O PROBLEMA NÃO É QUANDO A CICLOVIA CAI
Nino Bellieny 25/04/2016 22:40

Por Juliana Mynssen

O problema não é quando a ciclovia cai. Muitas obras caem e dão errado por aqui e pelo mundo. Assim como aviões, que não deveriam cair, mas caem. O problema é que era num lindo dia azul de feriado e carioca adora lindos dias azuis de feriado. O problema é que duas pessoas morreram. O problema é que estamos nos preparando para uma Olimpíadas que não estamos preparados. O problema é que as pessoas morrem quando não estamos preparados. O Mergulhão da Barra já teve alguns pedaços caídos por aí. De tão mal feito, caem os ônibus. As obras de expansão do metrô também deixam buracos por aí. Canos estouram. Das avenidas, dos hospitais. O teto do hospital caiu hoje. O problema é que as pessoas morrem. O Engenhão abre e fecha, o Maracanã abre, fecha, reforma. O problema é que o prefeito avacalha, debocha e faz piada. Do estado, da cidade, das mulheres, de Maricá. Enquanto o prefeito faz piada e vai buscar a tocha na Grécia, algumas pessoas morrem. Enquanto ele faz deboche, obras caem e pessoas morrem. Difícil achar graça. Em momento pré-olímpico, 6 baleados. 5 baleados, 3 baleados. Toda noite tem baleado e mortos nos hospitais. Tem baleados, suspeita de H1N1, Zika e seus companheiros. Em momentos de violência, epidemias, desemprego e perdas de planos de saúde, as UPAs fecharam. Fecharam por falta de pagamento, recursos e gestão. As UPAs fecharam e os buracos continuam sendo abertos, as vigas sendo levantadas, os cones e tapumes espalhados pela cidade. Enquanto o governador faz quimioterapia em hospital privado, o vice-governador já contrata mais gente para sua equipe. E os aposentados estão sem salário. Os médicos e enfermeiros dos hospitais do estado sendo demitidos, cortados gastos, redução de carga horária. Mas, vejam, achei que faltavam médicos? Faltam empregos. Faltam empregos e falta contraste para exame. Falta luva. Faltam filtros de respiradores. Essa semana morreram dois. Morreram três. Ensino para alunos e acadêmicos que a morte é mais comum e banal do que pensamos. A cada hora, deve morrer um por aí. Esperando sangue, vaga de CTI, maca, gaze, ambulância. Entre vigas, cones, propaganda e política, estamos sem luvas. E aí, para esquecer a morte, a violência, a incompetência, a corrupção, os desvios, os políticos, as contas, os juros, as taxas, o desemprego, o Bolsonaro-ditador e o Jean-cuspidor, você resolve sair e dar uma volta de bicicleta. O problema é que até a ciclovia cai.

  JULIANA JULIANA MYNSSEN ft-ArquivoPessoal

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