João de Oliveira na Alerj
22/08/2016 18:08

Paula Vigneron
Fotos: Divulgação

No dia 1º de setembro, personalidades de Campos, conhecidas por projetarem o nome da cidade em outras regiões do país e no exterior, serão homenageadas na cerimônia de entrega do prêmio “O Goytacá”, que acontecerá anualmente. A entrega será no Palácio Tiradentes, sede da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), a partir das 18h. No espaço, haverá, também, o vernissage da exposição “O mundo mágico de João de Oliveira – A genuína arte do interior”, com obras do artista plástico campista.

Idealizado para prestigiar importantes nomes de diversas áreas, como esporte, cultura, direito e jornalismo, o prêmio “O Goytacá” foi criado com o intuito de promover uma homenagem aos destaques do Norte e Noroeste Fluminense. Nesta primeira edição, os troféus em formato de índio, confeccionados por João, serão destinados ao jornalista Aluysio Cardoso Barbosa, ao professor Fernando da Silveira, ao jogador de futebol Amarildo e ao ator Tonico Pereira.

E, no Salão Nobre do Palácio Tiradentes, o público poderá conferir, até o dia 15 de setembro, obras que representam a trajetória do artista plástico João de Oliveira. Para esta exposição, o campista selecionou quadros, painéis tridimensionais e girândolas em uma “apresentação para o Rio de Janeiro”, como explicou.

— Já fiz exposições lá, mas faz muito tempo. Mas não expus as novas fases. E meus amigos pediam. Aí, surgiu a oportunidade — contou. Além da fase do índio, João apresentará trabalhos sobre música, mulheres, negros, cana-de-açúcar, e crianças. Obras de reciclagem também compõem “O mundo mágico”. — Quero mostrar a todos a força que tem a arte do interior e tocar o íntimo das pessoas com minhas criações — declarou.

Para montar a mostra, o campista escolheu alguns trabalhos que representam sua trajetória artística. “Eu quero pegar um pouco de cada coisa”, destacou. Entre os quadros que serão apresentados no Rio de Janeiro, estão “Criancices”, “A ruiva”, “Carro de bois”, “A árvore da esperança”, “Os espermatozóides de Louis Armstrong” e “O aquário” (que rendeu a João o Trofeu Solon Professional d’Art Contemporain, no Carrousel du Louvre, em Paris, no ano de 2014).

— O que é interessante na minha obra é a diversidade de temas e de técnicas. Eu não sou aquele artista que trabalha com a mesma técnica. De um tema para outro, eu busco algo mais interessante ligado ao assunto. O trabalho de “Carro de bois” foi feito em cima da juta, o primeiro tecido a ser feito em Campos, na tecelagem da Beira-Rio. E o primeiro do Brasil. Servia para ensacar o açúcar. Como eu ia fazer uma série sobre a cana, resolvi pintar em cima desse tecido — explicou.

Fruto da parceria com o jornalista e escritor Esdras Pereira, os quadros do tema “Cicatrizes do tempo”, que ilustraram o livro “Cicatrizes na parede”, também estarão no espaço. “É a minha fase atual. Você observa que os corpos das pessoas são retratados como se tivessem cicatrizes. Eu trabalho com uma nova textura”, disse.

Conhecidos desenhos de músicos de jazz foram transformados em pinturas para esta exposição. Segundo João, pintar a música é muito difícil. Então, para retratar compositores e composições, o artista representou as notas como pontos de luzes e rastros coloridos. “O do Louis Armstrong, por exemplo, fiz uma brincadeira. Coloquei os rastros como espermatozóide porque ele, praticamente, semeou o mundo inteiro”, ressaltou.

Recentemente, João, após aprimorar uma técnica própria para criação de painéis tridimensionais, tem se dedicado a criar trabalhos neste estilo. A ideia para a nova forma de produzir arte surgiu da vontade de transformar em adulto o menino índio retratado em “O curumim”. Depois de tentar outros processos, o campista conseguiu chegar aos painéis.

— Aí, parti para outra coisa: um quadro reto, com uma imagem dele adulto no fundo, e colocar pecinhas por cima. Então, se você olhasse de um lado, você vê o curumim. E, se você virar a peça, do outro lado, você vê o velho. No meio, está o adulto — contou.

Apesar de ter se dedicado integralmente à sua carreira artística, João de Oliveira fez um alerta sobre a necessidade de valorizar a arte e seus produtores.

— Ela transforma as situações e o ser humano, e os artistas dão murro em ponta de faca. Não têm patrocínio, não têm nada. Então, eles têm que correr muito atrás. Eu vejo que sou muito mais reconhecido lá fora. Conheço alguns que estão mudando de profissão porque as pessoas não prestigiam. Por isso, a gente tem que valorizar o artista da terra.

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