Hora de concretizar a “venda do futuro”
Alexandre Bastos 27/09/2015 11:47
REGALIAS POR EL PETROLEO. ILUSTRACION: SEMANA OCTUBRE 4 DE 2010

Entre janeiro de 2009 e setembro de 2015 a Prefeitura de Campos contou com cerca de R$ 13 bilhões. O valor supera a soma dos orçamentos dos 20 anos anteriores. Mesmo arrecadando como nunca antes na história, o governo Rosinha Garotinho passa por dificuldades e está bem próximo de concretizar o seu segundo empréstimo em menos de um ano. Na primeira “venda”, o governo disponibilizou receitas de R$ 300 milhões e ficou com R$ 250 milhões. Ou seja, os “juros” ficaram na casa dos R$ 50 milhões. Agora, a Prefeitura pretende conseguir, até a primeira semana de outubro, mais R$ 1,1 bilhão.

De acordo com o marido da prefeita Rosinha, o secretário de Governo Anthony Garotinho, o processo de criação do fundo já teria sido aprovado pelo Comitê de Fundos da Caixa Econômica Federal, que fica sediado em São Paulo, e que estaria preparando a venda de títulos na Bolsa de Nova York (EUA), via leilão. Ou seja, quem oferecer a menor taxa de juros vai levar o nosso futuro. A conta dessa operação vai ser paga pelos próximos prefeitos e pode durar décadas.

Na defesa do governo, o marido da prefeita diz que, nos últimos anos, foram construídas escolas, creches e muitas casas populares. Ele também criticou a oposição e listou gastos com saneamento básico e programas sociais. Especialista na arte de se colocar como vítima, o secretário e cacique político prefere focar o debate no duelo entre oposição e situação, entre passado e presente. Ele se esquiva, por exemplo, de uma discussão séria e técnica sobre a falta de investimento em ações que tornariam a cidade menos dependente dos royalties. O que o governo Rosinha fez na área de Inovação Tecnológica? O que o governo modernizou na área da Agricultura? O Complexo Logístico Farol/Barra do Furado saiu do papel? Existem parcerias com pesquisadores? Pensaram em criar um fundo para poupar receitas? Somos referência em capacitação profissional? O que foi feito para diversificar a economia?

Apenas os cachês pagos pelos shows de Luan Santana (R$ 233 mil) e Thiaguinho (R$ 219 mil), na praia do Farol de São Thomé, superam o orçamento anual da secretaria de Petróleo e Inovação. Além disso, nos últimos anos, o governo gastou mais com propaganda do que com Agricultura. Torrou milhões em shows nacionais e a ONG Orquestrando a Vida, que desenvolve um belo trabalho com os nossos jovens, ficou por diversas vezes em apuros, com repasses atrasados. Isso sem falar na Educação básica, responsabilidade da Prefeitura, que ainda rasteja nas últimas posições do ranking do Ideb. Ou seja, antes de “vender”, o atual governo já demonstrava não dar muita bola para o futuro.

Em recente comentário enviado ao blog (aqui), o leitor Edimar Alves opinou sobre o atual momento de Campos e destacou que o problema da planície goitacá vai muito além das questões financeiras. Ele criticou, com razão, as discussões que se limitam a nomes, siglas e apoios. “O fato de se colocar como oposição a este modelo não é garantia de mudança de paradigma ao modelo vigente. A nossa maior crise: é a crise do pensamento”.

O nosso bilionário município, que tinha tudo para ser referência e caminhar com as próprias pernas, agora depende de um “cheque especial”. E o mais triste dessa história é que a conta será quitada por você, seus filhos e netos.

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