Professores do Noroeste Resistem
Nino Bellieny 18/05/2016 18:53
O despertar da insubordinação Artigo de Ludmila Clemente Foi a gota d’água! Chega governador! Esse foi o grito que saiu da minha boca quando o referido sujeito resolveu parcelar o décimo terceiro dos professores, aposentados e pensionistas do Estado do Rio de Janeiro em dezembro de 2015. E assim surgiu o movimento que, recebendo a expressão “Gota d’água” como nome, representa não só o meu sentimento de revolta contra as maldades e irresponsabilidades do governo em exercício, mas de toda a categoria dos profissionais de educação do nosso Estado. Não dá mais para suportar o que temos suportado há décadas. Nunca vivi um momento como este em cinco anos de magistério estadual a serem completados em agosto deste ano. Apenas assisti a luta do meu pai, o professor Paulo Cezar Clemente mais conhecido como PCC durante toda a vida.
pcc Lud Clemente
Hoje exercendo o cargo que ele exercia não posso ficar de espectadora, não foi isso que aprendi, não consigo ficar inerte, mas fazendo parte do contexto vivido pela nossa classe coloco em prática tudo que aprendi com ele. Faço isso porque sei que, se ele estivesse aqui hoje, estaria lutando do meu lado apesar de ter desanimado de tanta luta por muitas vezes considerada inútil até por colegas de profissão. Realmente isto desanima: ver professores instruídos e inteligentes, porém não conscientes do próprio papel na luta com seus colegas de trabalho, que batalham por uma educação de qualidade. Mesmo não tendo valor para o governo fazem a diferença neste país. É preciso acordar. Despertar do comodismo, do analfabetismo político, de frases feitas como “político é tudo igual”, “greve não dá em nada”, “este país não tem jeito”, “vocês estão perdendo tempo”, “esses professores estão prejudicando meus filhos”, “parem com essa palhaçada de greve”. Essas são algumas  das que tenho escutado. Minha personalidade não aceita que façam de mim o que bem querem. E acho isto uma qualidade. Quando surgiu o movimento no grupo do WhatsApp, a minha função foi sustentar a ideia de que conquistar/arrancar nossos direitos do governo é possível.
bandeira Professoras do movimento
Todo lutador por uma causa coletiva é por natureza,  um ser utópico, considerado sob muitos olhares, como anarquista, doidivanas, exagerado, lunático... enfim, são concepções de certa forma aceitáveis, pois entrar numa briga sem saber como ela terminará, por pessoas que nem se conhece, no meio de atritos e  enfrentamentos entre os próprios companheiros de luta, em muitos casos não se aplica à pessoas realmente comuns. Agora consigo ver porque o meu pai mesmo sem ter recebido nenhuma homenagem das autoridades locais depois de 9 anos de sua morte, diante de toda contribuição dele para o desenvolvimento intelectual, cultural e também político desta cidade, ainda é considerado um dos melhores profissionais que Itaperuna já teve. A maior herança que um filho pode receber de um pai são os seus ensinamentos. Hoje procuro relembrar de cada palavra do meu pai confirmada por minha mãe. Eu pensei que não fosse muito difícil lutar pelos direitos de todos, por dias melhores e por dignidade, mas garanto que amadureci dez anos em dois meses. Com isso ganhei amigos... e inimigos. Sou outra pessoa. Mudei para melhor. A dificuldade nos enobrece, assim como o trabalho. Aprendi a dar mais valor à amizade, a ouvir melhor os mais velhos. Sabedoria adquirida em pouco tempo. Tudo às custas de muito choro, desgaste físico e emocional, noites em claro, maledicências, pedras atiradas, calúnias e inveja. Como também, muito riso, alegria, vitórias. Sei que, ainda não acabou, mas eu acredito no sonho que tenho. E no bem que quero alcançar. Tenho esperança na mudança e de continuar vendo a desmoralização do governo em questão. Em tempos de ditadura costumavam dizer que, “quem sabe faz a hora não espera acontecer.” Foi por isso que, no dia 25 de janeiro de 2016, nasceu o Movimento Gota D’água, reacendendo a vontade do professor do Noroeste, de fazer da justiça social uma verdade. Uma greve como esta só fora vista na década de 80, quando pela última vez professores se uniram numa força expressiva e que jamais será esquecida. Muita alegria ao saber que a greve de 2016 também ficará registrada nos livros de História. A revolução foi reavivada e estamos dispostos a continuar na luta. Se for enxergada como rebeldia que o seja. “Quanto mais instruído o povo, tanto mais difícil de o governar.” Texto Taoísta

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