A guerra da imprensa
paulavigneron 02/09/2016 16:05
[caption id="attachment_40" align="aligncenter" width="516"]Sérgio Fotógrafo Sérgio Andrade foi atingido em manifestação (foto: reprodução/ RBA)[/caption]   Uma das mais enganadoras percepções sobre o jornalismo está relacionada à ideia de que a profissão é uma etapa de um processo de celebrização. A forma errônea de idealização permeia a cabeça de jovens interessados na área – e até mesmo a de estudantes da graduação. Só o cotidiano de ruas e redações, que levam o jornalista a passar por diferentes experiências durante o exercício de sua função, é capaz de conscientizar e alertar sobre a importância da comunicação e a necessidade de vê-la de modo menos romantizado; de compreendê-la como um mecanismo para manter em funcionamento todas as instâncias da sociedade. É necessário, portanto, conhecer e entender os percalços pelos quais passam o profissional da imprensa para colher e compartilhar as principais informações do dia com os consumidores de notícias. Necessário até mesmo para avaliar e opinar sobre sua forma de atuar perante a sociedade. Durante as “Jornadas de Junho”, em 2013, quando cobria uma manifestação do Movimento do Passe Livre (pela gratuidade do transporte público), em São Paulo, um fotógrafo foi atingido por uma bala de borracha, disparada por um policial militar. Sérgio Andrade da Silva ficou cego devido ao impacto do objeto. Sua história resultou no livro “Memória ocular”, de Tadeu Breda. Depois de mais de três anos, na segunda metade de agosto, a Justiça considerou “improcedente o pedido de indenização por danos morais e materiais” porque Sérgio “colocou-se em situação de risco, assumindo, com isso, as possíveis consequências do que pudesse acontecer”.  O caso foi comentado, na última segunda-feira (29), pela colunista Vanessa Barbara, de O Estado de São Paulo. Com a sorte de ter sido atingido “apenas” por uma bala de borracha, Sérgio não entrou para as estatísticas dos que perdem a vida no exercício do jornalismo. Somente em 2015, mais de 100 jornalistas foram mortos – enquanto trabalhavam e em outras circunstâncias. Coberturas de guerra de naturezas diversas e manifestações são algumas das principais pautas relacionadas aos casos fatais. No ano passado, o Brasil ocupava o 5º lugar no ranking dos países considerados mais perigosos para os profissionais. Embora os dados comprovem que o profissional lida, diariamente, com situações de risco, nem sempre é possível esperar que a justiça seja feita. E, conforme Vanessa Barbara sentencia o caso de Sérgio, “a culpa agora é do jornalista, que errou na hora de escolher a profissão”. E a sentença será válida para todos os que atuam na imprensa se não houver mudanças de posicionamento e atitude.

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