Cresce mobilização em defesa de Atafona nas redes sociais
12/06/2017 17:01 - Atualizado em 12/06/2017 17:39
Desde o mês passado, mar atinge bar do Santana e chegou à localidade da Baixada
Desde o mês passado, mar atinge bar do Santana e chegou à localidade da Baixada / Foto: Paulo Pinheiro
O avanço do mar nos últimos dias em Atafona, litoral de São João da Barra, com a força das ondas chegando à localidade da Baixada é, infelizmente, um cenário trágico que sanjoanenses e visitantes se acostumaram durante décadas. E não é de hoje que a destruição é transformada até em atrativo turístico, já que muitas pessoas procuram a praia das águas douradas para conhecer a cidade que está sendo engolida pelo mar. Desta vez não seria diferente. Nas redes sociais, principalmente de sanjoanenses e campistas, a investida do oceano contra o continente foi assunto bem comentado, além de ganhar capa de jornal e matéria em rede nacional de televisão. Tudo como manda o script. Contudo, não é apenas a força das ondas que chama atenção neste momento em Atafona, mas o poder de mobilização crescente nas redes sociais em defesa do litoral e na briga para tirar do papel o projeto de contenção do mar e recuperação da orla. Além do “SOS Atafona” foi criado mais um grupo, o “Atafona não vai cair!”, que vai se reunir nesta quarta-feira (14), às 19h, na pousada Cassino, para tratar as iniciativas que serão traçadas na obtenção de apoio imediato para a trágica situação vivida no momento.
O movimento é apartidário. A intenção é buscar apoio em todas as esferas governamentais e também da iniciativa privada para captação de recursos suficientes para execução do projeto desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias (INPH). Tão ou mais difícil que conseguir todo dinheiro para obra nesse período de crise — crise essa criada, principalmente, pelo ranço da corrupção sistêmica de todo o país, em especial no Rio de Janeiro, que tanto dinheiro já recebeu de royalties do petróleo — é obter as licenças ambientais. Não tem como perder mais tempo. Enquanto não há dinheiro, é preciso que o poder público viabilize as licenças para a obra. No governo do ex-prefeito Neco (PMDB) chegou a ser anunciado que foi protocolado o pedido das liberações. Agora, é a vez do governo Carla Machado (PP) averiguar em que pé está isso junto aos órgãos competentes.
A Prumo Logística tem de fazer parte desse processo. Não tem como uma empresa desse porte, que causou tantos impactos, não contribuir com a recuperação da orla. Afinal, qual a compensação que a classe pesqueira recebeu, efetivamente, do Porto do Açu? O entreposto pesqueiro, que ainda nem foi concluído, teve seu projeto reduzido a uma extensão do mercado de peixe. Fizeram uma ou outra ação junto à comunidade para “inglês ver”. Eles fingem que cumpriram com suas obrigações (no papel, podem até ter cumprido, mas na prática não foi bem assim), a população finge que está tudo bem, não há fiscalização efetiva e o barco segue. Aliás, barco para seguir do Paraíba para alto mar continua ser um transtorno e o avanço do oceano criou novos bancos de areia na foz que dificultam, ainda mais, a vida dos pescadores. Cabe salientar que a pesca continua a ser uma importante atividade econômica do município, em especial do seu segundo distrito.
Atafona tem pressa! Não é o momento de discutir o que deixou de ser feito, quem deixou de fazer, mas de pensar em uma forma de trabalho unido — nas esferas federal, estadual e municipal — para que uma atitude seja tomada com urgência. Não dá mais para ficar inertes, observando como os turistas a força do mar e ajudando a amigos a recolherem seus pertences e iniciar novamente a vida, após mais uma derrota para o mar. Audácia seria querer competir com a força da natureza, caso não existissem exemplos de que a intervenção humana responsável pode ser eficaz — vide as cidades de Marataízes e Conceição da Barra, no litoral capixaba.
Somente a união do povo vai atingir os políticos e, [para os que, como eu, creem] abaixo de Deus, só eles têm a caneta e administram os recursos públicos necessários para a intervenção na orla. A força das redes sociais agora tem de ganhar forma, força de verdade, voz, chegar às ruas. Só assim poderemos salvar o que ainda resta da nossa amada Atafona.
Atualização às 17h39 — Repórter fotográfico da Folha da Manhã, Paulo Pinheiro fez novos registros do avanço do mar em Atafona nesta segunda-feira (12). Confira:

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    Arnaldo Neto

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