Desdobramentos da Carne Fraca na política e comércio
21/03/2017 13:02 - Atualizado em 22/03/2017 14:21
Temer em churrascaria
Os desdobramentos da operação Carne Fraca, deflagrada na última sexta-feira (17) pela Polícia Federal, ainda causa impactos em todo país e também nas relações com o comércio exterior. Portaria do ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento exonerou de cargos comissionados os superintendentes federais de agricultura, pecuária e abastecimento do Paraná, Gil Bueno de Magalhães; e de Goiás, Júlio César Carneiro. Na sexta, depois que a PF deflagrou a Carne Fraca, o governo anunciou o afastamento de 33 servidores suspeitos de envolvimento nas irregularidades. No domingo, o presidente Michel Temer (PMDB) a anunciar mais rigor na fiscalização dos frigoríficos brasileiros, na presença de ministros de estado e cerca de 40 representantes de países importadores de carne brasileira.
A operação da Polícia Federal denunciou um esquema criminoso envolvendo empresários do agronegócio e fiscais agropecuários que facilitavam a emissão de certificados sanitários para alimentos inadequados para o consumo. De acordo com a PF, frigoríficos envolvidos nesse esquema criminoso “maquiavam” carnes vencidas e as reembalavam para conseguir vendê-las. As empresas subornavam fiscais do ministério para que autorizassem a comercialização do produto sem a devida fiscalização.
Segundo a PF, o esquema envolvia servidores das superintendências regionais do ministério da Agricultura nos estados do Paraná, Minas Gerais e Goiás. Os investigadores informaram que eles atuavam diretamente para proteger grupos de empresários em detrimento do interesse público. A PF ainda apontou um esquema que beneficiaria o PMDB e o PP, mas os partidos negam qualquer ilicitude. Um telefonema entre o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, e o ex-superintendente do ministério da Agricultura no Paraná Daniel Gonçalves Filho — um dos investigados pela corporação — foi interceptado durante as investigações. A PF, no entanto, informou que não identificou ação criminosa por parte de Serraglio, que à época do telefonema era deputado federal.
O caso levou o presidente Michel Temer a anunciar, nesse domingo, mais rigor na fiscalização dos frigoríficos brasileiros e a determinar celeridade nas auditorias a serem feitas nos estabelecimentos envolvidos no esquema. Segundo o presidente, em reunião com embaixadores de cerca de 40 países, os problemas são pontuais: “é importante sublinhar que dos 11 mil funcionário do ministério da Agricultura, apenas 33 estão sendo investigados e das 4.837 unidades sujeitas a inspeção federal, apenas 21 estão supostamente envolvidas em irregularidades”, disse o presidente. 
Restrições a carnes do BR no exterior
Pelo menos quatro países já impuseram algum tipo de barreira a produtos brasileiros após a Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal na sexta-feira passada. Terceiro maior importador de carne bovina do Brasil e um dos principais consumidores de frangos do país, o Egito suspendeu temporariamente a compra de frango e outras carnes do Brasil, enquanto não receber resposta da embaixada brasileira a questões feitas pelas autoridades. A China determinou a suspensão temporária de importação de carne brasileira e a Coreia do Sul anunciou que vai banir temporariamente as importações de frango do grupo BRF. O Chile também decidiu pelo encerramento temporário de suas importações de carne do Brasil. Já a Comissão Europeia pediu ao Brasil que não permita a exportação de carnes para a Europa de frigoríficos citados nas investigações.
O ministro da Agricultura do Chile, Carlos Furchem, anunciou, pelo Twitter, a suspensão temporária. “O fechamento do mercado brasileiro de carne é temporário, até que eles informem se há frigoríficos autorizados a exportar para o Chile”.
O ministério da Coreia do Sul afirmou que fornecedores brasileiros de carne de frango terão que enviar um certificado de saúde emitido pelo governo brasileiro. Mais de 80% das 107.400 toneladas de frango importadas pela Coreia do Sul no ano passado foram originárias do Brasil, sendo quase metade fornecida pela BRF.
Ao menos 30 países e a UE receberam produtos dos 21 frigoríficos investigados pela operação, segundo o ministério da Agricultura. O ministro Blairo Maggi afirmou que, caso esses mercados resolvam embargar a carne brasileira, o resultado seria “um desastre” e disse que torce para que os países não suspendam as exportações.
— A China é um grande importador nosso, a comunidade europeia, além de ser o nosso segundo ponto de exportação é também o nosso cartão de visitas. Eu torço, eu rezo, eu penso, eu trabalho para que isso não venha a acontecer — disse Maggi.
Ele confirmou que já recebeu comunicados da China, União Europeia, Egito e Chile pedindo explicações.
O ministro disse que vai intervir com mais força nas superintendências do ministério da Agricultura no Paraná e em Goiás. Os superintendentes já foram exonerados e novos nomes irão assumir.

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