Campanha Volta ao Estilo Pé de Ouvido
Nino Bellieny 05/07/2016 09:29
NinoBellieny Está de volta uma forma primitiva e feroz de se fazer política. A tradicional arte do boato injetado na raiz da orelha. Não deixa pistas fáceis de serem seguidas, oferecendo mais segurança a quem dela faz uso. Com a predominância das redes sociais na vida brasileira, o boato modernizou-se, ganhou ares de alta tecnologia, aproveitou-se da quase inviolável internet e fez incisões profundas nos costumes. O abuso da arma a fez menos letal. A resposta investigativa paciente e metódica em juntar pedaços e seguir rastros deixados pelos usuários no mundo digital, mesmo com misturadores de IP, ( Internet Protocol, número único de cada aparelho), e pretensa sagacidade dos malfeitores cibernéticos, tem desmontado esquemas. A indiscriminada e exagerada posologia do veneno acabou intoxicando aos dependentes daquilo que, se feito de forma mais calculada e fria, teria efeitos mais devastadores. Embriagados pelo sucesso das primeiras investidas, pisaram fundo no acelerador, derraparam na reta antes de chegarem às curvas. O jeito volta a ser, o de apelar para a velha fórmula: a conversa em volume baixo, quase sussurrada, despretensiosamente ferina na hora mais desprevenida de quem a ouve. Difícil checar a origem de um falsete plantado. "Ouvi dizer, disseram, falam por aí" é a senha que abre os trabalhos de pregação. Se todos ouvintes cortassem de imediato, morreria ali o rio de quase verdades e meias mentiras, mas a hipnose é bem feita, a curiosidade se acende e a cachoeira se fortalece. Depois, a língua coça e passar para outra pessoa é o remédio que alivia. 7 Em tempos de campanhas políticas, a mais tradicional das mídias, a fofoca, se encarrega do trabalho sem nenhuma preocupação de sujar a roupa. Vidas monótonas amam especulações. É como preenchem momentaneamente o vazio e a mediocridade. Até o Dia D, o decisivo, quando todos os sonhos,  ilusões e desejos forem sepultados nas urnas eletrônicas e somente para muito poucos forem ressuscitados em um corpo vitorioso, a indústria boateira vai trabalhar 24 horas por dia. Com maior pressão em cada tic-tac. Contratando pessoas literalmente tamanha a demanda. Como saber o que é verdade ou não, confiar ou desconfiar das fontes jorrando sem parar, será uma longa atividade. A maioria dos eleitores não vai querer ou ter tempo de checar informações, não são jornalistas treinados para ouvir o contraditório, embora devessem ser. Se cada um questionasse tudo o que houve, procurasse obter respostas para simples perguntas como "quem lhe disse, quando foi, de que jeito foi, quem estava lá, qual a razão disso, tem provas?", boatos não progrediriam. Sem esses cuidados de quem recebe e passa à frente, eles surgem, explodem, maturam e apodrecem em 3, 5 ou 7 dias, mas é tempo suficiente para o estrago. O mais recente deles, por exemplo fala de uma situação ocorrida em determinado lugar com certas pessoas insatisfeitas... calma, não embarque nessa. É assim a cesariana de um boato. Mas não aqui.      

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