Na Lava-Jato, a relação entre Governo Rosinha e Odebrecht
27/03/2016 10:03

Suzy Monteiro

Uma amizade para toda obra. Os nomes da prefeita Rosinha, da filha, a deputada federal Clarissa, e do marido e secretário Anthony Garotinho na lista da Odebrecht, divulgada no último dia 23, não refletem ligação recente entre a família e a empresa. Em maio de 2009, início do primeiro mandato de Rosinha, a Folha da Manhã antecipou que a Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO), incorporada ao Grupo Odebrecht, seria a vencedora da concorrência pública para construção das primeiras 5.100 casas do Programa Morar Feliz. Após a denúncia, os envelopes ficaram lacrados por meses, mas, em setembro, veio a confirmação. Nos últimos tempos, porém, a relação “azedou”: A empresa desmontou os canteiros de obras em Campos e teria a receber da prefeitura cerca de R$ 30 milhões.

Em 29 de maio de 2009, o Ponto Final, da Folha da Manhã, trouxe uma nota apontando que, segundo fontes, a CBPO, incorporada ao Grupo Odebrecht, seria a vencedora da concorrência pública nº 004/2009, que ocorreria na manhã daquele dia. A licitação era para construção de 5.100 casas populares, no valor de R$ 357.963.677,57. A nota ainda mostrava que o ex-secretário municipal de Obras e então coordenador da mesma secretaria, Antonio José Petrucci Terra, o Tom Zé, havia trabalhado na Odebrecht antes de ingressar no governo Rosinha.

Os envelopes, porém, não foram abertos naquele dia. Eles permaneceram lacrados por decisão da Procuradoria do município, após o Tribunal de Contas do Estado (TCE) ter pedido explicações sobre o assunto.

No dia 23 de setembro do mesmo ano, foi divulgado no Diário Oficial do Município o resultado da concorrência pública, confirmando o que o Ponto Final havia adiantado meses antes: a CBPO foi a vencedora da licitação.

Na ocasião, o então procurador-geral do município de Campos e hoje advogado do PR, Francisco de Assis Pessanha Filho, informou que a licitação foi realizada de forma transparente e dentro da legalidade.

— A Construtora Odebrecht é considerada uma das maiores empresa de construção civil do mundo. Sendo assim, para executar um trabalho desse porte, como a construção de 5.100 casas populares, somente uma empresa deste tamanho pode estar disputando. Numa licitação vence realmente que é o melhor — disse à época.

A Associação de Empresários da Construção (hoje desativada) também contestou no Ministério Público Estadual a licitação. O MPE, através do promotor Êvanes Antônio Soares, solicitou parecer da Procuradoria Geral do Município. Após a manifestação da Prefeitura, ele determinou o arquivamento do caso.

Em fevereiro de 2010, o blog Ponto de Vista, de Christiano Abreu Barbosa, mostrou outra “ação entre amigos”: Odebrecht cedeu, sem nenhum ônus, os direitos sobre 20% da licitação vencida por ela para a Construsan. Foram aproximadamente R$ 72,4 milhões de obras para a empresa.

Canteiros do Morar Feliz desativados

Dois governos depois, com a segunda fase do programa Morar Feliz abalado pela crise financeira e com a Odebrecht envolvida no escândalo da Lava Jato - no capítulo mais recente houve a divulgação da chamada superlista com nomes de mais de 200 políticos, entre eles, três da família Garotinho - a relação entre governo e empresa já não é um mar de rosas.

A construtora desativou os canteiros de obras no município e teria a receber cerca de R$ 30 milhões.

Semana passada, ex-funcionários chegaram a afirmar que não receberam direitos trabalhistas ao serem demitidos, mas isso foi negado pela empresa e pelo sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil: “A Construtora Norberto Odebrecht (CNO) esclarece que os direitos de todos os trabalhadores que atuaram nas obras do Morar Feliz, suspensas em janeiro deste ano, foram cumpridos e quitados pela empresa. Diante da suspensão das atividades e seguindo as normas trabalhistas vigentes, a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) da obra foi destituída e seus integrantes foram indenizados, bem como todo o restante do efetivo”, disse a empresa através de nota.

A CNO reforça ainda que sempre esteve em permanente diálogo com o sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Campos Norte Noroeste (Sticoncimo – RJ), representado pelo Sr José Eulálio”, diz a nota na integra.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    BLOGS - MAIS LIDAS