Corações ao alto
Mariana Luiza (obra de Rosana Paulino) 22/01/2017 01:21 - Atualizado em 19/05/2020 15:10
Obra de arte Rosana Paulino
Um cardiologista da Universidade de São Paulo comprovou através de experimentos científicos realizados com dez mil voluntários, que cada coração nasce com um número certo de batidas ao longo da vida. Segundo a pesquisa, uma proteína, encontrada na membrana plasmática dos miócitos, as células do tecido cardíaco, faz o papel de uma ampulheta vital. O cronômetro, como foi batizada a proteína, descresse a medida em que o coração embrionário, o primeiro órgão do indivíduo, começa a pulsar. Se aquele feto evoluir e vir a nascer, se durante sua trajetória ele não morrer de acidente de carro, bala encontrada, ou doenças que não cardiovasculares, o seu coração será o único órgão a saber o dia exato de sua parada. A menos que o cérebro do dono do corpo chame para si o direito de interromper a jornada, planejando conscientemente o fim de todas as pulsações. A média dos dez mil voluntários foi de 2.649.024.000 palpitações por vida. A equipe de pesquisa ainda não descobriu qual o fator determinante que prolonga as batidas do órgão em um deliberado ser, e diminui consideravelmente noutro, mas fatores genéticos são apontados como as causas mais prováveis de um número de batimentos inferior a média. Os corredores da Universidade de São Paulo estão em polvorosa desde a publicação do artigo cientifico. Teólogos e gerontólogos afirmam que o excesso de amores vividos pela mãe pode influenciar consideravelmente a quantidade de batidas do feto gerado em seu ventre. Se sofreu demais, se chorou demais, se o coração desta mulher ficou pequeno e agoniado a cada fim de um relacionamento, a probabilidade do coração de seu filho bater mais é maior. Isto, porque de acordo com os teólogos, também da Universidade de São Paulo, o excesso de dor de uma mãe, pode ser compensado na extensão de vida do filho. Doutores em psicanálise, pesquisadores freudianos da mesma universidade, afirmam o contrário. Cada sofrimento, agonia, susto, angústia ou medo vivido por esta futura mãe será resolutivo na diminuição da quantidade de batimentos do coração do embrião que ela carregar no ventre. Enquanto departamentos diferentes se digladiam pela defesa de suas verdades, os alunos, principalmente os calouros, tentam proteger o coração de aventuras sentimentais. Assim, sem o risco de sofrimento, o prolongamento do destino fica um pouco mais garantido. Farmacêuticos, estudam o aprimoramento das fluvoxaminas, manserinas, mirtazapinas e reboxetinas. Um complexo que blinde o cérebro e o coração de pulsações desnecessárias. Filósofos recomendam Platão. Professores de educação física se preocupam com seus empregos. Matemáticos obsessivos calculam o tempo médio restante de dias vividos. E os loucos escancaram os corações às possíveis e impossíveis pulsações da vida. Mais vale menos dias bem sentidos, do que a eternidade vazia de emoções.

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    Mariana Luiza

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