NinoBellieny
Está de volta uma forma primitiva e feroz de se fazer política. A tradicional arte do boato injetado na raiz da orelha. Não deixa pistas fáceis de serem seguidas, oferecendo mais segurança a quem dela faz uso.
Com a predominância das redes sociais na vida brasileira, o boato modernizou-se, ganhou ares de alta tecnologia, aproveitou-se da quase inviolável internet e fez incisões profundas nos costumes.
O abuso da arma a fez menos letal. A resposta investigativa paciente e metódica em juntar pedaços e seguir rastros deixados pelos usuários no mundo digital, mesmo com misturadores de IP, ( Internet Protocol, número único de cada aparelho), e pretensa sagacidade dos malfeitores cibernéticos, tem desmontado esquemas.
A indiscriminada e exagerada posologia do veneno acabou intoxicando aos dependentes daquilo que, se feito de forma mais calculada e fria, teria efeitos mais devastadores.
Embriagados pelo sucesso das primeiras investidas, pisaram fundo no acelerador, derraparam na reta antes de chegarem às curvas.
O jeito volta a ser, o de apelar para a velha fórmula: a conversa em volume baixo, quase sussurrada, despretensiosamente ferina na hora mais desprevenida de quem a ouve.
Difícil checar a origem de um falsete plantado. "Ouvi dizer, disseram, falam por aí" é a senha que abre os trabalhos de pregação.
Se todos ouvintes cortassem de imediato, morreria ali o rio de quase verdades e meias mentiras, mas a hipnose é bem feita, a curiosidade se acende e a cachoeira se fortalece.
Depois, a língua coça e passar para outra pessoa é o remédio que alivia.
Em tempos de campanhas políticas, a mais tradicional das mídias, a fofoca, se encarrega do trabalho sem nenhuma preocupação de sujar a roupa.
Vidas monótonas amam especulações. É como preenchem momentaneamente o vazio e a mediocridade.
Até o Dia D, o decisivo, quando todos os sonhos, ilusões e desejos forem sepultados nas urnas eletrônicas e somente para muito poucos forem ressuscitados em um corpo vitorioso, a indústria boateira vai trabalhar 24 horas por dia.
Com maior pressão em cada tic-tac. Contratando pessoas literalmente tamanha a demanda.
Como saber o que é verdade ou não, confiar ou desconfiar das fontes jorrando sem parar, será uma longa atividade. A maioria dos eleitores não vai querer ou ter tempo de checar informações, não são jornalistas treinados para ouvir o contraditório, embora devessem ser.
Se cada um questionasse tudo o que houve, procurasse obter respostas para simples perguntas como "quem lhe disse, quando foi, de que jeito foi, quem estava lá, qual a razão disso, tem provas?", boatos não progrediriam.
Sem esses cuidados de quem recebe e passa à frente, eles surgem, explodem, maturam e apodrecem em 3, 5 ou 7 dias, mas é tempo suficiente para o estrago.
O mais recente deles, por exemplo fala de uma situação ocorrida em determinado lugar com certas pessoas insatisfeitas... calma, não embarque nessa.
É assim a cesariana de um boato.
Mas não aqui.