Desquerida Inveja Como Vai?
Nino Bellieny 16/04/2016 17:52
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Nino Bellieny

Sei que a senhora anda muito ocupada. Naturalmente, já carrega o peso de vigiar quem está bem, quem comprou, quem vendeu, quem tem muito talento, e agora, com as campanhas eleitorais, suas preocupações aumentam e aquilo que é rotina se transforma em pesadelos. Suas noites de insônia, seus dias vazios, suas longas ligações telefônicas, seus plantões nos grupos online e redes sociais, para saber da vida de cada um, zombar de outro, fofocar de todos, a deixam muito estressada. Comparar-se aos demais deve ser muito cansativo, principalmente sabendo-se tão frágil e mesquinha.

Seus começos de conversa são parecidos: não quero ser melhor do que ninguém, mas, fulano... A senhora visita todo mundo, principalmente aqueles que se dizem imune aos seus apelos. Sedutora, envia insinuações discretas, inofensivas a princípio e que depois enlouquecem. Sabemos que utiliza-se de outros sentimentos para disfarçar seus propósitos. Ciúme, mágoa, rancor. Em uma escalada cujo destino maior é o ódio, quando despida de seus pudores se revela inteira em sua total incapacidade de não amar.

Desquerida Inveja, quando começamos a prestar atenção em seus ataques sutis, em suas flechadas de cupido culpado, aprendemos a nos defender de sua leviandade, mas, leva tempo. E milhões de seres ainda se rendem aos seus encantos. Não estamos realmente todos imunes. Suas artimanhas se renovam em progressão fantástica enredando até a quem de você tem se livrado por meio do autoconhecimento e do perdão das próprias frustrações inventadas.

3

Tem ainda a senhora um longo reinado pela frente. Almas a serem sugadas gota a gota de suas melhores essências, levadas para sua destilaria onde os bons sentimentos se decantam em intriga, perfídia e dissimulação. Um elogio ao outro é ofensa à senhora. Qualquer sorriso autêntico a incomoda. E seu olhar, D. Inveja, revela quem a senhora é, só os tolos não percebem. E são eles, seus humanos de estimação.

Dentro dos corações dos que mais dizem ser suas vítimas, mora refestelada. Dos que dizem não tê-la, extrai suas melhores notas musicais. Seu alvo são os independentes, os criativos, os cheios de sucesso, os maiores e melhores do que, a senhora e seus diletos filhos da escuridão, em tudo. Suas tentativas de derrubá-los se agigantam, mas, mesmo com a sua experiência de Velha Dama da Humanidade, cujos olhos viram de tudo e a língua bifurcada tantas desgraças fez, eles sempre estarão um passo à frente.

Essa é a sua sina: desejar o que não é seu, murchar com a alegria alheia, tentar destruir o que jamais conseguirá criar.

Nada afetuosamente, um desabraço e até nunca.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Nino Bellieny

    [email protected]

    BLOGS - MAIS LIDAS