Pesquisa: alternativa no controle de pragas
04/04/2016 09:04

Fotos: Divulgação

Minimizar o uso de agrotóxicos nas lavouras e controlar pragas agrícolas, que em alguns casos são responsáveis por até 100% de perdas na produção. Estes são os principais objetivos de uma pesquisa que foi buscar na restinga da região alternativa para combater insetos, ácaros, nematoides, vírus, bactérias e fungos que infestam as lavouras. O estudo, que vem sendo desenvolvido há cerca de quatro anos pelo Laboratório de Química e Biomoléculas (Laquibio) do Isecensa, já apresentou resultados preliminares positivos no controle de pragas do abacaxi e do coco. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil é o país que mais usa agrotóxicos no mundo, embora não seja campeão mundial em produção agrícola.

O micologista (especialista em fungos) Vicente Mussi Dias participa da pesquisa e explica que na região as principais pragas que atacam as lavouras de abacaxi são a Fusariose, causada pelo fungo Fusarium; a broca dos frutos e a cochonilha (que são insetos); além da podridão negra, causada pelo fungo Thielaviopsis paradoxa. Outras duas podridões basais de frutos de coco, causadas pelos fungos Lasiodiplodia theobromae e Ceratocystis paradoxa também preocupam os agricultores.

— Os estudos em laboratório são bastante promissores e já demonstraram efeito positivo contra algumas dessas pragas. Os resultados vão ser repetidos também no campo para se confirmar a eficiência do controle sob a influência de todos os fatores do ambiente local — disse o especialista.

Uma das vantagens da pesquisa, segundo o professor do Isecensa, é a utilização dos recursos naturais da região, que não são nocivos ao meio ambiente e à saúde humana. No Laquibio, além dos testes biológicos com os extratos dos fungos no controle de doenças de pós-colheita, Vicente explica que foram ampliados os ensaios para verificar a ação sobre a broca da cana de açúcar e a lagarta do cartucho do milho, insetos-praga de importância mundial.

— Ao invés de utilizarmos diretamente as plantas da restinga, isolamos os fungos que vivem dentro delas, em íntima relação, e os cultivamos para que eles produzam compostos a serem testados em nossos testes biológicos — esclarece Vicente.

A primeira etapa dos trabalhos já se encontra praticamente concluída, que é o estabelecimento de uma espécie de banco de dados de referência para que pesquisadores possam utilizar os fungos da região sem a necessidade de ir buscá-los novamente na natureza. “Numa segunda etapa, iniciamos a produção de compostos e a avaliação deles por meio de testes biológicos in vitro e in vivo”, esclareceu.

Proteção — A pesquisa realizada em Campos ainda está catalogando o patrimônio genético da restinga, um dos biomas mais degradados do Brasil atualmente e que corre risco de extinção, inclusive no Norte Fluminense.

Produtor contabilizou prejuízo no campo

Depois de perder parte da lavoura de abacaxi com a chuva no ano passado, o produtor Edson Gomes de Azevedo conta que a Fusariose — que em estágio avançado pode afetar todas as partes da planta — se encarregou de acabar com o que sobrou dos abacaxizeiros, resultando em prejuízo de 100%.

Ele, que há 15 anos tem plantações no município de São Francisco de Itabapoana, maior produtor regional de abacaxi, avalia que pesquisas no assunto são bem-vindas e podem auxiliar no fortalecimento da agricultura na região Norte Fluminense.

— No ano passado, o que a chuva não levou embora, a praga consumiu e acabei perdendo toda a plantação de abacaxi. Novos métodos, mais eficazes e menos tóxicos, de controle de praga vão ser aliados importantes para o homem do campo salvar as lavouras. Quando a doença não mata a planta, ela pode danificá-la, reduzindo bastante seu valor comercial. Em alguns casos, impossibilita a venda — diz Edson Gomes de Azevedo. (A.N.)

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