Limpeza de canais não tem fim
Dora Paula Paes 14/04/2017 14:13 - Atualizado em 18/04/2017 13:01
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Faltam recursos por parte do município, do Estado e da União para obras necessárias. Em Campos, a superintendência de Agricultura e Pesca corre para não perder nenhuma oportunidade de usar contrapartidas ambientais, principalmente as oriundas da Prumo Logística, do Porto do Açu, em São João da Barra, para ações liberadas pelo Estado. Esses recursos destinados pela secretaria estadual de Ambiente (SEA) são para ações específicas, pré-determinadas, como ocorre com o trabalho de limpeza dos canais Coqueiros e Cambaíba, na área urbana do município. A questão envolvendo a limpeza de canais na região é demanda de mais de três mil produtores rurais, somente na Baixada Campista. O Comitê da Bacia do Paraíba aponta série de problemas, alguns bem urgentes, para que a água chegue aos produtores, demanda que já passou pela mesa dos três últimos prefeitos do município.
O superintendente de Agricultura e Pesca, Nildo Cardoso, diz conhecer todos os problemas existentes, mas, na falta de recurso, não pretende deixar a pasta paralisar. “Se tem verba de contrapartida, vou buscá-la para o município e tenho contado com a parceria do secretário de Estado e Ambiente, André Corrêa, sensível à problemática da região”, completa.
— Temos um levantamento de todos os problemas relacionados aos canais que cortam a região. O governo Rafael assumiu uma Prefeitura falida. O Governo do Estado não consegue nem pagar salários em dia nos últimos meses e espera por socorro da União. Então, as ações serão realizadas dentro da sua hora e do seu tempo. Sei da necessidade imediata da reforma das comportas do canal das Flechas, do canal São Bento e outros. Há dois anos foi feito pedido para a limpeza do Cambaíba e Coqueiros, mas houve bloqueio de recursos e, agora, conseguimos com o secretário André Corrêa essa contrapartida e o trabalho está sendo realizado. É bom esclarecer: qualquer ação nos canais não beneficia somente o município de Campos, mas também São João da Barra e Quissamã — destaca Nildo Cardoso, contando que Campos conseguirá investimentos para os canais Campos-Macaé e Ururaí.
Em ação — A limpeza dos dois canais está sendo realizada simultaneamente. “Os trabalhos já avançaram cerca de 300 metros no canal Cambaíba. No canal Coqueiros, estamos tirando diariamente 12 caminhões de vegetação. São três caminhões fazendo quatro viagens, totalizando 12 metros cúbicos de material”, informa o superintendente, ressaltando que todo material orgânico será utilizado como adubo para recuperação do solo. Este trabalho foi autorizado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). Nos dois pontos, tanto na avenida Alberto Lamego próximo à Uenf, como nas margens da BR 356, estrada que liga Campos a São João da Barra, já é possível ver a água. Antes do início da limpeza, só era possível ver a vegetação.
Segundo Nildo, a máquina que atua no canal Coqueiros está próxima ao bairro Matadouro. O próximo passo será seguir para o bairro Flamboyant e, em seguida, Jóquei e Penha. “O canal Coqueiros tem cerca de 40 quilômetros de extensão e passa pelos bairros Matadouro, Parque Califórnia, Vivendas do Coqueiro, Jóquei, Penha, Donana e Tocaia, na Baixada Campista. O canal Cambaíba tem 16 quilômetros, mas cinco quilômetros receberam limpeza recentemente”, explica Cardoso.
Os canais estavam muito assoreados e a limpeza vai garantir a desobstrução dos canais, permitindo que a água percorra seu fluxo normal. De acordo com o superintendente, a grande expectativa no momento é por chuva em virtude de o rio Paraíba do Sul estar com nível baixo. Na última segunda-feira, por exemplo, o nível do rio estava em 4,90 metros. “Neste momento, é importante fechar a comporta perto do Parque Prazeres para regular a entrada de água, evitando que volte para o Paraíba. Com a dragagem dos canais e o baixo nível do rio, a tendência é a água voltar”, ressalta o superintendente.
Milhões anunciados e demanda continua
Em 2010, a ex-prefeita Rosinha Garotinho chegou a garantir ter conseguido viabilizar protocolo de cooperação entre as instâncias estadual e federal, “que resultou na liberação de R$ 97,522 milhões para um macro projeto de drenagem, que compreende a recuperação da malha de canais da Baixada Campista, com ênfase no sistema São Bento e Lagoa de Cima”. No material distribuído pela assessoria da ex-prefeita, “os recursos foram obtidos através das reivindicações da prefeita junto ao ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, e ao governador Sérgio Cabral”. Sete anos depois, a malha do canal São Bento continua sendo uma demanda do Comitê do Baixo Paraíba e dos produtores rurais.
O deputado estadual João Peixoto protocolou na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) indicações legislativas, entre elas, uma reivindicação de limpeza de canais no Norte e Noroeste Fluminense. “O objetivo dessas indicações é a limpeza dos canais e a desobstrução para a passagem das águas que possam vir a cair, de modo a evitar transtornos para a população”, chegou a afirmar o parlamentar.
As indicações foram para limpeza do canal Medeiros, que corta Rio das Ostras e Casimiro de Abreu; limpeza no canal Campos-Macaé, sem especificar em qual área de toda a sua extensão; e limpeza no canal Boa Fortuna, em Itaperuna.
Comitê tem listagem de problemas
O presidente do Comitê do Baixo Paraíba, onde tem cadeira de instituições importantes ligadas ao setor rural de Campos, como Sindicato Rural e a Associação Fluminense dos Plantadores de Cana (Asflucam), João Gomes Siqueira, disse que tem acompanhado de perto os trabalhos de manutenção dos canais Cambaíba e Coqueiros.
— Sabemos da iniciativa do secretário André Corrêa, entendemos que toda e qualquer iniciativa é válida. São anos e mais anos de pedidos para ações efetivas e imediatas na malha de canais da região — diz.
Mas, João Gomes expõe que para o comitê existem intervenções e ações que, no entender do comitê, têm mais urgência. “O canal de São Bento é muito mais importante do que Cambaíba. Precisamos instalar a bomba no canal Cambaíba, que está pronta, através de convênio do comitê com a Asflucan, o Sindicato Rural e a concessionária Águas do Paraíba”, pleiteia.
— Estamos pedindo há três prefeitos de Campos e ao Governo do Estado manutenção na rede de canais. Pena que quando vem o serviço, vem sendo executado sem consultar o comitê. Temos um grupo de trabalho que fica 24 horas ativo, com canais abertos aos pescadores, Prefeitura, Defesa Civil, Inea, para solicitar e informar procedimentos. Esse trabalho veio de cima pra baixo, sem consulta ao comitê. Tem limpeza em área urbana, mas não tem previsão da área rural, onde os produtores mais precisam — conclui João Gomes, presidente do Comitê.

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