Um Milagre no Metrô
Nino Bellieny 14/05/2016 16:42
Por Walter Karwatzki* Outra noite voltando de Novo Hamburgo, de metrô, um jovem me chamou a atenção por não estar usando uma roupa “quente”, pois a noite estava muito fria. Ele me perguntou se eu queria comprar umas pulseirinhas que ele fazia e eu disse que não. Deu para notar um sotaque muito forte castelhano. Eu perguntei de onde ele era ele respondeu: Piriapólis, Uruguai. Eu disse que conhecia e ele fez uma cara engraçada de espanto. Eu quis saber se ele não estava com frio e ele respondeu que sim, mas tinha vindo de Florianópolis e não tinha trazido roupa de frio. Na estação Unisinos entrou outro rapaz que ao que tudo indicava era um estudante retornando para casa, e sentou-se próximo a nós. A mesma pergunta o “uruguaio” fez ao estudante. Não obrigado, eu não uso pulseirinhas. A viagem continuou e o jovem estudante se levantou para preparar o seu desembarque e perguntou ao jovem uruguaio se ele não estava com frio, este respondeu que sim, que estava com “mucho” frio. O rapaz estudante, já em pé, colocou a mochila no chão, tirou a jaqueta e em um gesto que jamais eu tinha visto, retirou o blusão que usava por cima de uma camiseta e deu o blusão ao jovem que ficou sem saber o que fazer, assim como eu. Na estação Niterói o rapaz estudante desceu e eu e o jovem ficamos a nos olhar. Ele vestiu o blusão com cuidado e ficou me olhando, rindo e balançando a cabeça. Eu não sabia o que dizer. Na minha cabeça só pensamentos malucos como um anjo que estuda na Unisinos e anda de metrô! Que desprendimento aquele jovem tem com coisas materiais! Quem são estas pessoas? O que faz um jovem agir assim com um semelhante, estranho? Não consegui fotografar o momento que ele tira o blusão. Como eu já tinha, sabe lá por que, fotografado o jovem uruguaio de camiseta regata, deixei ele se vestir com o blusão que ganhou e o fotografei. Foi até bom eu não ter tentado fotografar o rapaz que deu o blusão, pois anjos não se fotografam. 13087278_10208126327108602_6808741646359357951_o *Walter é de Maceió-AL, mora em Porto Alegre-RS, professor e doutorando em Processos e Manifestações Culturais.

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