Nino Bellieny
Morri na manhã de hoje em um acidente de carro e só agora fui saber. Uma amiga liga desesperada e nem ouvindo a minha voz se acalma.
Ela precisa ter certeza de que, sou eu mesmo e não um policial rodoviário atendendo à beira da rodovia perto do meu carro destroçado e do meu cadáver.
É tão forte o que ela conta que também acredito. Devo estar morto. Ligo para a delegacia, o IML e vejo o blog do meu amigo Adilson Ribeiro procurando saber o que aconteceu comigo.
O telefone toca de novo e de novo, são outros assustados de Campos, em alguma rádio da cidade anunciaram com solene pesar o meu falecimento provocado por uma batida de frente com uma carreta carregada de pedras.
Não é a primeira vez que morro, mas agora até eu fico na dúvida, olho no espelho, belisco o bíceps, recolho as canelas pois esticá-las seria a confirmação do fim.
Alguém me matou pela mídia. E alguns acreditaram. Daqui a pouco vão chegar coroas de flores e velas serão acesas. Vão querer me sepultar de qualquer maneira, não podem ficar frustrados.
Quem criou a história não se preocupou com a dor da minha mãe aos 78 anos, do meu pai aos 81, dos meus irmãos, da minha mulher e muito menos dos meus amigos mais verdadeiros.
Tenho que ligar para eles e provar que não é uma gravação da minha voz.
Espalhou-se o boato e pronto, mais uma mentira bem tramada virou verdade e estou morto, um morto que escreve e respira pelo menos até à essa vírgula, ou então é psicografia.
E me despeço de você querido leitor esperando estar muito vivo no nosso próximo encontro, pelo menos virtual, o que sempre deixa dúvidas e apenas uma certeza...