GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 2
02/05/2017 09:29
Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 02 de maio de 2017
(TRÊS MATEUSINHOS)
GUARDIÕES DA GALÁXIA VOL. 2
Modernidade comprimida
Edgar Vianna de Andrade
Em 37 anos, passa-se da fita cassete para a conquista da galáxia sem que se esqueça o passado. “Guardiões da galáxia vol. 2”, filme roteirizado dirigido por James Gunn (II), tem por base personagens criados por Stan Lee, responsável pelos heróis da Marvel. Os cinco integrantes do grupo de guardiões são típicos personagens de Lee: seres divididos, sem muitos escrúpulos, meio mercenários, mas quase unidos por laços de família. No caso de Peter Quill (Chis Pratt) e Gamora (Zoe Saldana), por um amor enrustido. “Implícito”, como ambos o tratam. O grupo é estranhamente constituído de um semideus, uma mulher com poderes sobre-humanos, um homem extremamente forte (Drax – Dave Bautista), um guaxinim superperigoso e um vegetal.
Em plena atividade mercenária, no espaço da galáxia, a ação é acompanhada de melodias anteriores a 1980, ano em que começa a história, executadas em long-play e em cassetes. Entre 1980 e 2017, etapas são queimadas. No curso de minha vida, percebi aceleração nas transformações nas décadas de 1960 e de 1990. Nunca algo como no filme. Assim, a modernidade se comprime, a ponto de, no curso de uma vida, partir-se de tecnologias hoje superadas para uma nova expansão territorial, agora não mais sobre oceanos, permitindo alcançar continentes, mas no plano espacial, permitindo alcançar a galáxia.
O filme tem um ambiente parecido com o de “Guerra nas estrelas”: povos diversos em contato, vigaristas, ladrões, assassinos, monarcas, sacerdotes... Foi assim por ocasião da expansão marítima. Ainda não deixou de ser um pouco assim, apesar da ocidentalização uniformizadora do mundo. E dinheiro, muito dinheiro a mover as ações de humanos e não humanos.
Não foram necessários mais de dois filmes da franquia para que aparecesse o pai do abandonado e sequestrado Peter Quill. Trata-se de Ego (Kurt Russell), novamente com desempenho excelente. Trabalhando quase ao longo do filme, ele rouba a cena, representando um personagem poderoso, extremamente ambicioso e ególatra. Ele se assemelha a muitos empresários e políticos da Terra. Um Napoleão, um Stalin, um Hitler, um Trump, um Eike Batista... Personagens bem típicos do ocidente moderno. Avança-se no tempo e no espaço, mas os padrões são os mesmos.
Nos seus 137 minutos, o filme cansa. Pelo menos, cansei-me das fórmulas surradas, dos resultados previsíveis, do humor fácil. Na verdade, trata-se de uma ficção científica cômica. Mas a crítica da grande imprensa o avaliou como muito bom e ótimo. Na minha avaliação, trata-se de um filme razoável. Assisti-o numa sessão apinhada de jovens e de adultos com espírito adolescente. Público de gosto e riso fáceis e de pouca exigência. Público que se contenta com pilotos automáticos que tornam secundários roteiro e direção. Efeitos especiais em profusão, sem qualquer preocupação e dosá-los. Quase ninguém hoje estranha tais filmes. O estranho sou eu. Daí uma avaliação menor que a corrente e maior que minha sensibilidade.

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    Aristides Soffiati

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