Por JAMIL MOREIRA CASTRO
Vem a festa de Cardoso? Foi a pergunta que mais circulou nas minhas mídias sociais. Gostaria, mas não dá. Queria muito rever amigos, colegas de escola, enfim, pessoas com quem convivi até o final da minha adolescência.
Já meus sobrinhos não vão porque a programação de shows está muito fraca.
Não vão entender nunca que isso é um detalhe sobre a verdadeira essência da festa: a confraternização dos ausentes e presentes. Um sentimento que está no DNA de quem vive e viveu nesta cidadezinha carinhosa do vale do Muriaé.
Confesso que, para mim, é muito estranho essa coisa de shows e Parque de Exposições. Adorava aquelas festas de rua, que começou como quermesse da Igreja de São José, com suas lindas procissões que percorriam a cidade.
A festa foi crescendo, saiu do entorno da matriz e ganhou outras ruas. Mas ninguém não se importava com o que se passava no palanque, com certeza alguma dupla caipira estava se apresentando por lá, enquanto o bacana mesmo era curtir a Barraca Tatutão. A barraca de João Tatú, que servia um churrasco especial, era o melhor lugar para esperar o início dos bailes no clube. Clube, que clube? Os bailes aconteciam em um barracão construído para abrigar sacas de café, administrado pelo Sr. Quinzinho.
O endereço é o mesmo onde hoje funciona o Cardoso Moreira Social Clube e fica fechado nos dias de festa da cidade. Neste não havia nada: nada de banheiros, nada de cadeiras e mesas que, eram nas noites especiais eram levadas pelas famílias. Quer dizer, elas pagavam para “levar suas salas” para o baile. Era um baile careta, músicas lentas e os pares rodopiando pelo salão, até que um dia, as pessoas se soltaram das garras da mesmice e começaram a dançar, sozinhas ou acompanhadas, do jeito que queriam.
Para alguns foi um escândalo tanta modernidade, mas de fato, a cidade entrava de vez para o mundo da Jovem Guarda.
Ft-CM
Era também uma delícia esperar a festa chegar. Saber quem vinha, ver as barracas sendo montadas e ir a Campos comprar roupa. Sim, comprar roupas, pois ninguém ousava sair de casa com um look “batido”. As fofoqueiras iriam falar.
A maioria das mulheres preferia as costureiras, que ficavam loucas não só com tanto trabalho, mas pela a difícil tarefa de esconder as roupas. Jamais uma mulher poderia saber o que a outra iria vestir. Muitas chegavam a fazer um modelo para a rua e outro para o baile.
Duplicidade, par de jarro, lembro de ataques histéricos.
É claro que um Parque de Exposições coloca a cidade no mesmo patamar de realizar uma grande festa como as vizinhas. Uma pena que muitas delas sejam realizadas com objetivos políticos. Com contração de artistas milionários para deixar o prefeito “bem na fita” e arrecadar muitos votos. Já ouvi comentários que certos prefeitos são bacanas porque investem em grandes atrações.
Olha que tem até prefeito que prefere o palco para exercer a sua vaidade. Ainda bem que o Ministério Público está de olho em todo o país, com dinheiro desviado da educação e saúde para ser investido em eventos.
Então, para que se importar com grandes atrações? Que a festa seja feita com portas abertas para que todos possam se confraternizar como nos velhos tempos das ruas.
Como nos bons tempos da minha eterna Cardoso Moreira.