Avaliando a pisada (I) (Por Sileno Junior)
Marcos Almeida 14/10/2015 06:19

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Estes dois artigos a seguir, de autoria do Msc. Sileno Junior, dizem respeito a um assunto bem requisitado por todos os que praticam a corrida de rua, de trilha, montanha e etc.

É sobre tênis de corrida, tipos de pisada (sua importância de fato), e principalmente como escolher o seu calçado esportivo.

Como ele diz no último parágrafo "Importante ressaltar que devemos sempre procurar um profissional especializado para avaliar e orientar. Como falei anteriormente existem as características individuais, diante das diferenças entre o atleta recreacional, amador e profissional".

Boa leitura e bons treinos!

Já se observou correndo?

Diante da teoria darwinista da evolução da espécie, o homem sofreu algumas modificações posturais ao longo do século, como: respiração, alimentação, olhar horizontal e principalmente a evolução para postura bípede; entretanto com as vantagens da bipedestação surgiram também as adaptações e sobrecargas posturais. 

De acordo com Przysiezny (2011), durante muito tempo o pé foi observado como uma estrutura rígida ou semirrígida e com isso as condutas de prescrição de palmilhas ortopédicas e avaliação estática foram com base nessa premissa.

A complexidade de avaliar o pé do corredor não tem base somente em olhar de forma estática, mas sua característica dinâmica de múltiplos movimentos em toda a sua região durante a corrida, pois na fase da marcha existem movimentos interdependentes que somente conseguimos analisar com equipamentos que oferecem uma alta definição de imagens, para que possamos assim ser mais fidedigno durante a emissão do diagnostico funcional.

De acordo com a classificação de Valentin existem 3 tipos de pés: 

Pé plano: caracterizado pela diminuição ou ausência do arco medial uma maior pressão na região interna do calcâneo e da cabeça do primeiro metatarso como ilustra a figura abaixo. Suas principais causas são: disfunção do músculo tibial posterior, instabilidade ligamentar e deformidades congênitas. Sua disfunção pode causar dores nos joelhos, tendinopatias, artroses, encurtamentos musculares que podem levar a recidivas de lesões musculares. 

Pé cavo: Uma disfunção mais complexa, caracterizada pelo aumento do arco medial, que muitas vezes está associada a uma condição neurológica, encurtamento da fascia plantar, falência dos músculos fibulares, sendo assim ao contrario do pé plano o cavo encontra-se mais doloroso, pois, o encurtamento promove um estresse na região anterior e posterior do pé, provocando patologias como: lesão de menisco lateral, periostite do tibial (canelite), síndrome da dor no calcanhar, fratura por estresse da base do quinto metatarso muito comum em corredores , patologias lombares, talalgias, fascite plantar, esporão de calcâneo, tendinopatia do tedão de Aquiles e entorse de tornozelo.

Um fato interessante é que recentemente realizamos uma pesquisa no laboratório de analise do movimento do ISECENSA, onde correlacionamos a influência da assimetria dos membros inferiores com possíveis causas de patologias lombares, e observamos que ao contrário do que dialoga a bibliografia ortopédica, 0,5 mm já é o suficiente para alterar a assimetria da contração da musculatura da lombar influenciando diretamente na pisada e na postura, ou seja, se não ficarmos atento a isso, a causa poderá ficar oculta por muito tempo, no entanto você poderá estar com uma pisada pronada e outra supinada se seu centro de massa estiver alterado.

Temos que lembrar sempre que 0,3/0,4/0,5/0,6mm podem não ser significativos para você que é sedentário, mas para quem está realizando uma sobrecarga diária, isso poderá lhe trazer grandes adaptações estruturais e sua compensação pode lhe gerar disfunção e dor.

Vou dar um exemplo: imagine 10 quadrados, um em cima do outro, vamos supor que você modifique a posição do primeiro quadrado da parte de baixo sem que os outros de cima caiam, e aí? O que acontecerá? Acontecerá as adaptações, porque o segundo se adapta ao primeiro, o terceiro ao segundo e assim por diante. Assim é nosso corpo, ele sempre ira procurar uma posição de conforto e com o tempo se não forem corrigidas virão também às degenerações e as patologias musculoesqueléticas.

Essas disfunções estão diretamente associadas ao tipo de pisada do corredor, caracterizada: pronada, supinada ou neutra muito comum hoje em dia, pois estão na boca do povo até mesmo pelo crescimento do esporte no Brasil, mas com isso vem a sobrecarga, os treinos sem orientações e com ela o aumento do índice de lesão.

Mas como saber o melhor tênis de acordo com seu esporte? Como evitar lesões? Como melhorar a pisada?

Essas são somente algumas perguntas que respondo diariamente. A resposta irá depender de como você pisa, se tem tendência a sofrer lesões ou quantos quilômetros corre semanalmente.

Aqui vão algumas dicas:

Não podemos esquecer que a melhor forma de escolher um bom tênis é realizando uma avaliação estática e funcional, pois existe uma grande diferença entre ambas e este deve ser o diferencial na hora de escolher seu tênis evitando problemas futuros como podemos observar na figura abaixo onde foi realizada uma analise de platigrafia, podoscopia e vídeo em câmera lenta, onde existe uma diferença no ângulo de pronação com a paciente em posição estática e posteriormente de forma dinâmica na esteira ergométrica. Isso significa que, há uma diminuição no ângulo de pronação, fazendo com que aja um aumento na área de contato na região medial.

Nesse caso a paciente sai de um ângulo de pronação normal em posição estática para uma pronação leve à moderada em dinâmica, desta forma caros leitores, não escolha mais seu tênis porque alguém disse que sua pisada é pronada ou supinada ou estão porque simplesmente querem lhe vender um tênis mais caro, procure um profissional que possua equipamentos que possa lhe oferecer uma avaliação mais segura e siga sua corrida com mais segurança e menos lesão.

Gostei muito da definição da revista Runner`s World de dezembro 2012 onde ele classifica amortecimento x flexibilidade.

Amortecimento: analisa a maciez/firmeza da entressola na região do calcanhar e no antepé. Muito macio pode indicar pouca durabilidade, muito firme pode não oferecer proteção suficiente.

Flexibilidade: quanto de energia é necessário para dobrar o tênis antes dos dedos saírem do chão. Geralmente corredores leves precisam de mais flexibilidade que os mais pesados

A pisada neutra onde se inicia o contato com o lado externo do calcanhar, ocorrendo uma rotação moderada para dentro terminando a passada no centro da planta do pé , se adapta a qualquer tipo de tênis desde que não tenha nenhum tipo de correção.  

Desta forma o mais indicado seria o neutro com amortecimento no calcanhar, amortecimento no antepé com média flexibilidade.

A pisada pronada que nesse caso irá depender é uma pronação leve ou severa onde a pisada inicia do lado externo do calcanhar ou no na parte mais interna se o caso for mais grave para assim acorrer uma rotação acentuada do pé, terminando a passada perto do dedão.

Nesse caso o mais indicado no geral um tênis com mais apoio na região interna, mais macio no calcanhar, no antepé e rígido com pouca flexibilidade que lhe ofereça maior estabilidade

A pisada supinada tem como característica iniciar na região externa do calcanhar se mantendo em contato com o tempo todo com o lado externo e termina com o dedo mínimo.

Neste caso você terá que buscar um tênis que lhe ofereça um maior apoio na região externa do calcanhar, seja flexível e com bom amortecimento no calcanhar e antepé.

Importante ressaltar que devemos sempre procurar um profissional especializado para avaliar e orientar. Como falei anteriormente existem as características individuais, diante das diferenças entre o atleta recreacional, amador e profissional.

Msc. Sileno Junior 
 

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    Sobre o autor

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    Marcos Almeida é assessor esportivo, especialista em Ciência da Musculação e mestre em Ciência da Motricidade Humana.

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