A evolução das princesas
24/01/2017 10:15 - Atualizado em 24/01/2017 10:15
Folha da Manhã, Campos dos Goytacazes, 24 de janeiro de 2017
(QUATRO MATEUSINHOS)
A evolução das princesas
Moana – um mar de aventuras
Edgar Vianna de Andrade
“Branca de Neve” foi a primeira animação longa de Walt Disney. Data de 1937. Ela inaugurou a primeira fase das princesas, sempre inspiradas nos contos de fada de autores românticos, como os irmãos Grimm, Charles Perrault e Andersen. Neles, sempre há uma linda princesa amada pelos pais, mas detestada pela madrasta e perseguida por bruxas. O sonho delas é casar-se com um príncipe encantado e viverem felizes para sempre.
A Disney deu continuidade a esse modelo de princesa com “Cinderela”, “Bela Adormecida”, “A pequena sereia”, “A bela e a fera”. Neste último, a princesa já começa a adquirir mais vida própria, gostando de leitura, mas acaba vivendo um grande amor com a fera retornando à condição de príncipe. Claro que se procurava fidelidade em relação aos autores românticos, que retiraram desses contos o caráter violento e erótico. Mesmo com essa fidelidade, as animações retratavam a época em que foram produzidas.
Mais recentemente, as princesas ganharam corpo feminino até mesmo voluptuoso e expressam a mulher emancipada pela revolução sexual. Rapunzel procura a sua história e se casa com um ladrão regenerado. Tiana, em “A princesa e o sapo”, é negra e sonha em ter seu próprio restaurante. No final, ela realiza seu sonho e se casa com um príncipe negro playboy. Mulan luta ao lado de homens. Pocahontas defende seu povo e se casa com um inglês.
Desse modelo, destoa Merida, de “Valente”, que não aceita as normas do seu tempo e se recusa a casar. Agora também “Moana”, uma princesa polinésia que, contrariando ordens do pai, sai à procura de um talismã para salvar seu povo, sem a intenção de encontrar um marido.
Um traço interessante das animações mais recentes da Disney é valorizar tradições distintas da ocidental, mas de também promover com elas uma pasteurização, ao traduzir cada cultura nos termos da nossa. Talvez seja uma tentativa de tornar as animações palatáveis nos Estados Unidos e na China, já que vivemos num mundo globalizado, queira Trump ou não.
Tecnicamente, as animações da Disney também se tornaram pouco criativas. Mudam as culturas e os personagens, mas a maneira de desenhar é sempre a mesma, sobretudo quando computadorizadas. Atualmente, quase todas o são. Houve ganhos e perdas com a computadorização. O desenho artesanal permitia voos altos, como bem mostram as animações de Hayao Miyazaki. A computação tende a padronizar. Em “Moara”, dirigido por John Musker, o diretor parece dispensável. A propaganda levou-nos a crer que haveria um salto em termos de inovação. Digno de registro, creio que apenas as tatuagens animadas no corpo de Maui, semideus polinésio.

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    Aristides Soffiati

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