Ele Viu o Mundo Pelo Cinema e Foi Atrás
Nino Bellieny 31/03/2016 20:16
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MEU LUGAR

JAMIL MOREIRA CASTRO* O cinema! Este é o meu primeiro pensamento quando lembro de Cardoso Moreira. Para mim era um templo, mais importante do que qualquer igreja. Domingo, então, era especial, porque tinha matinê e, à noite, o povo ia rezar e eu ia para o meu templo, ver as imagens que me permitiam viajar por um mundo que sonhava em conquistar. E a televisão, na medida que as imagens deixavam de ficar precárias e não desapareciam por até uma semana, foi se tornando a régua e o compasso para arquitetar o meu plano de fuga. Hoje, dou risadas de tudo isso. Fugi, mas a minha Cardoso Moreira não sai do meu pensamento. Lembro e acho graça da minha revolta e de culpar Deus por ter me feito morar em uma cidade tão pequena. Quem me conhece, nunca cansou de ouvir que a única saída da cidade era para esquerda em direção ao Rio de Janeiro. Ir para a direita nem pensar, retrocesso total, sempre torcia o nariz para dar uma volta ou ir a um baile na cidade vizinha. São tantas as referências, que jamais se apagarão do meu DNA. Seja em Salvador, no Rio ou em Paris, sempre me pego falando que “não existe pão melhor do que o da padaria de Seu Joãozinho”. E o picolé? “Duvido que alguém faça um de coco ou abacate como os do bar do Gelson”. Não é fácil esquecer dos cafés da tarde e a Boate Férias na casa da Dinha (Privatti), do tira-gosto com a linguiça do açougue de seu Nilinho, os jambos do quintal de Dona Zezé, as tardes na chácara sentado com uma faca ao lado de um saco de laranja na varanda de Tia Lurdinha. f1_gr E não escondo a minha felicidade, quando alguém diz que Cardoso nunca teve uma loja como a de Dona Jacira e seu Jair. Este foi o maior parque de diversão da minha vida! Ajudá-los a fazer pedidos de brinquedo de Natal e ficar triste quando eram vendidos. Ainda menino, lembro de ficar sentado na frente da loja esperando os caixotes da Estrela, que chegavam de carroça vindos da estação de trem. Pequena sim, mas atrasada nunca. Tínhamos as melhores festas e carnavais da região. O rio substituía a piscina e os galpões, um clube que a cidade demorou a conquistar. Quer fazer um baile, uma noite hi-fi? Arrume um galpão, varra o chão, pega mesas e cadeiras na vizinhança e contrate uma banda! E se é a festa tão esperada da cidade ou de grande relevância, vá na costureira e faça uma roupa em total segredo ou compre em Campos, mas não mostre a ninguém. Nunca me senti desconectado do mundo quando morava em Cardoso. Embora com uma alma interiorana, nunca tive dificuldades em atravessar fronteiras. Nem pensar nessa velocidade de informação global que temos hoje, mas haviam livros, revistas, discurso, estudos, quer dizer, cultura! Éramos modernos sim! Quando volto fico feliz em ver que a cidade cresceu, tem uma qualidade de vida muito superior daquela que deixei para trás, mas, fico triste também em saber que não amadureceu politicamente e vem sendo castigada pelos seus dirigentes. Uma cidade dividida por uma política que se alterna pelo poder e que não pulsa de amor pela cidade. Cardoso Moreira tem que se unir em torno de uma nova força, jovem e capacitada para tratá-la com o Carinho que se tornou o seu símbolo. É esta cidade que espero encontrar sempre que pego a estrada com a frase de Lulu Santos na cabeça: “Estou voltando pra casa..." *BREVE GRANDE HISTÓRIA DO AUTOR DA CRÔNICA
  • jamil
O cardosense  Jamil, depois de cursar o 2º grau em Campos dos Goytacazes, ainda adolescente foi para o Rio de Janeiro, no finalzinho da década de 70. Fez três anos de Química Industrial na Nuno Lisboa e trocou radicalmente: escolheu o Jornalismo na Facha – Faculdade Hélio Alonso. Pegou um avião e foi pra Santa Catarina, no meio do caminho não acabou a gasolina. Pelo contrário, chegou, viu e venceu: trabalhou no jornal O Estado, A Notícia e na Prefeitura de Florianópolis. De lá, foi fisgado pelo sol da Bahia. Mora em Salvador, tendo trabalhado 18 anos na cadeia de jornais Correio, onde criou e foi editor do caderno Bazar (nome da loja dos pais dele). Antes de abrir a sua primeira empresa, assessorou a Timbalada e Carlinhos Brown, com os quais ficou por 13 anos. Com a Via Press e a atual Como Comunicação Integrada, foi assessor de imprensa de Ivete Sangalo, Araketu, Jammil, Margareth Menezes, Netinho, Daniela Mercury e dos eventos Festival de Verão e Camarote Daniela Mercury. Atualmente passou a contar com grandes clientes corporativos e continua sendo um dos líderes na cena cultural da Bahia, assinando a comunicação de Bell Marques, Licia Fabio, Camarote de Marta Góes e a banda Oito7Nove4.  

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