As Minhas Velas do Mucuripe
Nino Bellieny 03/07/2016 00:33
“Aquela estrela é bela… Vida, viola, telas…. Velas acendi…” Por Angelique Damadá Vale dos Mocós é o que quer dizer Mucuripe, palavra da língua Tupi, totalmente brasileira. Mucuripe é um bairro de Fortaleza, praia de águas cristalinas e velas aos ventos do Ceará. O Porto do Mucuripe finaliza a praia deixando a paisagem com diversas jangadas de pescadores, barcos rústicos e turísticos espalhados ao mar… São ensaios fotográficos, além de inspirações para óleo sobre tela. Falando um pouco de história, dizem que a Ponta do Mucuripe teria sido o primeiro local de desembarque de europeus no Brasil. Antes mesmo de Pedro Álvares Cabral, em janeiro de 1500, a expedição espanhola de Vicente Yáñez Pinzón teria desembarcado no território brasileiro…. Terra que até então era simplesmente bela, rica, verde e encantadora. Mucuripe também foi inspiração para mestres da MPB, sendo uma das músicas mais famosas na década de 70, se destacando nos grandes festivais de músicas da época. Foi cantada inicialmente por Belchior, nos encontros boêmios das noites, mas foi marcante mesmo pelo coautor,  Fagner, que valorizou a canção dos dois com uma interpretação marcante . Mais tarde foi sucesso com a inesquecível Elis Regina e o rei Roberto Carlos. A música dos cearenses faz parte da minha infância e da minha adolescência. Não porque vivi em Fortaleza, ou porque escutei em fitas cassetes ou rádios populares…. Mas sim porque meu pai, acompanhado de seus amigos, vivia cantando a canção Mucuripe com sua viola: “As velas do Mucuripe vão sair para pescar … vou levar as minhas mágoas pras águas fundas do mar… hoje à noite namorar… sem ter medo da saudade… sem vontade de casar… Calça nova de riscado… paletó de linho branco… que até o mês passado… lá no campo ainda era flor… sob o meu chapéu quebrado… o sorriso ingênuo e franco… de um rapaz novo encantado… com vinte anos de amor… Aquela estrela é dela…. Vida vento vela leva-me daqui…”
55ft-web
A canção Mucuripe era parceira de meu pai, além do violão e dos seus outros aliados: pinceis, telas, tintas, papel e nanquim, que o acompanhavam sempre. O sorriso de meu pai era franco, mas não tão ingênuo como descrito na sua preferida canção, era criativo e amigo! A música também acompanhava suas serenatas, com o buque das rosas vermelhas, que era o presente entregue aos seus amores: minha mãe e minhas avós. A música fez parte de minha vida, em função da vida que levava meu pai… Enfim, nasci e cresci no meio da arte, do belo, e ao som “das velas do Mucuripe”… Ainda menina, em todas as festas, eu esperava a música fechar a rodada das canções, acreditando que a melodia afastava mágoas e deixava alegrias para todos “companheiros da viola”. Confesso que não amadureci com o mesmo som de Mucuripe, pois a música esteve presente em minha vida, até a idade que perdi meu pai, o Zé Damadá…. Época que eu ainda era muito ingênua, que não parei para pensar o que seria “o medo de uma saudade”… Amadureci à força, depois de muitas velas que acendi… Hoje posso escutar a música sem medo da saudade, pronta para conhecer o Porto do Mucuripe em Fortaleza, com vento do mar!   Curta“Velas do Mucuripe” ao vivo com Fagner: VÍDEO 1 VÍDEO 2   ——–———————————————————————————————————————— Um pouco mais sobre Mucuripe: Curiosidades sobre a música e vídeos das primeiras interpretações: AQUI Mucuripe – Fortaleza Ceará : AQUI  Nino, quero te contar que a última vez que escutei esta canção com meu pai foi em 1994, quando o maestro José Carlos Ligiéro levou a banda para tocar sob a janela de nossa casa, se despedindo do amigo que faleceria dias depois. Esta é uma homenagem ao meu pai, minha estrela e herói José Damadá. No dia 9 de julho ele faria mais um ano de vida. Agradeço a você Nino, consequentemente a Dona Diva e a Folha da Manhã, pela oportunidade de homenageá-lo. Hoje eu canto diferente com minha saudade: “Aquela estrela é bela… vida, vento, telas…. Até que velas acendi!… “ Abraço, Angelique

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Nino Bellieny

    [email protected]

    BLOGS - MAIS LIDAS