O Liceu de Humanidades de Campos está ocupado. E, como em muitas escolas estaduais, grande parte de seus professores permanece em greve. Mais de dois meses se passaram entre manifestos e árduas tentativas de negociação com o Governo do Estado. Avanços? A passos lentos... No entanto, em tempo, reinventa-se a esperança, e as forças da resistência se organizam. A cada assembleia no Rio, unanimidade pela busca de uma educação pública digna e de direito. Nenhum aceno de desistência ante a deplorável condição a que nos querem submeter.

              Muitos que passem hoje pelo Liceu poderão se ressentir de seu silêncio, poucas vezes quebrado pelas conversas e atividades dos alunos da Ocupação. Ou até mesmo lamentar que a situação tenha chegado a tal ponto. É justo e compreensível. Nós próprios nos sentimos em estado de apreensão diante desse quadro. O que não se deve ignorar, entretanto, é o que essa escola centenária nos evoca: uma trajetória memorável, de grandes contribuições à educação da sociedade campista. Um percurso irretocável, que se tornou referência para aqueles que vislumbram, na Educação, um meio de transformar e de transformar-se. Em vista disso, não seria razoável desvincular uma escola desse porte das lutas pelas propostas de qualidade a que fez juz ao longo de sua história.

           Quem já não ouviu menções ao “espírito liceísta”? Esse, que é uma espécie de sinal latente naqueles que passam pelo Liceu de Humanidades de Campos, é também uma força de convocação a todos quantos desejam o seu crescimento como instituição de ensino. Em respeito a ela, muitos professores e alunos deram-se as mãos, na defesa de seu valioso patrimônio. Cada qual a seu modo, cada um com sua quota de coragem ou ousadia. E assim vai-se acrescentando uma nova página ao processo de luta unificada por ideais que não hão de passar, ainda que o sistema vigente insista em ignorá-los.

         Sim, o Liceu possui uma história secular. O solar é a prova material que nos remete a um tempo de opressão e desrespeito à dignidade humana. No decorrer dos anos, porém, esse espaço foi assumindo a função de possibilitar acesso ao conhecimento e à cidadania. Ao abrir suas portas para a educação de tantos, instaurou, em si e na nossa cidade, uma tradição eficaz e construtiva de combate à ignorância. Fez-se um posto, onde o aprendizado se fortaleceu, constituindo-se em oportunidade. A senzala escura e fria transmutou-se em salas de aula, a pompa e o luxo deram lugar à simplicidade dos uniformes, o pátio tornou-se o caminho de todos e, no lugar do silêncio imposto pela chibata, ergueram-se as vozes libertadoras da transformação.

         É nessa missão que ele segue em nossos dias, arduamente subsistindo em meio às  dificuldades, que culminaram na Greve e na Ocupação. Estas, que são formas legítimas de resistir a um sistema, cujos interesses desconsideram as mais simples necessidades de um funcionamento escolar eficiente.

       Na vanguarda com outras escolas estaduais, o Liceu de Humanidades de Campos está ocupado. E grande parte de seus professores permanece em greve. A despeito de alguns. Com o apoio de outros. Mas todos juntos estamos inscritos neste tempo. E só o futuro contará o depois dessa história...