mudei e pronto
22/06/2017 22:12 - Atualizado em 22/06/2017 22:12
vamos trocar de lugar?
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Mudei e pronto
Cândida Albernaz
- Não estou entendendo.
- Como assim não está entendendo?
- Você não é deste jeito.
- Mudei.
- De uma hora para outra.
- Não, de um homem para outro.
- Isso não deveria influenciar sua maneira de ser. Pode ter mudado de companheiro, mas você é a mesma.
- Quem disse?
- Logo você que sempre teve um caráter forte.
- E ainda tenho. Por isso essa decisão.
- Não é assim que funciona. As pessoas não decidem ter uma nova personalidade de repente.
- E por que acha que foi dessa forma? Sempre fui certinha, compreensiva, amiga. De que adiantou? Tomei na cabeça.
- Você não tem certeza.
- Claro que tenho. Ele só chegava a casa as tantas, saía todo perfumado, trocou todas as cuecas por novas e ainda por cima começou a pintar o cabelo...
- Não significa nada.
- ... e isso eu não perdoo. Adorava os fios brancos, dava um ar mais sério para ele, de maturidade. Agora essa cor indefinida. Odiei.
- São muitos anos juntos. Sabe que ele quer voltar.
- Mas eu não. Agora que conheci o Tadeu, vou aproveitar.
- Tadeu. E de onde surgiu esse?
- Ele é feliz, para cima e depois tem outra coisa...
- O que?
- Não ronca.
- E desde quando se incomoda? Aposto que você também ronca.
- Não importa, não posso me escutar mesmo. E ele não reclamou de nada.
- Isso é só o começo.
- Pois vou aproveitar o começo, o meio e o fim. Quando acontecer, arranjo outro. Resolvi que quero viver relações sempre no início. Quando mudar para aquela pasmaceira, troco mais uma vez.
- Não podemos levar a vida dessa forma.
- Pelo menos não corro o risco de ser traída. No princípio é tanta paixão que ninguém tem olhos para o lado.
- Virou criança novamente.
- Virei sim e vou tirar proveito disso. Se não der certo, choro muito como sempre e quando cansar de chorar vou à luta.
- Desse jeito vai sofrer mais ainda.
- Mais ainda? Deus me livre! Acho que é impossível. Sabe com quem estava me traindo?
- Não...
- Com uma daquelas meninas que “recebem ajuda” para terminar o estudo. Em casa a maior dificuldade para soltar a grana.
- Isso foi diversão, coisa passageira.
- E daí? Se me pagasse, podia fazer igual, ou melhor do que ela. Por que não tentou? Quem sabe o dinheiro me dava um estímulo extra?
- Que louca. Você não pensa assim.
- E você acha que me conhece.
- Não acredito. O Tadeu paga a você?
- Nem precisa. Viu o corpo dele? O jeito que ele anda? E a pegada? Nossa! Só em lembrar...
- Já vi que esse papo não vai levar a nada mesmo. Seu ex quer conversar, está arrependido. Falou que não deveriam jogar fora o tempo que viveram juntos.
- Olha, em primeiro lugar, quem jogou fora não fui eu. Em segundo, detesto aquele cabelo pintado. Em terceiro, só volto para a cama com ele se me pagar. Em quarto, isso não vai acontecer tão cedo, porque minha cabeça e meu corpo pensam em aproveitar. Em quinto... veja quem chegou!
- Você vai mesmo continuar com esse cara?
- Olhe bem para ele e me diga você. Oi, estava te esperando. Conhece minha amiga?

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    Sobre o autor

    Candida Albernaz

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    Candida Albernaz escreve contos desde 2005, e com a necessidade de publicá-los nasceu o blog "Em cada canto um conto". Em 2012, iniciou com as "Frases nem tão soltas", que possuem um conceito mais pessoal. "Percebo ser infinita enquanto me tornando uma, duas ou muitas me transformo em cada personagem criado. Escrever me liberta".