Pudim garante oposição até o fim
23/08/2016 10:08

Suzy Monteiro, Aluysio Abreu Barbosa, Alexandre Bastos e Arnaldo Neto
Foto: Michelle Richa 

Candidato a prefeito de Campos, o deputado estadual Geraldo Pudim (PMDB) tem um desafio a mais: fazer com que as pessoas acreditem que ele realmente rompeu com o grupo de Anthony Garotinho, onde esteve por 30 anos. Para sua campanha, ganhou um aliado de peso, o ex-prefeito Arnaldo Vianna (PMDB), com quem rompeu nos anos 2000. Mostrando o adesivo no peito com a foto dele e de Arnaldo, fala que o médico será o que quiser em seu governo. Com a mesma convicção afirma que, caso não chegue ao segundo turno, estará no palanque do candidato de oposição. Disse, também, que vereador em sua gestão não indicará administrador de posto de saúde nem diretor de escola. E acrescenta: se for eleito, não fará transição. “Entro na Prefeitura com a Polícia Federal, Tribunal de Contas, Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal e a população. Vou fazer uma auditoria nas contas e contratos da Prefeitura”.

Folha da Manhã — O PMDB não vive um bom momento no estado do Rio, tendo em vista o desgaste do governo Pezão, o governo Cabral, que terminou mal avaliado. Acredita que isso poderá prejudicar o seu desempenho em Campos?
Geraldo Pudim — Absolutamente. O fato de o Governo do Estado estar, momentaneamente, passando por dificuldades, não significa que nós devemos ter, como acontece hoje na política pública municipal, um isolamento. Evidentemente que devemos ter uma política de relacionamento não só com o Governo do Estado, como também com o Governo Federal, ao contrário do que acontece hoje com o Estado. O município do Rio de Janeiro, também administrado pelo meu partido, com o prefeito Eduardo Paes, é o melhor avaliado em todo país. Então, a questão do Governo do Estado, são políticas públicas voltadas ao Estado. Sou candidato a prefeito.

Folha — Dos seis candidatos à Prefeitura de Campos você é o único que já disputou o cargo, em 2004 e 2006. Nos dois pleitos você largou na frente e perdeu no segundo turno. Quais são os aprendizados que você leva para a eleição deste ano?
Pudim — A disputa de 2004 foi uma disputa muito acirrada, em que a cidade viveu um momento muito conturbado. Uma disputa pesada, onde eu fui candidato, primeiro em uma disputa interna, com sete pré-candidatos concorrendo. Quando a gente começou o processo eleitoral, percebi que as pessoas vieram com a cabeça, mas não vieram com o corpo. Houve um desgaste muito grande na pré-campanha. Evidentemente, nesse retorno ao PMDB, não houve disputa interna. Acho que esse aprendizado foi muito importante. Durante o período de pré-campanha, em que você disputa para tentar ser o candidato, ele traz benefícios e malefícios. No meu caso, em 2004, os malefícios foram maiores que os benefícios. Hoje, a situação é completamente diferente. Estou em um partido forte, um partido pujante, que me deu essa condição de não haver disputa interna, o que me possibilitou me preparar mais ainda para eleição.

Folha — Poderoso em todo o Brasil, o PMDB não conseguiu montar um arco de alianças em torno da sua candidatura em Campos. Além disso, você conta apenas com a nominata do partido na disputa por cadeiras na Câmara. A falta de um “exército” atrapalha muito?
Pudim — Não, absolutamente. É óbvio que o PMDB, eleitoralmente, é um partido competitivo, o maior do país, é um partido que tem tempo de televisão. Nós conseguimos construir uma nominata de vereadores, embora enxuta, de qualidade. Isso não nos atrapalha no processo da eleição de Campos, por ter certeza que, óbvio, partindo para uma eleição de segundo turno, nós vamos todos da oposição. O que existe hoje na cidade é uma unanimidade no quesito mudança. E, nesse processo de mudança, cada um criou sua estratégia. O PMDB adotou sua estratégia, o PPS a sua, o PDT a sua, o partido de Nildo, o DEM, montou sua estratégia. Creio que o mais importante disso tudo é que, em um eventual segundo turno, e se essa disputa não ocorrer entre dois candidatos de oposição, o que torço que ocorra...

Folha — Você acha isso possível?
Pudim — Acho que é possível. Tudo é possível no processo político-eleitoral. Mas se isso não vier a acontecer e o candidato da máquina disputar com o de oposição, espero que todos estejamos juntos, no mesmo palanque, em busca de fazer, na verdade, aquilo que a população quer, que é mudança.

Folha — Está se comprometendo, por óbvio, a, se você não for a um segundo turno, apoiar quem estiver? É um compromisso?
Pudim — É um compromisso.

Folha — Qualquer que seja o candidato de oposição?
Pudim — Qualquer que seja o candidato de oposição no segundo turno e se, eventualmente, o candidato que estiver concorrendo for do governo, estarei no palanque de quem estiver na oposição.

Folha — Sem sombra de dúvida?
Pudim — Sem sombra de dúvida.

Folha — Essa campanha será curta. Você é um candidato conhecido, mas seu vice não. Você acha que isso pode dificultar?
Pudim — O professor Edmar foi responsável, em quase um ano, através da Fundação Ulisses Guimarães, para escrever nosso programa de governo. Nossa intenção não era essa. Era fazer uma aliança com o Partido Ecológico Nacional (PEN), onde o Dr. Arnaldo Vianna, que é um dos grandes colaboradores de nosso projeto, indicaria a vice em nossa chapa. E ele indicou sua esposa, a psicopedagoga Edilene. Quando nós tomamos a rasteira por parte do PEN, e a gente sabe muito bem como isso aconteceu, a gente precisou encontrar uma alternativa. Se a gente insistisse nesse processo da Edilene, poderia contaminar a chapa inteira, porque a gente sabe que se, porventura, o PEN não pudesse ficar com a gente, a chapa cai toda. E aí o que aconteceu? O professor Edmar, além de ser uma pessoa próxima, foi quem ficou responsável por escrever esse programa de governo. Talvez ele, mais do que eu, conheça todo esse programa, que nós estamos apresentando à sociedade campista. Não somos candidatos de nós mesmos. Somos de um projeto, que foi muito bem escrito pelo professor Edmar, óbvio com a nossa participação, com a nossa colaboração, com a participação da sociedade civil, com a participação do povo, e ele vai me auxiliar muito. Embora ele não seja uma pessoa tão conhecida, vai se tornar. Por quê? Porque vou sugerir até a vocês que ouçam os candidatos a vice para que vejam o conteúdo de cada um. Questão de popularidade, de conhecimento, não significa um prejuízo eleitoral. Pelo contrário, professor Edmar vai me auxiliar muito. É uma pessoa capaz, é preparado.

Folha — Aquelas reuniões que aconteceram ano passado...
Pudim — Exatamente. Ele coordenou todo trabalho e acho importante que vocês, como veículos de comunicação, promovam também encontros com candidatos a vice. Para poder ver de que forma esses candidatos a vice vão se comportar. Eleitoralmente, a gente está muito tranquilo. A diferença começa a acontecer na hora que se elegerem. Eu terei um vice capaz, preparado para esse enfrentamento da administração pública municipal.

Folha — Você foi vice de Arnaldo e agora, embora ele não seja seu vice, estão reeditando a chapa de 2000. Em 2004, quando você disputou contra o candidato dele, já rompidos, houve aquele episódio de ele ter sido afastado judicialmente. Você entrou, teve a situação dos documentos que você recolheu e levou ao Ministério Público. Foi um período muito acirrado. Todo mundo imaginava que esse rompimento seria uma coisa insolúvel. Essa parceria vai se prolongar?
Pudim — Veja bem, quando houve minha ruptura com o grupo de Garotinho, eu comecei uma espécie de revisão na minha vida política. Certamente, coisas que eu tenha falado, coisas que, porventura eu tenha pensado ou tenha até agido, se fosse hoje não agiria, nem falaria.

Folha — Por exemplo?
Pudim — Questão política, do embate político que ocorreu conosco, aquele acirramento.

Folha — Uma coisa pontual?
Pudim — A questão da contratação. Porque, na verdade, quem estava no governo era Arnaldo saindo. Estou revendo os conceitos do ponto de vista político. Este reencontro com Arnaldo é uma revisão de conceitos. Arnaldo foi meu médico em 1985, existe uma relação que extrapola a natureza política. É uma aliança que vai perdurar, porque ele tem muito a colaborar comigo. Fico muito feliz, muito honrado em ter esse apoio. E como eu disse: No meu rompimento com Garotinho tive que rever. É como se eu tivesse reiniciando a vida, uma nova vida política e nessa nova vida política. Estou revendo conceitos e pra mim é uma grata satisfação em ter Arnaldo comigo nesse processo. Fui para ele um vice-prefeito descente, que atuei fortemente. Fui uma pessoa que, durante seu aneurisma, teve uma postura extremamente correta dentro da administração pública. Auxiliei Arnaldo o quanto pude, quando houve o afastamento, inclusive, não foi nem um afastamento por conta dele. O afastamento se deu por causa de Ilsan Vianna.

Folha — Você fala que está feliz com esse reencontro com Arnaldo, mas, sobretudo depois que isso aconteceu, comparando-se as duas última pesquisas Pro4, feitas entre 8 e 10 de junho e em 6 de agosto, você foi de 5% para 11,1%, mais que dobrando as intenções de voto na consulta estimulada. Arnaldo ainda é o maior eleitor de Campos?
Pudim — Sim.

Folha — Isso basta?
Pudim — Não. Agora, ele sendo o maior eleitor, tendo um candidato preparado, com a experiência que eu tenho e com o preparo que tive ao longo do tempo, acho que isso é o suficiente para que a gente possa vencer as eleições juntos. É um somatório de forças. Um partido forte, uma estrutura forte e fiz uma aliança com uma pessoa forte. Não só pelo ponto de vista eleitoral, mas também pelo ponto de vista de gestão. Foi prefeito desta cidade por sete anos, com uma administração bem avaliada. Então, estes fatores, na hora que a população tomar conhecimento, que ainda, de uma forma em geral, não tomou, acho que a tendência nossa é crescer muito mais. Não tenho dúvidas que este efeito 5 para 11 foi o efeito Arnaldo Vianna. E tem muito potencial ainda para que a gente possa crescer, depois que a população de uma forma mais ampla, tomar conhecimento deste apoio. A gente trabalha também com pesquisa e muita gente ainda acha que ele está apoiando Caio (Vianna, também candidato a prefeito). Quando estas questões se tornarem públicas de uma forma muito clara, a tendência é crescermos ainda mais.

Folha — É, quando você puder usar as imagens do governo dele, que Caio não poderá usar...
Pudim — Sim.

Folha — Arnaldo já não exerce mandato há muito tempo. A que você atribui esse impressionante recall?
Pudim — Quando você faz uma pesquisa para verificar a questão de Arnaldo, as pessoas o veem como um médico humanitário, como um ser humano extraordinário. Elas não fazem tanta ligação a Arnaldo como um político. Isso é importante. O povo tem uma carência de pessoas afetivas como ele é. Arnaldo é uma pessoa afetiva, que gosta de gente. Isso é o que está marcado no coração da população de Campos. Ele está afastado da política, mas as pessoas não esquecem. Nas nossas caminhadas isso se revela de uma forma muito ampla. Esse carinho, esse amor que as pessoas têm pelo médico, pelo ser humano e a questão política fica, até, em um plano secundário. É óbvio que num processo político-eleitoral essa questão aflora e as pessoas votam nele. Mas a questão primordial é do médico, do amigo, do ser humano.

Folha — Você falou em Ilsan Vianna. Teria como candidata a vice Edilene, que é a atual esposa de Arnaldo. No caso de você eleito, Edilene ou Arnaldo terão espaço em seu governo? E você não acha que a influência da esposa junto a Arnaldo não pode se revelar a mesma com a atual?
Pudim — Absolutamente. São pessoas totalmente distintas. No processo anterior, no momento da ruptura, do nosso afastamento, foi que ela se aproveitou de uma fragilidade de Arnaldo, pelo fato de ele ter tido um aneurisma e tomou conta do governo. Ela assumiu o governo para ela. Porque ela tem uma característica: Ela gosta de poder. Ela sente sede de poder. Essa é a característica da Ilsan. Já Edilene é uma psicopedagoga, uma pessoa humilde, que tem sensibilidade. E não tem sede de poder. Edilene gosta de pessoas, quer ajudar as pessoas. É uma psicopedagoga que gosta de crianças. Agora, com relação a Arnaldo, Arnaldo será o que ele quiser em nosso governo. Em especial, pedi a ele que fizesse uma intervenção na saúde de Campos. A saúde de Campos é um caos estabelecido. Só para se ter noção, na administração de Dr. Arnaldo, junto comigo, nós tivemos algo em torno de R$ 500 milhões/ ano. Foram R$ 2 bilhões em quatro anos para gerir saúde, educação, pagar funcionário, investir, tudo. O que aconteceu? Nos últimos sete anos da administração da prefeita Rosinha, foram gastos na saúde R$ 4,5 bilhões. E mais: No curto espaço de dois anos e meio, salvo engano, que Dr. Chicão (PR) geriu a Saúde como secretário, ele teve 47% desses recursos. E a Saúde está na UTI. E é unanimidade quando vamos às comunidades e as pessoas falam que a gestão de Dr. Arnaldo não tinha esses problemas. Então, eu pedi a ele que pudesse assumir uma intervenção na saúde. Que voltasse a colocar a saúde de Campos nos trilhos.

Folha — Arnaldo atuará como secretário de Saúde ou como interventor?
Pudim — O papel dele será o que ele quiser. Vou entregar a Saúde nas mãos dele. Tenho um modelo de saúde diferenciado. Tem que ter um secretário de Saúde, que ficará responsável pelas políticas públicas. Agora, tem que ter um secretário executivo. Que é aquele que vai cuidar do dia a dia. Não tem cabimento um secretário de Saúde ter que ficar medindo índice de mortalidade infantil, ficar vendo a porta do posto de saúde que não está funcionando por causa de uma maçaneta? Dr. Arnaldo entrará na Saúde como secretário, como o que ele quiser, para fazer uma intervenção para colocar para funcionar.

Folha — Então, você vai dividir a saúde em setor estratégico, com Arnaldo e um tático com outra pessoa?
Pudim — Ele vai ficar tocando. E o principal, que é um compromisso que temos: Despolitizar a Saúde. Não aceito politização da Saúde. Acabou a história de vereador, de ingerência política na saúde.

Folha — Então, vereador não indica mais cargo na saúde?
Pudim — Não indica mais administrador de posto de saúde. Na nossa gestão, na Saúde e na Educação, em especial, porque quero despolitizar outras áreas, vamos despolitizar. É um compromisso de Dr. Arnaldo para que as pessoas voltem a ter curativos, voltem a ter Dipirona nos postos de saúde.

Folha — A gente estava falando em número de pesquisa. A Pro4 feita em junho e agosto, comparando, houve evolução. Mas seu crescimento também foi muito grande na rejeição. Em junho você tinha 15,8 e passou, em agosto, a 28,1. E esse dado alto foi também endossado pela pesquisa do Inovo, que usou outra metodologia, mas também te deu lá na frente em rejeição. Em uma eleição que todo mundo aponta como em dois turnos, essa rejeição alta não te inviabiliza em uma vitória final? Por que tanto campista afirma que nunca votaria em você?
Pudim — Não sei que números são esses. Não vou discutir pesquisa, até porque há números que nós temos, internos, que não apontam isso.

Folha — Tem pesquisa registrada?
Pudim — Não temos pesquisa registrada, mas podemos garantir que nossa pesquisa, de um instituto sério, nos deu com um dígito de rejeição. Então, não sei essa metodologia. E muitas dessas coisas, também, estão ainda atreladas a várias pessoas que ainda não sabem do meu rompimento com Garotinho. Da mesma forma que a gente carrega o bônus, carrega o ônus. Os programas de televisão e a campanha em si vão revelar que a gente tem independência. Na nossa chegou a um dígito. Pode ter certeza que aí também vai chegar.

Folha — Quer dizer, o Pro4 faz pesquisas desde o ano passado, aí você teve uma evolução na intenção de votos, você corrobora essa evolução. Quando tem uma evolução também na rejeição, não?
Pudim — Falo sobre o que vi. Não mergulhei para ver qual foi a metodologia. Então, seria leviano de minha parte ficar comentando. Se eu tivesse dados para desqualificar essa rejeição, eu daria. Respeito números, mas pesquisa também é como termômetro. Você põe embaixo do braço está com 40 graus de febre. Toma um antitérmico, ela baixa. Elas não são elemento de definição. Até porque mais de 70% da população ainda não está nem “ligada”.

Folha — Nessa pesquisa sua, você lidera a rejeição?
Pudim — Não.

Folha — Há gente na sua frente?
Pudim — Há. Do governo.

(Vice, Edmar Teixeira) – Essa rejeição é uma herança maldita que ele carrega. E vai carregar durante um tempo, até que a população se conscientize que ele mudou definitivamente. E isso será mostrado no programa eleitoral.

Folha — Na campanha anterior, você era “o candidato da família Garotinho”. Logo após a campanha, Fernando Peregrino (ex-secretário geral do PR) rompeu com Garotinho. Você, em rede social, falou que ele era uma pessoa capaz, mas devia os cargos que ocupou a Garotinho. Você ainda é identificado como integrante deste grupo. Como fazer a população te identificar agora verdadeiramente como oposição ou que não é uma jogada para garantir espaço a Garotinho em várias frentes?
Pudim — Eu achei que fosse candidato da família Garotinho, mas não era verdade. Tanto é que Bruno Dauaire (PR) foi apoiado por Wladimir Garotinho. A maioria das pessoas vinculadas ao governo trabalhou na campanha de Bruno. Não na minha. Muito pelo contrário. Fui leal, fui fiel, fui amigo. Deixei minha campanha, faltando 30 dias, fui para o Rio ajudar o pai, que estava passando por dificuldades, e eu já percebia, e deu no que deu. Eu achei que fosse o candidato da família Garotinho, mas não fui e o resultado eleitoral demonstra isso com clareza. Com relação a gente estar debatendo a questão da ruptura, é óbvio que quando se tem a ruptura de uma relação política de 30 anos as pessoas ainda tendem a esta desconfiança, mas ela está muito mais potencializada pelos dois lados. Tanto interessa a alguns candidatos de oposição manter essa dúvida na cabeça das pessoas, como também ao próprio Garotinho. Acho que é o maior estimulador disso para evitar que haja um crescimento nosso na campanha. Você vê que ele não fala de mim nos programas, por dois motivos: um porque não tem o que falar. Porque com todos os outros adversários, ex-integrantes do grupo, ele falou horrores. Sou um político com mãos limpas, entrei no grupo pela porta da frente, ajudei a construir e saí pela porta da frente. Não é um ato só que vai desconstituir isso. Mas acho que teremos ainda, eu eleito, que convencer pessoas, de que não sou. Agora, um outro aspecto que me chama a atenção é que a mídia, mas também a população, dão a Garotinho uma dimensão que ele não tem. Achar que ele teria a capacidade de fazer essa engenharia. A minha ruptura foi para valer. O meu momento de romper foi quando senti que hoje existe um projeto pessoal e familiar, onde ele utiliza a Prefeitura de Campos com força para se manter no poder e galgar outros projetos. Senti que esse projeto era pessoal e familiar, e ele se entrincheirou na Prefeitura. Porque tentou ser presidente da República, não conseguiu; perdeu no Governo do Estado... É como um político que foi retrocedendo e se encastelou na Prefeitura de Campos. E ele é capaz de fazer qualquer coisa para se manter no poder. Para mim, isso não vale. O projeto se perdeu. Meu ciclo com Garotinho se encerra aí. E meu projeto hoje é melhorar a qualidade de vida da população de Campos. E vou dizer mais a vocês: Tenho um compromisso com meu vice-prefeito, com os candidatos a vereador, de que não quero comissão de transição. Não farei transição. Entro dia 1º de janeiro na Prefeitura com a Polícia Federal, com o Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal, com o Tribunal de Contas do Estado, com a Câmara dos Vereadores e com a população. E vou abrir as contas da Prefeitura para todos verem. Porque a mim não será imputado qualquer descaminho. Porque eu conheço a figura e sei que, com o dinheiro do empréstimo, consegue chegar até 31 de dezembro, fazendo pirotecnia. Deu aumento ao funcionalismo, justíssimo, está esburacando a cidade toda, está distribuindo Cheque-Cidadão para todo mundo. Esse dinheiro se encerra dia 31 de dezembro. Não quero que amanhã, ao entrar na Prefeitura, ele me responsabilize por isso. Diga: “Deixei a Prefeitura em dia, nós pagamos em dia, dei aumento, a cidade está um canteiro de obras, e agora quem entrou faliu a Prefeitura”. Comigo não. Não quero comissão de transição. Não vou assinar nenhum documento de transição antes de botar a mão na Prefeitura e auditar todas as contas e contratos. Essa é a minha contribuição à população de Campos. Mostrar o que eles fizeram com o dinheiro público. Aqueles que andaram corretamente não têm o que temer.

Folha — E quem não andou?
Pudim — Quem não andou, as penas da lei.

Folha — Você falou que se atribui a Garotinho uma capacidade de estadista maior que ele tem. Vamos colocar um pouco menos esse planejamento dele. Deixo Pudim sair, você já estava próximo de Picciani, então era um caminho natural, para tirar apoio e estrutura de um candidato melhor colocado nas pesquisas, como Caio Vianna (PDT) ou Rafael Diniz (PPS). Você acha que isso não é possível como estratégia?
Pudim — Absolutamente. Existe um fato que poucas pessoas sabem. A pessoa responsável e que desequilibrou o jogo, não digo que foi o único, mas um dos grandes responsáveis, pela condução do deputado Jorge Picciani (PMDB) à presidência da Alerj foi Geraldo Pudim, que assumiu um compromisso com ele, junto com o deputado de Nova Iguaçu, Rogério Lisboa (PR). Porque a vontade de Garotinho e de Clarissa (Garotinho, deputada federal) era reconduzir Paulo Melo à presidência. E a gente desequilibrou o jogo, com a segunda maior bancada. Garotinho só conjugou até hoje a primeira pessoa do singular: Eu, eu, eu. Todos os demais não prestaram. Ele teve um grupo que o assessorou. Muitas ideias e projetos de Garotinho, Pudim que deu. Foi o Peregrino que deu. E nunca nosso nome figurou. As pessoas atribuem a ele uma genialidade que talvez ele não tenha. Tanto é que hoje ele está vivendo o que está vivendo aí. Se ele é gênio, bota a foto do lado de Chicão na eleição.

Folha — Igual a de Arnaldo está aí?
Pudim — Igual a que Arnaldo está aqui (batendo no peito). Eu não tenho vergonha. Bota a foto dele ao lado de Chicão. Ou então pede a Chicão para botar a foto dele do lado, que é o grande apoiador.

Folha — Mas sair de perto também não é uma estratégia?
Pudim — Estratégia para quê? Para se manter no poder, como falei antes. Ele faz qualquer negócio para se perpetuar no poder. Até se esconder. Como acho que Caio está usando como estratégia esconder Ilsan. Devia colocar Ilsan na foto junto com ele. E Rafael colocar Sérgio Mendes. Não escondo meu apoio. Meu apoio está no peito.

Folha — A ajuda de Picciani, até agora, se limitou em contrapartida para Arnaldo apoiar a você. Isso vai bastar? Você esperava mais de Picciani?
Pudim — Absolutamente. Estamos vivendo um momento especial da política brasileira. Se você for perguntar a qualquer candidato que virá aqui, e virão todos, você vai ver a frieza das ruas. Estamos inaugurando um novo processo eleitoral, onde todas as pessoas estão desencantadas. Há um desencantamento natural das pessoas. Estamos vivendo hoje uma política diferente. Uma política que vai se dar através dos programas eleitorais de TV e rádio, através das mídias sociais. Não naquele modo convencional que existia anteriormente. Você não consegue hoje mais fazer comícios, não consegue juntar pessoas, a Justiça Eleitoral hoje inibe várias atividades que tinham antigamente. Eu tenho o apoio do Picciani, presidente da Assembleia Legislativa. Tenho o apoio do Governo do Estado, de Eduardo Paes. Esse apoio é um apoio político.

Folha — Michel Temer.
Pudim — É um apoio político. Eu posso apresentar Michel Temer no meu programa. Posso apresentar Eduardo Paes. Posso apresentar Picciani. Posso apresentar o ministro (do Esporte) Leonardo Picciani. O que mostra que tenho time. Tenho o suporte de um partido forte. Qual apoio você acha que eu poderia ter?

Folha — Estrutura.
Pudim — Qual estrutura?

Folha — Nominata, mais partidos. O PMDB sozinho raramente ganha uma eleição.
Pudim — Não. Aqui tem dois lados: um lado do governo, que alicia, que compra a consciência. Se você vir o arco de alianças que está formado é imenso...

Folha — Muitos partidos são aliados ao Governo do Estado.
Pudim — Do outro lado, cada um adotou uma estratégia. Conversei com todos. Mas cada um tem a sua estratégia eleitoral. Resolvi adotar como estratégia, se tenho um partido forte, um partido que me basta e se não existe possibilidade de aliança na oposição... Por exemplo, tem Papinha (PP), que se alia a Nildo Cardoso (DEM) e o vice-governador é do PP e o governador é do PMDB. Mas isso é da democracia. E tenho que respeitar. Mas não tenho dúvida que, no segundo turno, todos estaremos juntos.

Folha — Seu rompimento com Garotinho foi cacifado por outro político de expressão regional, o presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani. Durante anos você foi apontado como quem caminhava à sombra de Garotinho. Hoje o Pudim caminha à sombra de Picciani?
Pudim — De jeito nenhum. Geraldo Pudim caminha sozinho. Tem vida própria. E a gente vai mostrar isso na campanha eleitoral. Garotinho sempre usou a primeira pessoa do singular. Então, eu era um político à sombra de Garotinho. Vou demonstrar que eu formulo, que penso, que sou capaz. Posso citar um fato concreto? Sou o responsável por administrar a Alerj. E na minha gestão conseguimos economizar R$ 180 milhões. Isso não foi à sombra de Picciani. Foi gestão minha. Estou tocando a campanha. Picciani não veio aqui. Já passei pelos três parlamentos: Já fui deputado federal, hoje estadual, secretário, subsecretário de Estado. Vice-prefeito, vereador. Tenho larga experiência. Com relação a Garotinho não vivi à sombra. Fui leal a um projeto político. Quando esse projeto se perdeu, saí. Não fui fiel a Garotinho, à figura dele. Fui fiel a um projeto que a gente escreveu em 1985, e, infelizmente, se perdeu.

Folha — Na campanha de 2014, você foi apontado como pivô de uma briga entre Garotinho e Wladimir. Este queria ser candidato a deputado estadual, mas o pai declarou apoio a você. Agora, aparece no centro de um racha entre Arnaldo e o filho, Caio, também candidato a prefeito. Você acredita que essa imagem de pivô em conflitos familiares pode prejudicá-lo?
Pudim — Absolutamente. Acho que não devo explicar a situação Garotinho/Wladimir. Não devo falar a respeito da relação entre Arnaldo e Caio. Quem tem que falar são eles. Só quero dizer que fiquei honrado, feliz, em receber o apoio de Arnaldo Vianna. Foi decisão política dele, amadurecida. Dr. Arnaldo terá o tempo certo de falar os reais motivos que o levaram a me apoiar.

Folha — Você falou que o Garotinho não cita você em programas de rádio. Mas em reuniões políticas ele costuma dizer que todas as eleições nas quais você saiu vencedor foram dadas por ele. Como avalia?
Pudim — Eu poderia dizer também que todos os mandatos de Garotinho foram dados por mim. Por quê? Coordenei todas as campanhas dele. É essa a psicopatia de Garotinho. Achar que é tudo ele. Acho que, em determinados momentos, ele acha até que é Deus. Ele deveria colocar a cara na televisão para falar isso. No programa de Chicão. Para depois também dizer que foi ele quem deu a eleição para Chicão. Foi ele que deu a eleição para Rosinha. É capaz de dizer que ele deu a eleição para Dilma. Ele sempre é “eu dei”. Ninguém colaborou com nada. Essa é uma psicopatia que ele precisa tratar. Aprender a ser mais humilde. Vou citar alguns exemplos: Em 1992, quando fui candidato a vereador, fiz 1.529 votos, ele apoiou Ferrugem. Em 1990, eu era candidato a deputado estadual, ele me tirou do processo. Depois, se fosse ele que tivesse me dado a eleição para deputado estadual, eu teria apenas 24 mil votos? A filha dele teve 350 mil. Será que ele não tinha uns 20 mil votinhos para me ajudar? A eleição que ele me deu foi em 2006. Era um problema que ele tinha de natureza pessoal. Porque já existia uma fissura dele com Cabral (Sérgio, ex-governador). Porque ele achava que Rosinha tinha que renunciar, para que ele concorrer a deputado federal. Cabral foi pedir a ele que Rosinha (então governadora) não renunciasse porque ele tinha medo que falecido Conde (Luiz Paulo, ex-vice-governador) não cumprisse os acordos eleitorais. Garotinho aceitou e depois descobre que aquilo tinha sido armação para inviabilizar a eleição dele. Aí ele disse assim: “vou provar que teria votos”. E me colocou debaixo do braço e me elegeu deputado federal. Ele usou uma frase e foi verdadeira: “O candidato não é você, sou eu”. Essa foi a eleição. As outras, trabalhei, ralei. O que ele devia falar é que, faltando um mês para eleição, fui para o Rio para ajudar na campanha dele. Larguei minha campanha. E o filho dele trabalhando contra mim, me corroendo. A máquina trabalhando contra mim, me corroendo. Perdi a eleição em número de votos para Bruno Dauaire.

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