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ILUSÕES PERDIDAS*
Poema de
SERGIO VAZ
Finja-se de morto,
ainda que os ventos lhe soprem
o frescor da vida.
Pois há amigos à sua volta
que mesmo absorto
não toleram
um corpo cheio de alegria
e a saúde dos teus olhos
que tem cloro até nas lágrimas
filtra mágoas passadas
e esta tua insustentável leveza
pode deixar muita gente ferida.
Pareça mais fraco
do que realmente é,
nas savanas ou nos quintais
porque para lutar com os búfalos
as Hienas se tornam amigas dos Chacais
os abutres voam ao seu redor
enquanto os corvos se passam por pardais
fingindo emprestar asas pra te salvar.
E os vermes
sem garras pra lutar
sorriem ao teu lado
como um unicórnio alado
rastejam pelo chão
procurando a fraqueza
do teu calcanhar.
Não exiba talento
Nem cante antes da festa,
tem parceiro que enquanto
dança com os teus sapatos
estão de olho no seu caminhar.
A inveja
-esse vão da alma-
tem sede
e é nesta taça que vão te brindar.
Regue teu jardim
sem exaltar a primavera
tem amigas carregados de pétalas na cara
mas o peito cheio de espinhos,
e sem que percebas
a Semente de hera
gruda na tua pele
e furta tuas flores
espanta tuas borboletas
e como erva daninha
mistura-se ao teus amores
e farta-se da tua colheita.
Não despreze
as pessoas que não sabem ler
e as que não podem ter.
O simples é um luxo
que poucos podem
ostentar e ser.
Pois quando te furtarem a merenda
há de sentir falta delas na escola.
Porque há os camaradas inteligentes
que escondem a faca entre os dentes
que diplomados na calúnia
uivam quando parecem miar
e alfabetizados na cartilha do poder
apagam tuas palavras
reescreve tuas ideias
até você não ter mais o que falar.
Não conte teus sonhos
para os colegas com os pés
fincados na realidade.
Aquilo que te ilumina,
esse brilho da rua
que surge quando você sua,
pode levar a escuridão aos covardes
e é um grande pesadelo,
ter um satélite desses na órbita da tua lua.
Sorria primeiro e só diga depois
porque tem companheiro que fica triste
quando o riso não da para os dois
e se a felicidade bate à sua porta
o escrúpulo dele pula a janela
e a tristeza, ainda que morta,
com falso abraço ele tempera
e te serve no prato
as sobras da pantera.
Arrote derrota
mesmo diante da vitória
porque tem aliados
que não sabem perder
Nem ganhar
e como um fantasma no vestiário
assombra tua glória
suja tua medalha
justamente onde
você o ensinou a jogar.
Não creia em nada
além das tuas orações
porque diante dos teus joelhos
tem irmãos que rogam perdão,
pedem conselhos
e bajulam teus milagres,
mas como um Judas
na face de Jesus,
beijam tua face,
enxugam tuas lágrimas
murcham tua arruda
e deixa mais pesada a tua cruz.
Tem amigos que morrem vivos,
são queimados enquanto te queimam,
é a regra do adultério.
Creme-os, mas não o enterre
e não lhe dê as costas
(eles sabem usar facas ).
Jogue as cinzas longe do teu paraíso,
saiba esperar, ter critério,
o tempo é o senhor de todas as respostas
esses cadáveres só te assombram
se teu coração virar cemitério.
*Do livro "Flores de Alvenaria" Global Editora