Ponto final — do teatro do oprimido ao papel de opressor
Alexandre Bastos 12/05/2016 11:43

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Papéis invertidos (I)

Mais de 30 anos após ocupar o Teatro de Bolso como vice-presidente da Associação Regional de Teatro Amador (Arta), o secretário de Governo Anthony Garotinho (PR) viu os papéis se inverterem. Se na década de 80 ele estava ao lado dos oprimidos, dessa vez ele é apontado como o opressor. Ciente da repercussão da ocupação por parte dos artistas locais, com apoio de nomes nacionais como o ator Tônico Pereira, Garotinho chamou para si a responsabilidade e foi ao espaço dialogar em nome da prefeita Rosinha.

Papéis invertidos (II)

Como a Folha Dois informa em sua capa desta quinta-feira (aqui), o vereador Mauro Silva (PSDB) esteve ontem no Teatro de Bolso e dialogou com o grupo que ocupa o espaço. Líder do governo na Câmara de Campos, Mauro tentou levar os artistas ao encontro de Garotinho, mas eles disseram que esperavam pelo secretário no teatro. Horas depois, Mauro chegou ao teatro ao lado de Garotinho e do vice-prefeito Chicão Oliveira (PR).

Alma desarmada

Alegando estar com a “alma desarmada”, Garotinho contou histórias sobre o seu início no teatro e falou sobre o seu encontro com Rosinha, quando os dois frequentavam grupos teatrais diferentes. Ao ouvir alguém dizer que ele “foi ator”, Garotinho rebateu, com bom humor: “Não fui, ainda sou ator”. Ciente das deficiências da política cultural do município, ele deixou de lado o seu personagem agressivo e entrou em cena como o Garotinho Paz e Amor.

Qual será a solução?

Após dizer que acha o “movimento bonito”, Anthony Garotinho afirmou que o seu objetivo não era estimular o fim da ocupação, mas a busca por uma solução. Ele prometeu manter o diálogo e solicitou uma pauta de ação, com a possibilidade do grupo assumir a administração do teatro em uma gestão compartilhada. Hoje, às 21h, haverá mais uma reunião no teatro para avaliar a pauta de reivindicações.

Dividir para reinar

Mesmo com o seu personagem mais tranquilo, Garotinho não abandonou os seus instintos primitivos. Ao detectar artistas com personalidades fortes, ele passou a tentar dividir o grupo. “Tem gente que quer solucionar, outros pretendem apenas confrontar”. É a velha tática: dividir para reinar.

Patrícia na mira

A presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Patrícia Cordeiro, foi alvo de diversas críticas dos artistas que ocupam o Teatro de Bolso. Alegam falta de diálogo, desinteresse por ações culturais e foco apenas no entretenimento e gastança com shows. Muitos artistas chegaram a cobrar a exoneração de Patrícia. Neste momento, Garotinho afirmou que não gostaria de “falar sobre pessoas” e deixou essa pauta para a noite de hoje.

“Você é o nosso exemplo”

Um dos atores disse que o jovem Garotinho de 1982, que lutou contra os poderosos e liderou a ocupação do Teatro de Bolso, serve como um exemplo para os artistas locais que cobram mais dignidade. No mesmo palco em que encenou e dirigiu muitas peças, o Garotinho de 2016, já grisalho, parecia refletir sobre a grande ironia do destino, como na dramaturgia dos antigos gregos que deu origem ao teatro. Resta saber se como comédia, ou tragédia.

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