?Acabar com a política do ódio?
26/08/2016 09:08

Arnaldo Neto, Suzy Monteiro, Aluysio Abreu Barbosa e Alexandre Bastos
Foto: Michelle Richa

O vereador Rafael Diniz (PPS), candidato à Prefeitura de Campos, acredita que o município precisa de uma administração “transformadora” a partir de 2017. Neto do ex-prefeito Zezé Barbosa, tenta encerrar o ciclo de um grupo político que está no poder há 27 anos, desde que Anthony Garotinho (PR) venceu os candidatos apoiados pelo seu avô. Atribui a Garotinho a instauração da “política do ódio” no município. Sobre os concorrentes, firma compromisso com a oposição para o segundo turno, independente de quem nele esteja. Já sobre o nome governista, Dr. Chicão (PR), diz que “quem não conseguiu gerir a Saúde”, não pode administrar a cidade. Rafael se mostrou incomodado com o fato de ser classificado como um político de “grupo fechado”. Diniz criticou o governo Rosinha (PR). Considera que não é uma gestão transparente e quebrou a cidade. Se eleito, assegura: “O primeiro passo, o marco zero do nosso governo, será uma auditoria responsável”.

Folha da Manhã – Apesar de aparecer entre os primeiros colocados nas pesquisas desde o ano passado, você não conseguiu montar um grande arco de alianças em torno da sua candidatura. Além do PPS, apenas Rede e PV estão ao seu lado. O que faltou para transformar o bom desempenho nas pesquisas em alianças para a disputa eleitoral?
Rafael Diniz – Desde o início eu sabia que teríamos essa dificuldade, exatamente por conta do nosso jeito de fazer política. O que eu garantia para as pessoas era o seguinte: o PPS vai me dar a vaga, o PPS vai me garantir essa vaga. E essa foi a nossa primeira luta. Quantas pessoas tentaram, por várias vezes, não permitir que o PPS nos garantisse essa vaga. E eu dizia para as pessoas: pode ter certeza que esse é um compromisso do partido, um compromisso do deputado Comte Bittencourt. Mas sabíamos que as dificuldades iram existir. Até porque, pelo que a gente defende, muitas vezes não é o que outros podem acabar defendendo. E isso dificulta um pouco essa formação de aliança. Eu dizia: não sei quantos partidos estarão com a gente, mas eu serei candidato, ainda que fosse só com o PPS. E felizmente, dois outros partidos que defendem o que a gente defende, não apenas no processo eleitoral, mas durante o meu mandato de vereador. O Rede, através do vereador Marcão, que é um grande companheiro de Câmara, e o PV na presidência do companheiro Gustavo Matheus, que também há muito tempo vem defendendo. A gente já sabia que haveria dificuldade, mas deixar claro que pela maturidade política, pela necessidade de diálogo, sempre procurei todas as forças de oposição para dialogar. Por mais que tenhamos nossas diferenças, temos que dialogar. É lógico que com o governo eu debato política na Câmara e não converso política partidária. Mas com a oposição sempre dialoguei. O que eu esperava, de certa forma aconteceu. Ficaram juntos o que acreditam em uma forma diferente de se fazer política. Não só na questão da administração, mas também política eleitoral diferente.

Folha – Você falou em debates, mas, agora, pouca gente vai ver os debates com o governo na Câmara (as sessões não serão transmitidas pela TV, nem pela internet)?
Rafael – Esse governo nunca foi transparente. A Câmara também, por mais que o presidente goste de dizer que é.

Folha – Você enxerga uma subserviência de Edson Batista?
Rafael – A Câmara de Edson ou a Câmara com Edson subserviente ao governo?

Folha – Essa última atitude, especificamente.
Rafael – Completamente, completamente. Por vezes eu citei que a Câmara mais parecia um puxadinho do Cesec, ao invés de um poder Legislativo. Mas eu digo para as pessoas o seguinte: o poder legislativo tem que trabalhar de forma harmônica com o poder Executivo, mas de forma independente. Nós temos que entender que somos um poder constituído. Nós somos representantes da população. Então nós temos que entender que a nossa independência tem que prevalecer. Coisa que infelizmente não prevaleceu nesses anos que estou como vereador. As sessões da Câmara não serão transmitidas ao vivo. Como assim? As sessões são públicas. Por que não transmitir para as pessoas? Mas estamos lá, pelo menos cumprindo o meu papel. E só vai ver quem estiver lá. Da última vez eram 15 nos assistindo lá na plateia.

Folha – Nos últimos anos a chamada “pedra” não conseguiu fazer a diferença na eleição. Tanto em 2008 como em 2012 o grupo garotista teve grande força nas áreas mais populares e o voto da “pedra” não fez a diferença. Como você analisa o fato de ser conhecido como um “candidato da pedra”. Isso basta para vencer?
Rafael – Podemos até ser conhecidos como “candidato da pedra”, exatamente porque a força eleitoral que demonstramos na nossa primeira eleição, que foi a eleição de vereador, nas duas Zonas da pedra, fomos o mais votado. E na terceira Zona, que também é considerada agora como pedra, a 249, não fomos o mais votado, mas um dos mais votados. E por isso acredito que tenham criado essa imagem de candidato da pedra. Mas quem me conhece sabe que, não apenas no período eleitoral, mas durante o meu mandato de vereador, sempre estive em todas as localidades de Campos. Em todos os bairros, sempre me apresentando, me colocando à disposição das pessoas. A imagem depende daquilo que criam pra você e daquilo que pega, ou não. Posso ser da pedra para alguns, mas sou morador de Guarus. E Guarus não é pedra. Moro, vivo Guarus diariamente, desde que nasci.

Folha – Mas a imagem pegou?
Rafael – De que eu sou da pedra? De certa forma no início pegou, mas hoje já vejo diferente. Estamos andando por todas as partes e as pessoas reconhecem que não estou indo lá pedir voto, mas que sempre estive lá durante o meu mandato.

Folha – Na política, principalmente na disputa pelo Executivo, não há espaço para a ingenuidade. Você acha que foi ingênuo na articulação pré-eleitoral?
Rafael – Não fui ingênuo, fui eu. Quem me conhece sabe que vou para toda discussão com peito aberto, de coração aberto. Não finjo aquilo que não sou. Sou isso aí. Sou um cara que não consegue te enganar, um cara que olha no seu olho. Sou um cara que assume compromisso e vou até o final com a minha palavra dada.

Folha – Alguém não foi até o final com a palavra dada a você?
Rafael – Não vou dizer que não foi. Mas acho que na minha cabeça algumas cosias estavam certas e não aconteceram.

Folha – Gil Vianna, por exemplo?
Rafael – É, achei que estivesse certo, mas não aconteceu. Mas tenho maturidade suficiente, mesmo com meus 33 anos, para entender que o processo político é esse. Ele tem o direito de fazer a opção dele. Eu procuro sempre manter as relações pessoais afastadas das políticas. Não vou deixar de ser amigo de Gil ou de tratar bem só por conta da escolha dele ou da escolha de qualquer outro colega vereador. E os próprios da bancada governista podem confirmar isso, como os trato. Até porque isso é uma coisa que tenho colocado muito para as pessoas. Quem instituiu a política do ódio em Campos foi um senhor chamado Anthony Garotinho. Nós temos que entender que lá atrás, vou lembrar do meu saudoso avô, o ex-prefeito Zezé Barbosa, e do meu querido e também honrado prefeito Rockfeller de Lima, quando eles, entre aspas, gosto de firmar isso, se atacavam, Zezé Barbosa falava que Rockfeller dormia até tarde e Rock dizia que Zezé Barbosa dormia de tarde. Era assim na época deles. Mas Garotinho veio instituindo a política do ódio. Atacando a honra das pessoas, atacando a família das pessoas. Nós temos que debater política, nós temos que debater ideias, propostas para Campos. E essa é uma proposta que quero fazer para a toda a população e também para os candidatos. Vamos discutir política, ideias, e vamos respeitar a vida pessoal de cada um. Vamos respeitar as escolhas de cada um, a família de cada um. Se quero respeito para a minha família, tenho que respeitar a família do outro. Quem instituiu o ódio foi Garotinho e temos que acabar com isso.

Folha – Caso seja eleito, você pode encontrar uma Câmara com muitos vereadores garotistas. Como seria essa relação?
Rafael – Vou fazer o que sempre fiz: dialogar. Por isso que não posso ser visto como ingênuo. O que é ser ingênuo? É ser transparente? Ingenuidade é falar a verdade? É cumprir com a palavra? Se for, eu quero ser para sempre um cara ingênuo. Vou chamar os vereadores para o debate. Antes de mais nada, acho que eles vão querer manter o capital político deles. Eu vou garantir isso não para eles, mas efetivando as políticas públicas que precisam ser realizadas nas localidades que eles têm potencial de voto. Eu vou realizar para aquele vereador, realizando para a comunidade dele. Vou chamar pra perto e falar que eu não quero ser o dono de Campos, nem quero mandar em você. Eu quero que você venha discordar, debater, concordar. O que você precisa para o seu bairro, sua localidade? Eu vejo muitos colegas vereadores que, por mais que defendem uma bandeira partidária e grupo político, vão querer ajudar as localidades. Quem dá o voto não é o cara que se acha dono deles.

Folha – Já tem um grupo que pula no dia seguinte, se você se eleger prefeito?
Rafael – Não vou dizer que pula no dia seguinte. Mas tenho certeza que vários vereadores eleitos vão perceber que terão um prefeito com quem poderão dialogar e vão se sentir livre para atuar enquanto parlamentares. Essa sensação de liberdade eles querem e vão ter.

Folha – Você teria uma reeleição praticamente assegurada como vereador. Por que insistiu na candidatura a prefeito?
Rafael – Hoje eu li uma entrevista do meu querido amigo, vereador Nildo Cardoso, candidato a prefeito, que ele disse que já sou candidato há três anos. Decidi pela minha candidatura, que no momento era pré-candidatura, ano passado. Há três anos as pessoas querem que eu seja prefeito. Mas a decisão foi no ano passado, porque antes de mais nada eu tenho compromisso com o meu mandato de vereador. Por isso não fui candidato a deputado estadual em 2014. Não vou dizer que eu estaria com a reeleição garantida, até porque, só quem vive o mandato sabe: reeleição é mais difícil. Obviamente que seria menos difícil ganhar para vereador do que para prefeito. Mas eu sou um cara movido a desafios. E, durante meu mandato, vi nossos projetos, meu e dos meus colegas de oposição, ficarem engavetados. E falei que teríamos que construir uma candidatura para realizar aquilo que defendemos e sonhamos na Câmara. Mas não foi decisão só minha. Tomamos em conjunto com os colegas vereadores Fred Machado e Marcão.

Folha – Muitos possíveis vices de sua chapa foram especulados. Gil (PSB), Alexandre Tadeu (PRB), Nildo (DEM) e até a sua mãe, Beatriz Barbosa – com direito a ata de convenção registrada com o nome dela –, chegaram a ser citados antes de Conceição Santana (PPS), nome sem expressão política partidária. Essa é grande fragilidade?
Rafael – De forma alguma. Essa é a pura demonstração de que dialoguei com todos da oposição. Por isso posso defender o diálogo na minha futura gestão, se Deus quiser. E a escolha da Conceição é muito acertada e, com muito orgulho, é uma escolha minha. Nosso slogan é “Campos vai ser diferente”. E acho que escolhemos uma vice que demonstra exatamente isso. Uma vice experiente, com 61 anos, uma história de vida linda, uma assistente social, que é um dos grandes problemas de nossa cidade. E Conceição defende muito bem. Não vamos fazer assistencialismo, vamos fazer assistência social. Vamos estender as mãos às pessoas para ajudar a melhorar sua condição de vida. É por isso que minha escolha pela Conceição, acredito eu, foi muito acertada. Uma coisa que tem me dado alegria é quando paro em um local e o que ouvi sempre era “vou votar em você por causa de seu pai”, “vou votar por causa de seu avô”, “vou votar por causa de seu mandato”. E tenho escutado: “Vou votar em você por causa de Conceição”. Sem falar no trabalho belíssimo que ela sempre realizou no Asilo do Carmo.

Folha – Uma crítica feita por Nildo Cardoso, Arnaldo Vianna, que não é candidato, mas está apoiando Geraldo Pudim, e até de Dr. Chicão, é a falta de experiência administrativa dos mais jovens. Como você vê isso?
Rafael – Primeiro ponto: A experiência de dois ex-governadores quebrou nossa cidade. A experiência de um vice-prefeito que foi secretário de Saúde colocou nossa saúde na UTI. Que tipo de experiência será que seria necessária para administrar essa cidade? Experiência em roubar? Não tenho e nem quero. Experiência em perseguir as pessoas? Não tenho, nem quero ter. Experiência em torrar o dinheiro público de forma desnecessária? Não tenho, nem quero ter. Experiência em não ser transparente com nossos atos? Não tenho, nem quero ter. Acho que venho, ao longo dos anos, me preparando, estudando para ocupar esse espaço como candidato a prefeito de Campos. Quero dizer que, pessoalmente, venho me preparando porque nasci nesse meio. Desde os meus 15 anos faço parte do processo partidário, eu vivo eleições. Acho que, tanto no campo pessoal quanto no campo político, venho me preparando para isso. Mais que isso, não quero ser o dono dessa cidade, que ser o prefeito dessa cidade. Venho formando, há muito tempo, uma equipe que vai me ajudar a governar. Vamos colocar pessoas na Saúde que entendem de saúde. Na Educação, que entendem de educação, no Transporte, que entendem de transporte. Minha experiência, e tenho demonstrado, é lidar com isso tudo para poder enfrentar e eleger as prioridades e poder administrar com responsabilidade. E acredito sim ter condições plenas de poder exercer a função de prefeito a partir do ano que vem. Experiência pode ser um pouco relativo nesse momento. Que tipo de experiência a gente quer?

Folha – Você falou que vai colocar profissionais em suas áreas para administrar. Pudim disse que, com ele, acaba a indicação política para administradores de postos de saúde e diretores de escolas. E com você?
Rafael – Mais que dizer, posso provar.

Folha – Então seu compromisso é o mesmo?
Rafael – O mesmo. E vou dizer por quê: uma das minhas emendas à nova Lei Orgânica do município foi essa. Que diretores de postos de saúde sejam pessoas altamente qualificadas, capacitadas para aquilo. E mais: Existe um projeto meu, engavetado até hoje na Câmara, que é para garantir eleição direta para diretores de escolas. Quero que vereadores, políticos, participem, possam visitar escolas e postos de saúde. Mas jamais mandarem. Quem manda em escolas e postos de saúde é a comunidade onde se encontra aquele posto de saúde, aquela escola. São projetos meus. O projeto do posto de saúde foi colocado e negado e das escolas está engavetado.

Folha – Você tem uma mídia online muito forte. Muitas vezes, a rede social não se reverte em fatos concretos. Um dos poucos casos positivos foi o de Barack Obama, presidente dos EUA. Você tem receio de ser apenas um candidato virtual?
Rafael – Com todo respeito ao presidente Obama, se ele pode, eu posso. We can. Nós podemos. Antes de ser virtual, sou presente nas vidas das pessoas. Hoje estou tendo um problema muito grande que é meu celular. Não sei qual vereador fez isso, mas meu celular, que falo com minha esposa, minha avó e minha mãe, qualquer cidadão pode falar. Está lá no site da Câmara: 998928428. Sempre atendi todas as ligações, respondo WhatsApp. Isso para você entender como sou presente na vida das pessoas. As pessoas sabem onde moro. Sou aquele cara que está sempre presente na Câmara, fui um vereador que só faltou quatro vezes às sessões e digo porque faltei e, mais que isso, estou visitando cada canto da cidade. Então, antes de ser virtual, sou presente. O que estou fazendo é o que Obama fez lá atrás. Entender que este é o caminho de agora e do futuro. Não posso deixar de aproveitar uma oportunidade. Como vocês movimentam o jornal hoje? Pelos blogs de vocês. Então, também tenho que acompanhar a evolução. Nosso tempo de TV. Pelas nossas alianças realizadas, tenho que aproveitar o espaço onde as pessoas estão. Hoje alcançamos 14 mil pessoas na nossa rede. E a aceitação está sendo muito grande. Existe um programa de governo nosso que é “Campos, eu curto, eu cuido”. As pessoas vão poder acompanhar pasta por pasta, projeto por projeto, quanto que está gastando, quanto que está investindo, para poder opinar, dando sua sugestão e apontando os erros.

Folha – Seu histórico familiar na política é de perfis bem distintos. O seu avô Zezé Barbosa, prefeito por três vezes, e seu pai, Sérgio Diniz, que foi deputado e vereador. E o perfil do Rafael, é mais parecido com o do pai ou do avô?
Rafael – O Rafael Diniz é o Rafael Diniz. Sou neto, com muito orgulho, de Zezé Barbosa. Sou filho, com muito orgulho, de Sérgio Diniz. Vou pegar tudo de bom que Zezé Barbosa fez, tudo de bom que Sérgio Diniz fez e vou trazer para nossa futura administração. Mas sou Rafael. Quero me apresentar enquanto vereador de mandato reconhecido pela população. Quero me apresentar como um cara que se prepara para uma gestão inovadora, que vai cuidar dessa cidade com muita responsabilidade. Com transparência, de forma moderna e criativa, eficiência. Obviamente que preciso de uma coisa muito importante de Zezé, que é pagar em dia o prestador de serviço, o fornecedor. Preciso ter os valores da ética que Sérgio Diniz sempre defendeu. Não vender meus valores e princípios. Não negociar minha alma, como a gente diz muito no linguajar político. E de certa forma fui muito preparado sem querer. Sem saber que estava sendo preparado para aquilo. Sérgio Diniz e Zezé Barbosa tiveram suas diferenças políticas. Mas sempre foram amigos. Genro e sogro, pai e filho. Sérgio Diniz sempre sentou ao lado de Zezé Barbosa à mesa e do outro lado estava dona Zaíra, minha amada avó. Um ano eles foram candidatos a deputado federal juntos. Sabem o que eles faziam todo domingo? Esqueciam suas candidaturas e almoçavam juntos com a família. Nunca deixamos a política atrapalhar nosso espaço.

Folha – Você muitas vezes é criticado por ser um político com um grupo fechado. Este foi suficiente para elegê-lo vereador. Será também para prefeito? Sobretudo, será o suficiente para governar a cidade?
Rafael – Eu discordo quando falam que eu tenho um grupo fechado. Não vejo candidato mais próximo das pessoas e aberto para dialogar e conversar. Qualquer pessoa pode vir debater com a gente. Nós temos um grupo com figuras novas nesse processo. Se você for olhar quem coordena nossas campanhas, dificilmente você vai ver alguém que estava em outras campanhas lá atrás. Isso não significa ser fechado. Figuras novas estão no processo. Mas todas elas, figuras novas e de antes, vão ser e são bem vindas ao nosso processo. Nós não temos um grupo fechado. Nós estamos formando uma equipe há muito tempo e quem quiser pode se juntar a nós. E com relação à administração, nós precisamos de todas as pessoas de bem para administrar essa cidade. Quem quiser vir dar sua opinião, por favor, seja bem-vindo. Quem me conhece sabe que eu sou aberto diálogo. Não sei quem defende isso, mas, por favor, quem defender isso, que venha ver que isso realmente isso não acontece. Nossa candidatura é feita por pessoas que estão se aproximando cada vez mais.

Folha – É a primeira vez, em 27 anos de domínio político ininterrupto de um grupo, que esse grupo lança uma chapa só da pedra. Sempre equilibrado entre pedra e periferia, já quis lançar uma chapa periferia pura em 2004 e 2006, na suplementar, e perdeu. Esse ineditismo, com uma chapa da pedra, e mesmo dizendo que não é da pedra, você admitiu que é visto como se fosse, acredita que seja um reflexo, um temor que se tem da alternativa que você representa?
Rafael – Pode ser. Mas como eu nunca fiz parte desse grupo, não sei exatamente o que eles pensam. Nem sei como eles pensam. Obviamente, se você for fazer uma análise de fora, que é a única análise que a gente pode fazer, é realmente diferente de tudo que eles fizeram até hoje. Estão se fortalecendo no espaço onde a gente também é forte. Pode ser, mas eu não sei. Eu estou com foco, ao invés de, em questão de estratégia estar sempre olhando nossos adversários. O que me trouxe aqui até hoje, foi o que nós construímos. O nosso grupo aberto construiu. Não posso ficar esperando o que o adversário vai fazer para poder agir. Estou agindo. Não sou um cara de esperar o mundo vir até a mim. Eu vou ao mundo. Tanto eu vou até o mundo, que eu cheguei onde eu estou. Eu acho que a maior fortaleza nossa, e a maior demonstração de fortaleza nossa, foi quando todos tentaram de certa forma minar a nossa candidatura e também as alianças: nós nos mantivemos de pé. De pé, liderando as pesquisas e com uma aceitação maravilhosa na rua. É muito bom caminhar na rua e você não precisar bater palmas para as pessoas virem até a porta, mas as pessoas estarem na porta te esperando. Isso é muito legal.

Folha – Em 1989, Garotinho, com 29 anos, derrotou seu avô, Zezé Barbosa, que era considerado naquela época mais ou menos o que Garotinho é hoje. Zezé chegou a ser chamado pelo Jornal do Brasil de “o rei do Norte”. Seria destino que um jovem neto de Zezé agora ameace a continuidade do garotismo 27 anos depois?
Rafael – Obviamente que é um folclore político, muitas pessoas se apegam a isso. Mas eu, Rafael, não me apego a isso. Eu não estou aqui para derrotar o Garotinho. Estou aqui para transformar Campos. Garotinho, se Deus quiser, um dia vai ser uma página virada nesta cidade. Sim, estou trabalhando muito para isso acontecer: para o Rafael Diniz, junto com o esse grupo aberto dele, ganhar essa eleição. Não é para derrotar o Garotinho, obviamente que vai estar escrito na história que o neto de Zezé Barbosa...

Folha – Não falei Garotinho, falei garotismo. Quando você fala que precisa mudar a política de ódio, você já falou algumas vezes que precisa mudar algumas coisas e usou o garotismo como referência.
Rafael – Eu não estou preocupado em derrotar o garotismo. É uma necessidade por que é o garotismo que está na administração da nossa cidade hoje. Está há 27 anos nisso. O meu objetivo, quero deixar claro para as pessoas, não é derrotar o garotismo. É transformar essa cidade, o que obviamente passa por tirar esse grupo do poder. Mas o objetivo principal não é derrotar por derrotar, é transformar essa cidade. Não me apego a esse revanchismo. Muitos podem se apegar, o próprio destino escreve, mas não é isso que eu quero me apegar. Eu quero transformar essa cidade. E para transformar eu tenho que passar por esse momento. Passo com tranquilidade, como sempre venho enfrentando durante o meu mandato.

Folha – Você não acha que mais do que folclórico parece ser coisa do destino?
Rafael – Mais do que destino, com a fé que eu tenho, toda uma história traz a gente até aqui. Meu pai seria o candidato em 2012, meu pai veio a falecer. Seis meses antes, nossa outra liderança, estou falando politicamente, Zezé Barbosa, tinha falecido. Eu sempre sonhei ser candidato um dia. Nunca sonhei ser candidato a vereador. Sempre sonhei ser candidato a prefeito, mas o destino me trouxe até. Se for obra do destino, espero que ele continue me ajudando.

Folha – Na eleição a governador, de 2014, você deu apoio integral a candidatura de Pezão (PMDB). O partido do governador acabou lançando Geraldo Pudim. Foi buscar no grupo de Garotinho um expoente para lançar a prefeito. Você se sente traído ou desprestigiado? O apoio de Pezão e do governo desgastado, hoje com Dornelles, tira ou dá voto?
Rafael – Não me sinto desprestigiado de forma nenhuma. Nem traído. É o processo político. Eu digo para as pessoas que a minha força não está nos partidos, está na rua. Do contrário não estaria liderando as pesquisas. Nós temos que ter maturidade. Não sou aquele cara de ficar se vitimando, sofrendo, “estou sendo perseguido”. Muito pelo contrário. Eu quero enfrentar. Estou disposto a ir pra luta. E com relação ao apoio do governador, eu acho que todo apoio de pessoas de bem é bem vindo. Obviamente que o Estado passa por uma dificuldade.

Folha – Pezão é uma pessoa de bem?
Rafael – Pezão é uma pessoa de bem. Inclusive, minha relação com ele hoje é até muito respeitosa pela história e pelo momento que ele vem passando. Mas isso eu não abro mão de dizer: Pezão é uma pessoa do bem.

Folha – Jorge Picciani foi quem levou Pudim para o PMDB. Ele é uma pessoa de bem?
Rafael – Nunca tive relação com Picciani. Não posso falar da pessoa.

Folha – E o apoio do Governo do Estado, tira ou dá voto?
Rafael – O Governo está desgastado. Especialmente com relação ao servidor. A falta de pagamento em dia do servidor estadual é um absurdo. E eu combati isso na Câmara. O fato de eu ter apoiado Pezão nunca me impediu de fazer as críticas que tenho de fazer. Na Uenf posso dizer que fui o vereador mais presente, através do mandato do deputado estadual Comte Bittencourt (PPS). O problema do Estado que pode refletir no apoio negativo ou positivo para qualquer candidato, não é um problema causado agora. É um problema lá de trás, que tem o dedo da senhora Rosinha Garotinho e do senhor Garotinho.

Folha – Pudim falou que, se eleito, Arnaldo Vianna será o que quiser no governo. Você tem o apoio do ex-prefeito Sérgio Mendes. Caso eleito, Sérgio será o que quiser no seu governo?
Rafael – Não sou aquele tipo de político que só utiliza a imagem das pessoas como convier. Sérgio é um amigo querido, um grande presidente, que sempre me garantiu autonomia. Já deixou claro que não tem intenção e não vai participar do nosso governo e isso não vai acontecer. Mas é importante dizer que nós temos que respeitar todas as pessoas que estão ao nosso lado e nos dando força nesse processo. O interessante é que eu li a entrevista do deputado Pudim e ele diz: “eu tiro foto com o Arnaldo, quero ver o Rafael Diniz tirar foto com Sérgio Mendes”. Sérgio estava sentado ao meu lado na minha convenção. Agora, ele também vai tomar vários cafés com o Sérgio Mendes. E ele tem alguma coisa para fala mal? Eu não tenho, muito pelo contrário. Não uso as pessoas apenas como me convier. Ele que esteve ao lado do Garotinho, ao lado do Arnaldo. E mais, ele sempre dependeu do Garotinho. E pelo visto, agora está dependendo do Arnaldo. Sérgio reconheceu um erro do ‘Muda Campos’ lá atrás, e hoje ele entende a gente como candidatura e alternativa para transformar essa cidade.

Folha – Você falou sobre um rombo nas contas do governo. Você acha que Rosinha quebrou a cidade?
Rafael – Quebrou a cidade. No nosso mandato de vereador, sempre busquei informações com relação à transparência, e nesse caso específico, sobre a saúde financeira do município, nossos pedidos de informação foram todos negados. Por vezes fui à Justiça buscar informações. Esse governo recorreu para não ser transparente. Um município que pega empréstimo, demonstra dificuldade financeira. Só que tem o outro lado. A gente vê tanto dinheiro sendo desperdiçado, que eu vejo uma alternativa: reaproveitando esse dinheiro, dando prioridade, colocando naquilo que realmente precisa ser colocado. Dou exemplos básicos. Os recursos do Fundeb são muito mal aplicados, deveriam ser revestidos para os nossos profissionais da Educação – este é um ponto. Foram R$ 40 milhões em materiais didáticos que poderiam ser gratuitos, enviados pelo Governo Federal. O Cepop de R$ 100 milhões. O primeiro passo, o marco zero do nosso governo, será uma auditoria responsável. Não vai ter revanchismo, não vai ter caça às bruxas, não vai ter perseguição. Vai ser uma auditoria para marcarmos o início da nossa administração. E mais que isso: eu não quero uma auditoria só nesse desgoverno que aí está, quero uma auditoria permanente no nosso governo. Ser transparente permanentemente. Se eu exijo e cobro transparência, eu tenho que ser o primeiro a demonstrar a intenção de ser transparente para as pessoas.

Folha – Antes de você, Pudim e Nildo reafirmaram o compromisso com a oposição no segundo turno, quer eles estejam, quer não estejam. Rogério Matoso não. Se bastou em falar que ele vai estar. Qual o seu compromisso com a oposição?
Rafael – Sou oposição não só agora, nesse período eleitoral. Nunca votei e nunca apoiei o grupo do Garotinho. Sempre fui oposição. Eu tenho, e tenho sentido na rua, uma certeza de estarmos no segundo turno. Mas, como eu digo, e essa frase é minha: eleição é trabalho; voto é na urna. Só as urnas vão poder dizer o que realmente vai acontecer. Uma coisa eu garanto: quem for verdadeiramente de oposição, vai estar ao lado de quem quer que seja da oposição no segundo turno. Isso deve ser um compromisso de todo candidato. Todos da oposição têm o meu respeito. Se eu tenho o direito de ser candidato, todos têm. Se você me perguntar qual candidatura eu questiono, eu questiono a do vice-prefeito Dr. Chicão. Por que, simplesmente, se ele não soube gerir a Saúde, como vai gerir Saúde, Educação, Transporte, Saneamento? Essa é a grande questão. E digo mais: eu não posso ficar dizendo se fulano é ou não preparado. Eu tenho que mostrar que eu estou muito preparado para ser prefeito de Campos. E quem tem que dizer isso, na verdade, é a população. Todo candidato que for verdadeiramente de oposição tem que estar junto no segundo turno.

Folha – Quando você fala em ser verdadeiramente da oposição, há desconfiança de um jogo duplo, uma linha auxiliar ao governo.
Rafael – Não tenho desconfiança. Acho que cada um vem mostrando e vai ter que mostrar.

Folha – Brizola que dizia, costeando pelo alambrado.
Rafael – Eu nunca costeei o alambrado. Eu sempre enfrentei o alambrado para olhar no olho do meu adversário político. Nunca ofendi ninguém, mas sempre debati política em alto nível. Vocês nunca me viram, e nunca vão me ver, desrespeitando a pessoa da prefeita Rosinha. Nem conheço a pessoa dela. Respeito ela, como quero respeito para minha mãe. Agora, nunca costeei alambrado. Sempre olhei para o outro lado do alambrado marcando minha posição.

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