Folha Letras Outonais
20/04/2017 18:48 - Atualizado em 22/04/2017 13:34
Um dos mais antigos comerciantes de Campos dos Goytacazes, proprietário da tradicional Casa Fadul, desde 1946, Esperidião Fadul ocupava, desde o dia 21 de junho de 2002, a Cadeira 18 da Academia Campista de Letras, cujo patrono é João Batista Pereira. Foi diretor e conselheiro da ACL.
“Fui fabricado no Líbano, mas lançado no Brasil”, assim respondia quando lhe perguntavam sobre a sua nacionalidade. Ele nasceu em Belém do Pará. Anos depois a sua família mudou-se para Mimoso do Sul, no Espírito Santo e, adiante, veio para Campos (1942) que nessa época possuía dezesseis usinas açucareiras, uma fábrica de tecidos (Fábrica Campista Têxtil) e dois curtumes, além de um forte comércio, principalmente de cereais, “um verdadeiro celeiro que abastecia toda a região, com seus armazéns espalhados pelas ruas dos Andradas, 21 de Abril, Carlos de Lacerda, Aquidaban e Beira Rio”, assim descreveu na crônica “Campos de outras épocas”, publicada no jornal O Diário, em 03/03/2005.
Campos, assim era chamada antigamente, recebeu o belenense que se transformou em campista, tamanho o amor que cultivou pelo seu novo chão. Tanto que recebeu o título de Cidadão Campista, concedido pela Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes em 03/ 05/1999. Também foi agraciado com o Diploma a Ordem do Mérito Benta Pereira, em 1999.
Participando ativamente da vida socioeconômica da cidade, além da cultural, foi um dos fundadores do Parque Jockey Club de Campos (1952). Além disso foi um dos fundadores do Rotary Club Campos-Goytacazes, sendo eleito o seu primeiro presidente. Foi Diretor da Fundação Rural de Campos no período 1983/1986, Diretor da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Conselheiro da Associação Comercial e Industrial de Campos, Membro do Conselho Diretor do Patronato São José. Foi sócio remido do Clube de Regatas Saldanha da Gama e do Touring Club do Brasil. Sócio do Jockey Club de Campos, do Grussaí Praia Club, do Iatch Club de Campos e do Automóvel Club Fluminense. Foi participante efetivo do Clube do Choro & Cia.
Fadul gostava de escrever nas horas vagas. Após completar sessenta e cinco anos passou a escrever com uma certa regularidade e, posteriormente, publicou as suas crônicas nos diversos jornais de Campos dos Goytacazes, no jornal Palavrarte e na revista da Academia Campista de Letras. Ele escrevia sempre, registrando o que via e observava no cotidiano das pessoas, nas ruas, nas conversas e coisas do Boulevard, nas instituições, nos mais diversos lugares. As lembranças também eram registradas nas suas crônicas e muitas delas levavam o leitor a uma reflexão. “Os meus textos carregam um estilo bem nostálgico. [...] Estas minhas folhas Outonais têm por finalidade externar sentimentos e registrar observações e fatos vivenciados ao longo da vida e, só agora, com disponibilidade de tempo, tento passar a meus filhos, netos, genros e amigos, dedilhando, já com as mãos trêmulas, minha velha máquina de escrever”, disse em entrevistas.
As suas crônicas foram reunidas no livro Outonais, lançado na Academia Campista de Letras, em 2005 pela editora da ACL, com uma singular dedicatória: À minha querida esposa Sayer, companheira de todas as horas. Em 2006, na 4ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes houve o relançamento do seu livro.
Em 2007 Sayer e Fadul completaram 50 anos de casados. O casal comemorou com uma missa, na presença dos filhos, netos, genros, nora e amigos. Interessante, segundo o poeta Vilmar Rangel, foi como o escritor e a sua amada iniciaram o compromisso um com o outro, seguindo a tradição libanesa: o pai indica o amigo para se casar com a filha. Esperidião viu Sayer nascer, crescer e chegar à idade do casamento.
Deus está sempre presente nos escritos do cronista. A sua espiritualidade é, visivelmente, demonstrada numa oração, quase uma súplica.
Senhor,
DAI-ME humildade para lidar com os meus semelhantes.
INTELIGÊNCIA para compreender e bem interpretar a VOSSA CRIAÇÃO.
TORNAI-ME útil aos meus irmãos, para que não tenha vivido em vão.
AFASTAI de mim todos os pensamentos negativos e que a minha presença irradie coragem, consolo e alegria aos que me cercam.
Que o VOSSO AMOR transborde do meu coração e se espraie por todos os seres.
FAZEI vislumbrar-me o encaminhamento e o bem-estar dos que me sucederem.
IMPREGNAI o espírito de harmonia, compreensão e amor nos corações dos homens, para que a paz perdure por todo o sempre.
Assim Vos é rogado.
Prece
Diz ele numa crônica:
Ao meditar sobre a fúria de um vendaval, a precipitação de um temporal e a erupção de um vulcão, percebo a força dos elementos e quão frágil me sinto diante deles. Quando me concentro na grandeza do oceano e contemplo a sua vastidão, sua volumosa massa líquida, sua profundeza acidentada em relevos dos mais variados e abissais, crescem e se desenvolvem, convenço-me da minha insignificância.
[...]
Quem criou o mistério da mente humana com seus milhões e milhões de neurônios que me fazem raciocinar, analisar, diferenciar e extasiar com tantas belezas e grandezas do mundo de que pouco ou quase nada sabemos desfrutar?
“Deus! Oh Deus! Onde estás que não respondes!”. Justamente porque todos sabemos que ele é Ele o Criador de tudo isso!
Meditação
Mais uma ironia ou coincidência na vida de Esperidião Fadul: O seu pai morreu aos 91 anos, em Campos dos Goytacazes. O mesmo aconteceu com ele.
Finalizo com o poema Recordações que foi retratado pela artista plástica Lis, mostrado na Exposição Coletiva “Arte com Poesia”, na Fundação Cultural Jornalista Osvaldo Lima, em agosto de 2007, apesar do protesto tímido e elegante do poeta Fadul, ao receber o meu convite para participar deste projeto, dizendo não se reconhecer poeta, mas prosador.
Quero o silêncio do prado,
onde possa reviver,
um saudoso passado
d’um lindo alvorecer!
Assim levando a vida,
a lembrar do que foi bom
e da trilha percorrida,
cantando em alto som.
Que belos eram os dias
repletos de alegrias
e que não voltam jamais.
Vivi cantarolando,
o tempo foi passando
e hoje, não canto mais.
Recordaçõe s. Esperidião Fadul

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