Mais uma dose... de poesia!
16/06/2017 09:16 - Atualizado em 16/06/2017 09:16
O Muro
Hélio Coelho
Quando, num relacionamento de muita troca, paixão e carinho,
Começa a se manifestar uma espécie de perda da espontaneidade,
Um querer não querendo meio sem vontade, desfazimento do ninho
Como se tivesse surgido um muro com descargas elétricas repulsivas
Lá e cá impedindo o toque, a aproximação com leveza e naturalidade...
1. Pode ser macumba que mandaram fazer para afastar os dois;
2. Pode ser excesso de racionalização sobrepondo-se ao emocional;
3. Ou, convém conferir: pode estar vencido o prazo de validade...
Purificação
Hélio Coelho
I
Sacudir a poeira e a lama da estrada
Salvar o cavalo baio voador da queda
Resistir à farsa do teatro de máscaras...
II
Transformar o fundo do rio em base
Para a impulsão da batida de pés e braços
Até alcançar a outra margem... a salvação
III
Deitar-se ao sol e deixar lentamente
Limpar o bolor da memória esfacelada
Na peleno corpo todo e na alma....
Incompatibilidade
Hélio Coelho
Triste sina
A dessa menina
Chamada Lua...
Triste o destino
Desse menino
Que chamam Sol.
...................................
Por amor juntaram-se.
....................................
Passado um tempo
De encontros e encantos
O inexorável desencontro...
Ela brilha e rebrilha
A todos encanta
E não é de ninguém.
Com ele é assim também
Para todos vida luz calor
E não é de ninguém...
Um dia ouvindo um poeta
E depois de muito pensar
Resolveu dizer para ela:
- Sabe de uma coisa?
Foi de fato um erro
Juntar minh’alma à sua
O Sol... não pode viver
Perto da Lua!
.....................................
Escureceu-se mas antes
Lançou um raio na nuvem
Que passava para que ela
Aguasse a dor do amor...
Jejum
Hélio Coelho*
Há muito tempo
Não faço um poema de amor.
Não existe emoção,
Não há tensão,
Nem mesmo intenção.
Um grande e angustiante vazio.
Não existe razão
Para fazer um poema de amor
A partir do nada.
E tudo leva ao nada,
Com uma profundidade absurda.
Há muito não falo de amor
Como no outro poema.
Mas, qual é o cerne da poesia?
A carne, talvez...
Ou quem sabe?
A ossatura das palavras
Sem a gordura da carne.
.......................................
Antropofagicamente
Há muito não como
A carne da mulher amada.
Faz tempo que não a vejo
Me olhar com os olhos meus
Nem me sinto entrando nela
Guiado pelos olhos seus...
Vai ver... é por isso
Que há tempo não faço
Um poema de amor.
Pontal de Atafona
Pontal de Atafona/Folha da Manhã
Pontal, o rito...
Hélio Coelho
Enfim... o Pontal!
Dia lindo de céu azul
De um azul safira
Que igual não há...
Em total liberdade
No ritmo lento do rio
Sou cabrunco largado
Sinto que as dores
Tensões desamores
Vão se confundindo
E se dissolvendo
No balanço das águas
Lá no fundodo mar...
Rio mar Convivência
Sensação gozosa
Areia quente macia
Doce malemolência
Mormaço... e o sol
Que instiga a pele
E ilumina a vida!
Aí então o rito
Retiro os óculos escuros
E grito: é um absurdo
Proteger meus olhos
Dessa luminosa e rara
Beleza escancarada
Do Pontal de Atafona!
2001...3.11.2015
Para Mattoso, que em tão pouco tempo de vida, amou tanto o Pontal.

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