?PT confia no efeito Clarissa?
16/04/2016 10:04

Arnaldo Neto / Aluysio Abreu Barbosa
Foto: Reprodução 

“Confiamos no efeito Clarissa (Garotinho, PR) para evitar o golpe. Não precisamos ter 172 votos para evitar arquivar o processo, o necessário é que eles não tenham 342”. A afirmação é do presidente do PT em Campos, André Oliveira, que na noite de ontem fazia panfletagem na rodoviária Roberto Silveira, para convidar a população para um ato contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, que será votado amanhã na Câmara Federal. O efeito Clarissa é o não comparecimento à sessão. A deputada já tinha declarado publicamente, nas redes sociais, apoio ao impeachment, mas seu pai e secretário de Governo de Campos, Anthony Garotinho (PR), esteve em Brasília para tentar viabilizar a terceira “venda do futuro”, em encontros com pessoas próximas a presidente. O saldo foi uma licença de 120 dias para ela.  Garotinho, em um breve encontro na noite de ontem, ainda tentou “anular” outro voto declarado a favor do impeachment: o de Paulo Feijó. Este, entretanto, não deu nem brecha para o ex-governador pedir ajuda para Dilma. Mesmo assim, o jornalista Ferenando Molica, de O Dia, chegou a informar que Garotinho tinha conseguido convencer Feijó a não comparecer à sessão, fato desmentido pelo próprio deputado, que gerou a exclusão da nota no site do jornal e um esclarecimento de Molica nas redes sociais.

A licença de Clarissa inviabiliza seu voto e o do seu suplente Marcelo Delaroli, do DEM, que assumiria e votaria, caso seu afastamento fosse de 121 dias ou mais. O jornalista Ricardo Noblat, de O Globo, foi o primeiro a confirmar a licença e salientar o fato de o pai dela ter participado de encontros na capital federal: “Sabe-se lá com quem, ontem (quinta-feira), o ex-governador do Rio de Janeiro, Garotinho, conversou no Palácio do Planalto… E sobre o que ele tratou”.

Oficialmente, o secretário de Governo foi tentar viabilizar a terceira “venda do futuro”, de Campos, no valor de mais R$ 1 bilhão, que comprometeria o município até 2031, mas sem o qual governistas admitem, em off, que não haverá dinheiro nem para pagar ao servidor, dada a ruína das finanças públicas no governo Rosinha Garotinho (PR).

Durante a semana, como a Folha mostrou na edição de ontem, outras notas de jornalistas da mídia nacional dando conta de uma aproximação entre Garotinho e Dilma. Lauro Jardim, em O Globo, falou de um almoço do secretário de Governo de Campos com deputados petistas. Ele negou. Murilo Ramos, no site da revista Época, informou sobre um encontro com Ricardo Berzoini, um dos principais articuladores contra o impeachment.

Em seu blog, Garotinho confirmou a licença de Clarissa, assim como as informações dos encontros no Planalto e com Berzoini. Ao tentar justificar a licença da sua filha e deputada, Garotinho disse: “Todo o cidadão minimamente informado sabe que após o sétimo mês de gravidez, os médicos proíbem as gestantes de viajar de avião”. Ele só não explicou porque, então, a “licença” de Clarissa foi de 120 dias, não 121 ou mais, o que permitia ao seu suplente assumir e votar em seu lugar. O secretário de Governo disse ainda que associar a licença a qualquer benefício ao município é “desonestidade intelectual” e coisa de “pessoas inescrupulosas”.

Pouco depois do posicionamento do ex-governador em seu blog, Lauro Jardim informou que, grávida de sete meses e irredutível quanto ao seu voto e participação na sessão do impeachment, Clarissa teria recebido o ultimato do pai: “Tudo bem você votar a favor do impeachment. Mas no dia seguinte você tira o Garotinho do seu nome”.

Opção até agora é pelo silêncio

Apesar de usar as redes sociais intensamente, Clarissa ainda não se manifestou com relação aos motivos da licença às vésperas da votação do impeachment. Na quinta-feira, a Folha entrou em contato com o assessor de imprensa da deputada para saber a posição sobre os boatos, de até então, sobre a mudança de seu voto, como se especulava que seria a pedido do pai. Nenhuma resposta foi obtida.

Ontem, após a confirmação na Câmara dos Deputados sobre a licença da deputada, novo contato foi feito com a assessoria, mais uma vez sem resposta. A última postagem de Clarissa em seu perfil de uma rede social (até as 23h de ontem) foi no dia 13 de abril, em comemoração ao “dia do beijo”. Por lá, ela não tem escapado das críticas de seus seguidores.

“Suplente votaria a favor”, diz Júlio Lopes nas redes sociais
Se a licença de Clarissa fosse de 121 dias ou mais, o suplente Marcelo Delaroli assumiria a tempo de votar na sessão do impeachment de amanhã. Segundo o deputado federal Júlio Lopes (PP), que defende o impeachment, inclusive com direito a discurso no tempo destinado ao seu partido na sessão de ontem, Delaroli votaria a favor do impedimento da presidente. Lopes também criticou a decisão de Clarissa.

“O voto do Marcelo seria a favor do impeachment. Mas para isso, se estivesse aliada ao povo brasileiro, Clarissa deveria ter tirado licença de 121 dias ou mais. Infelizmente, a deputada não está com a gente! Resolveu dar uma forcinha ao governo. Obrigado, deputada, pelo voto que tirou de nós todos. O estado do Rio de Janeiro deve estar muito orgulhoso da sua nobre decisão!”, ironizou Júlio.

Delaroli é de Maricá e ocupa o cargo de subsecretário de Governo da Região Metropolitana no Estado do Rio. A Folha tentou falar com o suplente, mas não obteve êxito.

No placar do impeachment do jornal O Estado de São Paulo, até as 22h de ontem, entre os deputados federais do Rio de Janeiro constava que 35 deputados são favoráveis ao impeachment, 11 são contra e o nome de Clarissa, licenciada, aparece como “indecisa”.

Movimentos contra e a favor ao impeachment em Campos
O dia da votação do impeachment da presidente Dilma na Câmara Federal será marcado por protestos contra e a favor ao impedimento em Campos, ambos às 14h, horário que está agendado para o início da sessão em Brasília. Ontem, a “Frente Brasil Popular” realizou uma panfletagem para um ato contra o impeachment, que será realizado na praça do Liceu, enquanto um movimento a favor acontecerá na praça do Santíssimo Salvador.

Presidente do PT em Campos, André Oliveira acredita que o processo pode ser arquivado na Câmara, com as abstenções dos indecisos e movimentos como o de Clarissa Garotinho. “Hoje (ontem) são 52 deputados indecisos. Muitos podem abster-se”, afirmou durante a panfletagem.

Para André, o processo de impeachment é um “golpe”. “Querem nos derrotar? Que seja nas urnas, em 2018. Não concordamos com muitos atos da prefeita daqui, mas vamos derrotá-la nas urnas”. O movimento conta com petistas, estudantes das unidades federais e estaduais de ensino técnico e superior, membros do Sepe, Sindipetro, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outros movimentos sociais.

Também na panfletagem da noite de ontem, Sérgio Borges, diretor financeiro do Sindipetro, diz que há outros interesses no pedido de impeachment. “Não há crime, desta forma é golpe. Eles querem retroagir, impedir os avanços sociais que conquistamos nos últimos 13 anos”.

No ato pró-impeachment, na praça do Santíssimo Salvador, às 14h, será instalado um telão para que os participantes possam acompanhar ao vivo a votação na Câmara Federal. A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) declarou apoio ao movimento.

Nos últimos protestos, os a favor do impeachment reuniram número bem maior que os contra. No dia 31 de março, ato a favor do governo reuniu em Campos, segundo a Polícia Militar e os organizadores, cerca de 150 pessoas. Já no último a favor do impedimento da presidente, no dia 13 de março, os organizadores estimaram que cerca de 5 mil pessoas tenham participado. Já a Polícia Militar calculou em cerca de 1,5 mil.

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