Um nome, um verbo
paulavigneron 04/09/2016 20:48
[caption id="attachment_47" align="aligncenter" width="453"]O atual presidente do Brasil, Michel Temer (foto: UOL) O atual presidente do Brasil, Michel Temer (foto: UOL)[/caption]   Vozes, histórias, opiniões em todos os cantos. Por trechos de ruas, o barulho de ansiedade demonstra o medo do momento. Balbúrdias. As pessoas caminham como se não soubessem exatamente para onde seguem. Nas mesas dos bares, em que assuntos como futebol, carros, relacionamentos e, por vezes, religião dominavam os bate-bocas, há notável mudança. Homens e mulheres, de todas as idades, conversam, concordam e discordam sobre o que está sendo feito de nós, sem que precisemos dormir como pedra. A cada dia que passa, os noticiários despejam sobre leitores, ouvintes e telespectadores mais e mais fatos relacionados ao novo momento político pelo qual passa o Brasil após a saída de Dilma Rousseff e a consequente posse de Michel Temer: possibilidades relacionadas ao fim do sistema de ensino gratuito, mudanças nas leis trabalhistas, na Previdência Social e nos programas sociais. Até o papa Francisco demonstrou preocupação com o atual momento do Brasil, caracterizando-o como triste. Os efeitos começam a ser sentidos pela população. No bar, o garçom atende, educadamente, os clientes que ocupam uma parte do espaço quase no final do expediente de um sábado à noite. Cansado, o homem oferece o cardápio, anota atenciosamente os pedidos e vaga pelo espaço à procura de novas mesas que ainda não foram atendidas. No final da noite, ele é novamente chamado. Desta vez, para trazer a conta. O valor, dividido entre os três presentes, não foi o mais absurdo. Mesmo assim, entre comentários, eles brincam: - Para você, deu só R$ 2.100. Barato – diverte-se o garçom. - Não faça isso. Nem brinque. Não tenho nem condições de pagar isso, moço – respondeu uma das clientes. - Ah, mas não se preocupe. Tem um monte de pratos ali que precisam ser lavados – e todos riram antes de um pedido de desculpas verdadeiramente envergonhado. Após o pagamento, o garçom compartilha um pouco de sua vida com os amigos: ele está fora de sua área de origem – Segurança do Trabalho – há meses e tem trabalhado na função para poder custear as despesas. - As contas não param de chegar. Esses dias, de manhã, chegou o rapaz dos Correios com elas. E a gente tem que pagar. Estou há mais de seis semanas sem saber o que é descanso. Trabalho como garçom nos finais de semana e estou começando um estacionamento no Centro, mas está fraco – contou. O homem, cujo nome não foi citado, é o retrato do Brasil atual; do medo das mudanças e da instabilidade; da necessidade de buscar outros meios de sustentação e manter em dia todas as contas; da falta de oportunidades, mesmo para aqueles que conseguiram diploma – papel que, antes, dava certa garantia a quem o tinha –; do não saber se amanhã será um novo dia.   https://www.youtube.com/watch?v=BLAEK2xRoWA

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