A caixa d água
07/04/2017 12:05 - Atualizado em 07/04/2017 12:06
Toda caixa d’água tem várias funções. Acumular água, decantar os resíduos, resguardar um “líquido precioso” para alimentar a vida e assim por diante! Por isso precisa periodicamente de uma “faxina”. Pois toda água tem resíduos e com a decantação, os resíduos vão se acumulando e na maioria das vezes se agrupam formando uma lama, fazendo com que a caixa d’água tenha outro fundo, que não o seu, límpido, próprio para o armazenamento do líquido precioso. Como nos diz Guilherme Arantes em sua canção Planeta Água... “Água que nasce na fonte serena do mundo e que abre um profundo grotão, água que faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão, águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao sertão, águas que banham aldeias e matam a sede da população. Águas que caem das pedras no véu das cascatas, ronco de trovão e depois dormem tranqüilas no leito dos lagos...”
E conosco acontece o mesmo... Vamos acumulando, guardando sentimentos, angústias, coisas mal resolvidas, resíduos... Este tempo de Quaresma vem nos lembrar dessa faxina em nossa caixa d’água...
Uma faxina que deve ser periódica, mas que “neste tempo” tem uma dimensão ainda maior. Repensar as nossas atitudes, nosso agir, nossos sentimentos e nossa espiritualidade. Trazer de volta a transparência e a limpidez de nossa “água interior”... É dela que nossa alma se alimenta! De que serve acumular angustias? Desentendimentos? E para isso, temos o perdão! O perdão acima de tudo é uma aceitação de nossas falhas e das falhas dos outros... mas é uma nova chance que damos a nós mesmos de tirar as mágoas, as tristezas, os desencantos e decepções de nossa “caixa d’água” para que sejamos livres e cristalinos no viver!
Assim como a água que é fonte de vida e alimento, podemos gerar vida não somente em quem conosco convive, mas principalmente dentro de nós.
E então poderíamos dar um telefonema, ou como nos dias de hoje, linkar com o wathsApp, porque fazemos isso com todo mundo e nos esquecemos D’Ele... me lembrei de um trecho da música... “Alô meu Deus fazia tanto tempo que eu não mais te procurava. Alô meu Deus, senti saudades tuas e acabei voltando aqui. Andei por mil caminhos e, como as andorinhas, eu vim fazer meu ninho em tua casa e repousar. Embora eu me afastasse e andasse desligado, meu coração cansado, resolveu voltar. Eu não me acostumei, nas terras onde andei...”
E nesta reflexão podemos repensar como estamos levando a vida... Se lavamos as mãos como Pilates, se temos a caridade de Verônica, que mesmo não podendo mudar o rumo da história, enxugou o rosto de Jesus, numa prova viva de cuidado, solidariedade e força...
Nos conta uma lenda que um velho Mestre pediu a uma jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal num copo d'água e bebesse. -"Qual é o gosto?" - perguntou o Mestre. -"Ruim" - disse a aprendiz. O Mestre sorriu e pediu à jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago. Os dois caminharam em silêncio e a jovem jogou o sal no lago. Então o velho disse: -"Beba um pouco dessa água". Enquanto a água escorria do queixo da jovem, o Mestre perguntou: -"Qual é o gosto?" -"Bom!" disse a jovem. -"Você sente o gosto do sal?" perguntou o Mestre. -"Não", disse a jovem. O Mestre então disse: - "A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido de tudo o que está a sua volta. É dar mais valor ao que você tem do que ao que você perdeu. Então, quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido das coisas. Deixar de ser um copo. Tornar-se um lago”.
Como nos diz Madre Teresa de Calcutá... “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.” E de gota em gota, de persistência árdua, juntos, podemos formar um oceano... Não queremos nada pela metade...
Talvez a urgência da água possa nos abrir os olhos para a mudança... Mudança de comportamento contra o desperdício, mudança de valores desta sociedade tão consumista... Vamos começar dentro da nossa casa... Não deixemos chegar “na gota d’água”...
Voltando ao período da Quaresma... refletimos que Quaresma é deserto, perdão, encontro, luz, saúde, libertação, triunfo, transfiguração e também água... É a passagem da sede da nossa insatisfação para a água viva, como a água de Moisés ao povo de Israel no deserto ou como a água que Jesus ofertou a mulher samaritana. Quaresma é o esforço para retirar o fermento velho e incorporar o novo. Que possamos então viver com intensidade este momento, nos recolhendo interiormente na oração, no silêncio, na faxina da nossa alma com água límpida e cristalina, fazendo com que esta nossa “passagem” que é o significado da Páscoa, seja efetivamente plena e renovadora. E então, iremos limpando nossa “caixa d’água”...
Com afeto,
Beth Landim

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