Lembranças de Um Capitão do 56º BI
Nino Bellieny 02/03/2016 17:19
O BNB prossegue homenageando o 56-BI, sediado em Campos dos Goitacazes há exatos 40 anos. O depoimento é de um Capitão R/1, cujas origens da carreira são gêmeas do Batalhão de Infantaria.   gildo 56º BI - A ÚLTIMA FOTO  Gildo Henrique Vendo o álbum de fotografias militares que há 40 anos ocupa lugar de destaque em prateleira de minha residência, podemos perceber um recruta magrelo no treinamento físico, na marcha para o Farol de São Thomé e num posto de sentinela. Tendo me alistado em 1974, quis a providência divina que a seleção fosse atrasada em um ano para que eu pudesse me incorporar às fileiras do Exército Brasileiro na primeira turma de soldados campistas do 56º Batalhão de Infantaria. Mas Deus reservou pra mim uma carreira que teve início em 15 de janeiro de 1976. A história do quartel, que “faz parte da vida da Campos tão querida”, inicia-se com a criação do 14º RI, em 03 de dezembro de 1935, tendo sido transferido para esta terra em 12 de setembro de 1975, vindo a ocupar as mesmas instalações da antiga Fazenda Piedade, antes Escola de Aprendizes de Marinheiro inaugurada em 1910, e que já foi Posto de Remonta e abrigou a Coudelaria de Campos. Desde que aqui chegou, o nosso 56º BI tem acompanhado a história dos Campos dos Goytacazes, em perfeito entrosamento com sua comunidade, seja no apoio a eventos, seja com a solidariedade da Ação Comunitária e da Defesa Civil, em momentos de festa e de dificuldades. Com uma enorme área de responsabilidade estratégica, envolvendo diversos municípios do Norte-Fluminense, o Batalhão, durante exercícios de guerra regular de Ataque e Defesa, treinamentos de Defesa Interna e acampamentos, reconhece todos os rincões de sua área de atuação, chegando a níveis operacionais dos mais elevados, apesar de suas limitações. Seus quadros, com criatividade e abnegação, sempre souberam compensar a falta de meios na qualificação de nossos infantes, formando nossas reservas e, principalmente, forjando o caráter de nossos jovens, nessa excepcional escola de civismo. ...Fotografias da década de 70... Enquanto terminava um curso na Escola Técnica Federal e vencia o Festival da Canção de Campos, aquele recruta magrelo já tinha concluído o Curso de Formação de Cabos e ingressado no primeiro Curso de Formação de Sargentos Temporários do Brasil. Lá se foi o menino da zona rural conhecer a cidade grande, e, mais tarde, de mala e cuia para as Minas Gerais, para a Escola de Sargentos das Armas. Ao regressar, pôde colocar em prática todos os ensinamentos apreendidos naquela escola de muros amarelados. 12822645_1054867797868001_32463462_o Agora, o álbum de fotografias já mostra um sargento com seu grupo de combate na Lagoa de Cima, com a Seção de Canhões na Fazenda Sertão e no pódio das corridas. Mais adiante, um instrutor de Tiro-de-Guerra. Na outra página numa voadeira pela Selva Amazônica, e, na outra, representando o Brasil em terra estrangeira. Uma série mostra os trabalhos em Brasília. E, finalmente, as páginas que reproduziram nosso ir e vir pelo Norte-Fluminense, no papel de delegado do Serviço Militar. 56º BI, dizem que estás de malas prontas para deixar esta planície. Deixarás de ver seus componentes de “verde-oliva se misturando ao manto verde dos canaviais”, como disse o saudoso poeta Antonio Roberto Fernandes. Mas tua majestosa sede, neste cenário exuberante, será testemunha, não só das reuniões de teus estados-maiores, mas também dos saraus dos cafés literários; não só das vigílias para a garantia da lei e da ordem, mas, também, das aulas de tuas crianças-cidadãs. 56º BI, tu que tens sido a Sentinela Avançada dos Campos dos Goytacazes, que recebeste a denominação história de Batalhão Capitão Manuel Theodoro em homenagem ao bravo campista, - primeiro a se alistar como Voluntário da Pátria -, tens um pavilhão de comando que, cá deste lado do Rio Paraíba, assistiu a partida de nossos pracinhas para o Teatro de Operações da Itália, quando ainda nem eras nascido e já se fazia presente “no chão que viu nascer tantos heróis”. Não te esqueças, batalhão, quando trocares os goitacazes por outras tribos de guerreiros audazes, cantados na tua canção, de que a gente desta cidade que o acolheu é “um povo responsável do tempo que virá enquanto a altaneira Bandeira Brasileira tremular na planície goitacá”. Folheio as últimas páginas do álbum de fotografias, que encerrou uma carreira que se confunde com parte da minha vida. De todas as fotos, a mais bela é aquela em que, ao lado de um canhão, numa "escola de muros amarelados", um militar sorri. Por sobre sua cabeça lê-se a frase: “Sargento: elo fundamental entre o comando e a tropa”. Obrigado, Batalhão, por me permitires a prática de tão nobre missão. Parabéns, 56º BI! Tu me ensinaste a caminhar. Escolhi a Infantaria - a Rainha das Armas -, a luta, o sacrifício e a inquietude dos dias. Trilhei por “tempestades, chavascais, charcos e espinhos”. Dei umas voltas por aí e aqui estou novamente para te desejar felicidades. Se fores mesmo embora, não me permitas que eu veja fecharem tuas portas e deixa-me ainda, em tua fachada, tirar tua última foto. gildo 12788198_1054869504534497_1936982673_n a1 12736216_1054869651201149_614421454_n RELEMBRE TEXTO QUE ABRIU A SÉRIE DE HOMENAGENS AO 56 AQUI

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