casos há de não a ter desde sempre; perde-la aos 30, tanto quanto mantê-la até à morte, seja aos 90, 95 ou 100 anos. A psicológica, da mesma forma. A chamada crise da meia idade, que aparece, ou não, geralmente na faixa de 40 a 60, pode ‘suscitar’ o idoso. E a questão econômico-financeira, que faz o cidadão ser independente, produtivo e ativo, com as rédeas de sua vida perante a família e sociedade – ou dependente, improdutivo e inativo, sem gozar do mesmo status-quo.
Verdade prática – Não focando nas excepcionalidades, via de regra é razoável o entendimento de que não se há de falar em ‘idoso’ aos 40, 50 ou 60; e tampouco em ‘jovem’ depois dos 80, 85 ou 90. Mas as circunstâncias é que irão preencher o vácuo de 20-30 anos observados entre os dois grupos de faixa etária acima mencionados.
Desconexo entre trajetória e idade
Quantificar o idoso na vida social é algo tão subjetivo e diversificado que trazer alguns poucos exemplos, de uma lista interminável, é mais revelador do que a mais fina das sintonias poderia definir.
+ Foi o idoso Winston Churchill, de 71 anos, na primeira metade do século passado (época em que se era “idoso” muito mais cedo do que hoje) que impediu o avanço do jovem Adolf Hitler, de 50 anos, que queria incendiar o mundo. O britânico ganhou tempo para que americanos e russos – estes, principalmente – terminassem a II Guerra.
+ Da guerra para os palcos... Quando é que Mick Jagger (73), vai deixar de ser a maior estrela do rock mundial e entrar na galeria dos idosos?
+ Dos palcos para a tela, Clint Eastwood (87), Christopher Plummer (87), Michael Caine (84) e Morgan Freeman (80) seguem fazendo cinema. E aqui, Fernanda Montenegro (87), Silvio Santos (86) e tantos e tantos outros nem falam em aposentadoria.
+ Barbosa Lima Sobrinho trabalhou até quase os 100 anos, morreu com 103. Oscar Niemeyer foi aos 104 e Evandro Lins e Silva, aos 88 anos, defendeu no Tribunal do Júri o líder do MST, José Rainha.
+ Só pra fechar (e, lógico, sem qualquer juízo de valor) o presidente Michel Temer, pertinho de completar 77, batalha 18 horas por dia, contra tudo e todos os áudios, para se manter no Planalto, paralelo às gafes na Rússia, encontro dos países ricos (G-20) na Alemanha e um pulinho ali na Argentina
por conta do Mercosul. Sem prejuízo, evidente, ao tempo dedicado à mulher, dona Marcela, de 34.
+ Falando em idoso, não estaria na hora de alguém dizer a Donald Trump (71) que ele está velho e ultrapassado?

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