Avaliando a pisada (II) (Por Sileno Junior)
Marcos Almeida 15/10/2015 08:03

imageConcordo plenamente que existe uma hiperindicação mercadológica sobre questões que não são alicerçadas na literatura sobre a venda de tênis bombardeando informações e promessas milagrosas a respeito dos benefícios, que na maioria da vezes, não condiz com o produto.

Isso muito me preocupa, pois existem pessoas totalmente despreparadas realizando análises de pisada e indicando tênis de forma marginalizada.

Isso dentro da própria loja (!) com o intuído de somente vender.

Quando são citadas as relações ascendentes na corrida com tênis que podem ter algum tipo de reação negativa e ocasionar lesões, fiquei me questionando a quantidade de variáveis envolvidas: estamos falando de atleta de alto nível? Amador? Obeso? Qual seria a intensidade dos treinos? Existe alguma disfunção postural severa? Esse atleta tem alguma patologia metatarsalgia onde ao usar uma sapatilha (calçado minimalista) poderá gerar uma maior sobrecarga no ante pé? Como é sua corrida? Seria indicada para um paciente que sofre com hérnia de disco?

Existem muitos questionamentos a serem estudados quando falamos de lesões em corredores. Poderia ficar aqui citando vários exemplos, principalmente com relação a priori de seu gestual, que seria a minha primeira preocupação.

Já que nosso alicerce científico ainda é muito pobre a respeito, onde os estudos existem mas são pouco acessados pela grande maioria, vejam, mais abaixo, o que aconteceu com um fabricante deste tipo de calçado.

Essas “SAPATILHAS “começaram a ser vendidas nos USA por uma empresa chamada VIBRAN FIVE FINGERS, que diga-se de passagem, sem embasamento científico nenhum, somente com a teoria de deixar a pisada mais próxima do fisiológico possível, enfim”! A MESMA ESTÁ RESPONDENDO UM MONTE DE PROCESSO, ou seja, os consumidores começaram a ter várias lesões o que fez com que a empresa mudasse totalmente seu foco.

Quando você puder acesse o site e verifique que as promessas de reduzir lesões já não existem mais, visto que (!) agora as vendas estão voltadas para Yoga, mergulho, dança, balé, escalada, academia, mudando totalmente seu foco.

Outro fabricante muito conhecido é a HOKA ONE ONE. Estão lançando os tênis Maximalista” bola da vez” que são extremamente leves, permitem maior mobilidade na mediotarsal e seu DROP é quase zero (a altura da frente do tênis é igual a da sua parte traseira) o que permite um apoio na fase de contato com o médio pé distribuindo com mais homogeneidade as sobrecargas ascendentes, mas mesmo assim, diante dos problemas enfrentados  pela VFF, está tomando muito cuidado com seu Marketing, justamente para se precaver contra as ações dos seus consumidores (nos EUA eles reclamam, movem processos e etc.).

No meu entender, a sapatilha nunca poderia ser usada por um” amador” iniciante, que ainda encontra-se na fase Cognitiva/Motora em seu gestual, que precisa desenvolver ideias sobre sua execução. No meu entender, não sou adepto e nem indicaria os calçados MINIMALISTAS para meus pacientes, pois até o momento não tem nada na ciência e nos resultados de quem já usou que me ampara de seus benefícios, muito pelo contrário!

Para finalizar, e ainda falando sobre a escolha do seu tênis de corrida, vejam esse estudo bem interessante - foi citado aqui no blog do amigo Ms. Marcos Almeida - onde ao que parece, paradgmas são quebrados.

Ao acompanhar 927 corredores, pesquisadores da Suécia concluíram que, até 500 quilômetros, todos foram protegidos igualmente contra lesões usando o mesmo calçado. O resultado sinaliza que o tipo de pisada não precisa ser requisito obrigatório na compra do sapato

O tipo de pisada não é o principal fator a ser considerado ao se comprar um tênis de corrida. Especialmente para os iniciantes, que, a princípio, sofreriam um maior risco de lesões. Essa é a conclusão de um estudo conduzido por pesquisadores do Departamento de Saúde Pública e de Ciência do Esporte da Universidade de Aarus, na Suécia. A escolha correta do calçado com base no tipo de pé tem sido, há mais de três décadas, considerado um forte fator de prevenção contra contusões. Desde 2009, cientistas de todo o mundo apontam que não há qualquer evidência científica para a prescrição de um tipo de calçado baseado na postura do pé. A investigação liderada pelo cientista Rasmus Nielsen pretende colocar um ponto final na discussão.

Durante cerca de um ano, os pesquisadores acompanharam 927 corredores iniciantes saudáveis. Foram analisados 1.854 pés. Houve casos de voluntários com dois tipos de pronação — uma em cada membro. Cinquenta e três pés eram altamente supinados; 369, supinados — postura em que os membros fazem uma curvatura para fora —; 1.292, neutros; 122, pronados — quando a pisada faz uma rotação para dentro— ; e 18, altamente pronados. Todos os voluntários receberam o mesmo modelo de tênis de corrida, indicado para pisada neutra, e foram monitorados por um relógio com GPS para quantificar a distância percorrida em cada treino. De acordo com o artigo publicado no British Journal of Sports Medicine, em um ano, eles correram 326.803 quilômetros e 27% deles sofreram algum tipo de lesão.

Os resultados das análises de sobrevivência a lesões realizadas nos primeiros 50, 100, 250 e 500 quilômetros de cada corredor não mostraram diferenças estatisticamente significativas entre os tipos de pisadas quando comparadas às de pés neutros. No entanto, os pés pronados apresentaram um número significativamente menor de lesões nos primeiros 1.000 quilômetros de corrida que os neutros. O dado contraria o mito de que corredores com alterações posturais sofreriam um maior risco de lesões e, por esse motivo, necessitariam de um calçado especial.

Msc. Sileno Junior

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    Marcos Almeida

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    Marcos Almeida é assessor esportivo, especialista em Ciência da Musculação e mestre em Ciência da Motricidade Humana.

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