As Meninas de Guarus e o Menino de Vila Nova
Alexandre Bastos 10/06/2016 11:11
Ponto-final

Meninas de Guarus (I)

A polícia prendeu 12 pessoas envolvidas no caso conhecido como “Meninas de Guarus”, que apurou a exploração sexual de crianças e adolescentes em Campos. Entre os presos estão políticos e empresários de Campos. O caso é investigado desde 2009 e, em 7 de junho daquele ano, a Folha da Manhã foi o primeiro veículo de imprensa no país a publicar matéria sobre o assunto. De acordo com a denúncia, os réus mantinham e exploravam sexualmente crianças e adolescentes, entre 8 e 17 anos, numa casa em Guarus.

Meninas de Guarus (II) Os crimes apontados na denúncia são abomináveis e os culpados merecem punições severas, mas é importante destacar que, em sua sentença, a juíza Daniela Barbosa Assumpção, da 3ª Vara Criminal de Campos, aplicou penas diferenciadas. Nomes como Leilson Rocha da Silva, o “Alex”, e os primos Thiago e Fabrício Calil foram condenados a mais de 20 anos de prisão. Entre os crimes estão: formação de quadrilha, cárcere privado, estupro de vulnerável e exploração sexual de crianças e adolescentes.

Meninas de Guarus (III)

Além dos condenados por chefiar um suposto bando, há também um grupo formado por pessoas que seriam clientes ou facilitadores. Para esses, as penas foram entre um e 14 anos de prisão. Ontem, advogados fizeram questão de destacar que muitos envolvidos não participaram dos crimes brutais contra crianças e adolescentes e já entraram com pedidos de habeas corpus. Para quem acompanha o caso desde o início, a torcida é para que a justiça seja feita.

Meninas de Guarus (IV)

O ex-presidente da Câmara de Campos, Nelson Nahim (PMDB), condenado a 12 anos de prisão, foi o único a comentar ontem sobre a operação realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e a Coordenadoria de Segurança e Inteligência do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). Nahim, que é advogado, disse que nos autos da ação ficou comprovado que ele não teve relacionamento com ninguém. “Não vejo porque qualquer tipo de condenação”, disse.

Meninas de Guarus (V)

Quem também se pronunciou sobre o caso foi o secretário municipal de Governo, Anthony Garotinho, que protestou em nota contra a menção de Nahim, em rede nacional, na matéria da Globo News, como seu irmão. Corretamente, o ex-governador ressalvou: “ninguém pode ser responsabilizado por esse tipo de comportamento que é atribuído a um membro de sua família”.

Meninas de Guarus (VI)

Politicamente, Garotinho fez questão de ressaltar seu rompimento com Nahim: “lamentavelmente, a política me afastou do meu irmão há mais de 6 anos, nunca mais nos falamos, inclusive na última eleição ao governo do Estado, ele foi candidato a deputado federal na coligação liderada pelo PMDB, e foi um dos coordenadores da campanha de Pezão no município de Campos contra mim. Amar um irmão não significa concordar com suas atitudes nem pessoais nem políticas”.

Menino de Vila Nova (I)

Na nota, Garotinho só não falou nada sobre Thiago Calil. Talvez porque, embora tenha sido condenado a 25 anos e oito meses de cadeia no caso “Meninas de Guars”, pelos crimes de cárcere privado, formação de quadrilha e exploração sexual de menor no caso “Meninas de Guarus”, a Globo News não tenha noticiado que Calil também já havia sido condenado pela Justiça Eleitoral de Campos. Em 2014, ele foi considerado culpado dos crimes de corrupção passiva e, mais uma vez, de formação de quadrilha.

Menino de Vila Nova (II)

Preso na Operação Cinquentinha, da Polícia Federal de Campos, deflagrada em 13 de abril de 2009, Thiago Calil era então subsecretário adjunto de Governo — pasta cujo titular hoje é Garotinho. Na verdade, Calil teve a honra de ser o segundo nomeado em todo o estafe da prefeita Rosinha Garotinho, logo após ela se eleger a primeira vez. E, coincidentemente, ele seria depois condenado pela compra de voto, ao valor de R$ 50,00 cada, no distrito de Vila Nova, para Rosinha a prefeita e Marcos Alexandre a vereador.

Menino de Vila Nova (III)

Em outra coincidência, Marcos Alexandre foi condenado a 7 anos de cadeia, pelo crime de estupro de vulnerável, no caso “Meninas de Guarus”. Ainda que fisicamente distante do governo municipal nos últimos anos, sobretudo após a divulgação do seu envolvimento na rede de prostituição de menores, Calil foi visto e ouvido aos gritos no antigo Cesec, atual sede da Prefeitura, na terça-feira da semana passada, 31 de maio. Visivelmente contrariado, ele gritava em aparente tom de ameaça: “Se eu for preso, vou contar tudo que eu sei”. Será?

Publicado na coluna “Ponto final”, na edição de hoje (10) da Folha

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