Artigo atual e interessante sobre níveis de atividade física preconizados e o equilíbrio necessário para não passar do ponto. Reflexão interessante sobre realidades distintas de cada um onde na sua essência faz a interessante colocação: muito é melhor que pouco; pouco é melhor que nenhum; e o muitíssimo? Boa leitura e bons treinos!
Excetuando a interrupção do tabagismo, possivelmente nenhuma outra conduta supera a atividade física na prevenção primária e secundária de diversas doenças, particularmente as cardiovasculares.
Estudos prévios indicam que programas de reabilitação cardíaca, com foco central nos exercícios físicos, seriam capazes de reduzir a mortalidade total em 27% e a mortalidade cardiovascular em 31%.1 Recente revisão sistemática, também da Cochrane, envolvendo 148 estudos controlados com 97.487 pacientes, ratificou que programas de reabilitação cardíaca reduzem a admissão hospitalar, melhoram a qualidade de vida e reduzem a mortalidade, identificando-os como seguros e efetivos.2 Portanto, os estudos que expressam o valor da atividade física tornam-na indiscutivelmente essencial no tratamento preventivo primário e secundário da maioria das cardiopatias. Situar-se abaixo ou acima da condição aeróbica máxima prevista para a idade e sexo implica, respectivamente, em maior ou menor mortalidade por qualquer causa. Portanto, elevar o consumo máximo de oxigênio, entre vários outros aspectos favoráveis que também são possibilitados pelo exercício físico regular, deve ser um dos objetivos a ser alcançado.3
A atividade física durante o lazer ou na prática de esportes contribui decisivamente para o aumento da condição aeróbica máxima. Entretanto, estudos recentes têm associado o exercício exaustivo, muito intenso e muito frequente, não com um acréscimo na expectativa de vida, mas com uma ausência adicional de benefício em relação àquele de intensidade leve e moderada ou levemente intenso, ou seja, exercícios extremos ou realizados em número de horas excessivas não acrescentariam redução da mortalidade em relação aos menos intensos, podendo, inclusive, predispor a elevação do risco cardiovascular.5-12
O mínimo de atividade física preconizada é de 150 minutos semanais, ou seja, 30 minutos, cinco dias por semana, em intensidade moderada. Estudos apontam que este mínimo recomendado é capaz de reduzir em 14% o surgimento da doença coronariana e em 20%, no caso de 300 minutos por semana.13
Por outro lado, acima de dez vezes este mínimo recomendado, os benefícios parecem reduzir, evidenciando que a relação da resposta benéfica ocorre até uma determinada dose, não ocorrendo uma adequada relação dose-resposta nas frequências mais elevadas de exercício (Figura 1).4
Curva com característica morfológica com alguma semelhança nos foi apresentada em outra publicação recente. Intensidades leve e moderada de exercício, avaliadas em relação ao tempo, a distância percorrida, a frequência semanal, a intensidade e a velocidade da caminhada ou corrida, reduziram, na prevenção primária, a mortalidade total e cardiovascular, porém os benefícios se reduziram com o exercício exaustivo (Figura 2).5
Avaliando o número de horas de atividades intensas semanais realizadas nos momentos de lazer de pacientes com doença coronariana estável ficou evidente que o grande benefício obtido em um menor número de horas de exercício se reduz quando um bem maior número de horas é realizado (Figuras 3 e 4).8
Outro estudo recente mostrou, uma vez mais, a maior mortalidade em cardiopatas que realizam caminhadas ou corridas de maior intensidade em contraste com a evidente redução da mortalidade nas atividades de intensidades leve e moderada (Figura 5).9
O The Copenhagen City Heart Study, cujos resultados foram recentemente publicados, uma vez mais apontou para uma queda da redução da mortalidade da corrida extenuante em relação àquelas de intensidade leve e moderada, Os autores não encontraram diferença na mortalidade entre os corredores de alta intensidade em relação aos sedentários, inversamente àquelas de leve e moderada (Figura 6).7
Os possíveis riscos que podem ocorrer com os exercícios muito intensos, assim como eventuais discussões que possam advir sobre o tema, não devem trazer algum aspecto que possa interferir no conceito dos inúmeros e indiscutíveis aspectos benéficos – e a redução da mortalidade é somente um deles – que o exercício físico proporciona à imensa maioria dos saudáveis e dos cardiopatas. O estímulo ao exercício e a inclusão de pacientes em programas de reabilitação cardíaca deve ser intensamente incrementado, pois sabemos que ainda poucos pacientes dela participam e o índice de absenteísmo às sessões é internacionalmente elevado, principalmente nos idosos.16
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- Anderson LJ, Taylor RS. Cardiac rehabilitation for people with heart disease: na overview of Cochrane systematic reviews. Int J Cardiol 2014;177(2):348-361.
- Gulati M, Black HR, Shaw LJ, Amsdorf MF, Merz CN, Lauer MS et al. The prognostic value of nomogram for exercise capacity in women. N Engl J Med 2005;353(5):468-475.
- Aren Hannah, Moore S, Patel A, Hartge P, Gonzalez AB et al. Leisure time physical activity and mortality. JAMA Intern Med. Published online April 6, 2015.
- Lavie CJ, Arena R, Swift DL, Johannsen M, Sui X, Lee D et al. Exercise and cardiovascular system. Circ Res 2015;117:207-219.
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15. Heidbuchel H, La Gerche A. The right heart in athletes. Evidence for exercise-induced arrhytmogenic right ventricular cardiomiopaty. Herzschrittmacherther Elektrophysiol 2012;23(2):82-86.
16. Doll JA, Hellkamp A, Ho PM, Kontos MC, Whooley MA, Peterson ED, Wang TY. Participation in cardiac rehabilitation programs among older patients after acute myocardial infarction. JAMA Inter Med. Online August 03, 2015.
17. Mendes FRS, Cunha TB, Tomelin MLS, Serra SM. Evidências de melhoras funcionais em paciente com cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito, bloqueio atrioventricular total e morte súbita abortada submetida a programa de reabilitação. 2015, tema livre apresentado no 70o Congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
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Sobre o autor
Marcos Almeida
[email protected]Marcos Almeida é assessor esportivo, especialista em Ciência da Musculação e mestre em Ciência da Motricidade Humana.