Garotinho e mais uma previsão furada
31/05/2017 20:13 - Atualizado em 01/06/2017 14:19
Além de acumular consecutivas derrotas nas urnas nos últimos anos, o ex-governador Anthony Garotinho (PR) tem se especializado em previsões furadas. Maio chega ao fim e não há nem sinal das novas eleições em Campos anunciadas em seu blog, e propagadas nas redes sociais por alguns de seus seguidores, para ocorrer neste mês. Garotinho citou duas situações: uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije) contra o prefeito Rafael Diniz (PPS), além da hipótese, não muito detalhada, de fraude eleitoral. Difícil é encontrar um político que não responda a nenhuma ação eleitoral, mas não tem sentido um membro do grupo denunciante querer antecipar a sentença e propagar que ela será ao seu favor, com o que parece ser intuito de tumultuar. Mais difícil ainda é entender qual seria a fraude no pleito, o que colocaria em xeque todo o sistema que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anuncia aprimorar ano após ano.
Fragilizado eleitoralmente desde de 2014 — quando não chegou ao segundo turno da disputa pelo governo do Rio e não conseguiu cumprir com o hoje prefeito da capital, Marcelo Crivella (PRB), a promessa de lhe dar a vitória em Campos —, Garotinho parece ter apostado todas as suas fichas em manter no comando do sua cidade natal alguém do grupo político que liderava. Mas as urnas lhe deram uma derrota em primeiro turno, em todas as zonas eleitorais.
Após assistir “a vaca ir para o brejo” onde já foi seu curral eleitoral, o ex-governador passou a disseminar a possibilidade de fraude no pleito, o que mais parece uma tentativa de contrapor o “escandaloso esquema” da troca de Cheque Cidadão por votos, como classificado pelo Ministério Público Eleitoral. Enquanto ainda não aceitava o resultado das urnas, acabou sendo preso, em novembro do ano passado (e liberado por decisão do TSE), como líder da “Chequinho”, caso do qual ainda responde a uma ação penal.
Na Justiça Eleitoral, tudo pode acontecer. Quem não se lembra das diferentes oportunidades em que a prefeita Rosinha Garotinho (PR) foi cassada e depois voltou ao cargo? Só saiu da Prefeitura mesmo ao término dos seus dois mandatos. Acreditar que uma decisão contrária ao seu adversário político será proferida é uma coisa, anunciar que o pleito será anulado e colocar prazo para isso, é outra totalmente diferente. Já não é nem mais uma previsão furada, é uma garotice, uma venda de ilusão.
Como nem tudo tem só um lado, há de se destacar que Garotinho tem razão em alguns argumentos neste caso. O primeiro é o de dizer que Rafael Diniz é “prefeito provisório”. Todo político deve entender que o mandato, realmente, é provisório, tem prazo para terminar. Depois, nas urnas, o povo escolhe quanto à continuidade ou alternância de um grupo no poder. Triste é quem não consegue compreender a mudança, acha que é dono do cargo. Garotinho também tem razão ao dizer que não está morto eleitoralmente. Apesar de toda fragilidade demonstrada nos últimos resultados, ele ainda tem gordura para entrar em disputas, caso sua situação com a Justiça esteja regularizada e tenha apoio de partidos.
Voltando a falar sobre o que aconteceria na planície até, “no máximo”, o fim de maio, na esdrúxula hipótese de fraude nas urnas, como chegou a ser propagado nas redes sociais por perfis que atuam com apoio declarado aos Garotinho, é até inocente acreditar em anulação. A principal Corte Eleitoral do país, que seria a responsável por convocar as tais novas eleições, admitiria que seu sistema é violável? Admitiria que todas as eleições nas urnas eletrônicas podem ser contestadas? Ou estiveram por aqui os melhores hackers, que nunca fraudaram eleições presidenciais, mas tiveram foco em acabar com as décadas do garotismo em Campos? Não parece surreal?
Fato é: a última previsão certeira, com direito a prazo, anunciada por Garotinho foi a prisão em flagrante (com liberação no mesmo dia, após pagamento de fiança) dos hoje prefeito e vice de São João da Barra, Carla Machado (PP) e Alexandre Rosa (PRB), às vésperas do pleito de 2012, na deflagração da operação Machadada. À época, estava à frente do caso o delegado Paulo Cassiano, então elogiado pelo ex-governador pela atuação. Cassiano hoje está nas investigações da Chequinho. Não recebe mais elogios de Garotinho. Pelo contrário, virou “inimigo”, “perseguidor”, membro de um complô para derrubar o dono das previsões furadas.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Arnaldo Neto

    [email protected]