O homem que viu o 11/09 do 11º andar
Alexandre Bastos 11/09/2016 14:36

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O fotógrafo Alcir Navarro da Silva, 56 anos, que nasceu em Padre Miguel, subúrbio do Rio de Janeiro, e vive há 35 anos em NY, acordou no dia 11 de setembro de 2001, olhou pela janela do 11º andar, e viu uma fumaça que até hoje deixa o mundo meio sombrio. Em entrevista ao seu sobrinho, o jornalista Rafael Vargas, ele fala sobre o dia em que a terra parou para ver a maior potência do mundo ser atacada. “Vi um filme de terror pela janela da minha casa”, diz o fotógrafo, deixando evidente as marcas do atentado. “No dia seguinte, cada vez que escutava algum barulho de sirene, um certo pânico batia em mim e pensava ser outro ataque terrorista. Esta sensação durou meses e, até hoje, sinto um pouco disso”, contou Alcir.

Blog - O que você estava fazendo no momento em que os aviões bateram nas torres?

Alcir - Eu estava acordando naquela terça-feira, era dia de Eleição. Eu já estava me encaminhando para votar no meu candidato pra prefeito de NY, e depois, ia fazer fotos das pessoas votando. Parecia ser um dia legal, mas tudo mudou quando o telefone tocou de manhã. Era a minha namorada falando que o prédio World Trade Center estava pegando fogo. Assustado, me levantei e fui olhar na janela da minha casa, vi uma das torres pegando fogo. De pronto, peguei a minha câmera e comecei a fotografar. De fato, ninguém sabia ao certo o que tinha acontecido, muito menos a imprensa. Eu achava que talvez fosse um acidente avião, que o avião tinha batido no prédio. Mas, quando o segundo avião atingiu a segunda torre, me liguei que era um atentado.

Blog - Como foi vivenciar cenas de um dos maiores horrores já visto neste século?

Alcir - Parece que eu estava vendo um filme de terror, só que o estava assistindo da janela da minha casa. Quando descobriram que era ataque terrorista e que havia mais aviões no ar na rota do Pentágono e de outros alvos, o meu sentimento foi de tristeza pelas pessoas que perderam a vida naquele instante. No dia seguinte, cada vez que escutava algum barulho de sirene, um certo pânico batia em mim e pensava ser outro ataque terrorista. Esta sensação durou meses e, até hoje, sinto um pouco disso.

Blog - O que você sentiu ao fazer as imagens?

Alcir - A câmera fotográfica me protegeu dos sentimentos e funcionou com um escudo. Eu sabia que estava presenciando um momento importante na história. Nunca imaginei na minha vida que iria ver, algum dia, as duas torres caírem. Foi um choque pra todo mundo.

Blog - Após 10 anos, qual o seu sentimento ao rever as fotos que você fez? O que você pensa sobre as coisas que aconteceram após o atentado, como guerra do Iraque, Afeganistão, sentimento de ódio?

Alcir - Quando vejo minhas fotos ainda fico chocado com que vi. Não apenas pelos prédios caindo em chamas, mas pelos milhares de cidadãos iam trabalhar lá todos os dias. Depois, veio a guerra para pegar os terroristas. Seres humanos continuam a morrer, sejam militares ou civis, e esta guerra ao terror continua como se o horror do dia 11 de setembro nunca tivesse um fim.

Blog - Qual é a reflexão que fica em sua mente dez anos depois deste episódio? Fale como um brasileiro radicado em NY e responda o que representa esta data pra você.

Alcir - O numero 11 está sempre presente pra mim. Moro no décimo primeiro andar e o 11 de Setembro 2001, na minha opinião, foi o dia em que a inocência acabou. Depois deste dia, tudo é possível de acontecer. Eu tenho mais tempo morando no Estados Unidos do que eu tenho morando no Brasil. Estou aqui desde 1981, tenho cidadania americana e sou correspondente da Veja em NY. Quando vou no Ground Zero ou vejo na TV os americanos relembrando esta tragédia, é triste. Esse ataque destruiu muitas vidas e sonhos de homens e mulheres de inúmeras nacionalidade… Gente de New York.

Confira as fotos do Alcir Navarro no dia do atentado:

attack no wtc attack no wtc   attack on wtc   dia the terror - world trade center A entrevista foi publicada pelo blog em 2011, 10 anos após o ataque. Mas como o arquivo foi perdido, republico hoje, 15 anos depois do atentado. 

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