?A oposição é muito desunida?
16/08/2015 11:08

Aluysio Abreu Barbosa e Alexandre Bastos
Foto: Folha da Manhã 

Se continua a elogiar a passagem de Rosinha Garotinho (PR) pela Prefeitura de Campos nos últimos seis anos e oito meses, o deputado federal Paulo Feijo (PR) também admite que Campos poderia ser muito melhor com os royalties recebidos nos últimos 20 anos. Ainda assim, ele aposta na força do grupo governista, no qual vê o vereador Mauro Silva (PT do B) e o vice-prefeito Dr. Chicão (PP) como os dois nomes com mais chance para tentar manter a Prefeitura em 2016. Ao admitir estar fora dessa disputa, Feijó também calcula hoje ter 95% de chance de encerrar sua carreira política quando terminar seu quinto mandato na Câmara Federal. Sobre o que ocorre em Brasília, adverte que ninguém sabe onde a crise nacional pode acabar. Do Planalto Central à Planície Goitacá, o deputado defende o diálogo entre governistas e ex, enquanto considera a oposição desunida e desestruturada.

Folha da Manhã – Como está hoje sua relação com o secretário municipal de Governo Anthony Garotinho (PR) e seu grupo? Trabalha com a possibilidade de vir candidato a prefeito de Campos pelo PR em 2016?

Paulo Feijó – A minha relação com Garotinho é boa, muito embora tenha conversado muito pouco com ele, pelos meus afazeres em Brasília e os dele em Campos. Com o grupo político, a mesma coisa, com algumas exceções, como Dr. Edson Batista (PTB), presidente da Câmara, o vice-prefeito Dr. Chicão (PP), o vereador Mauro Silva (PT do B), líder na Câmara, e o vereador Jorge Rangel (PSB), com quem tenho mais contato. Em relação à candidatura em 2016, não vejo possibilidades, pois tenho 95% de chance de encerrar a minha carreira política após este meu quinto mandato de deputado federal. Acredito que já tenha oferecido uma importante parcela de contribuição a Campos e região nestes meus quase 30 anos de vida pública.

Folha – Os nomes mais fortes na disputa interna pela sucessão da prefeita Rosinha Garotinho (PR) são mesmo de Chicão e Mauro Silva? Você, Edson Batista, Suledil Bernadino (PR), Fábio Ribeiro (PR) e Auxiliadora Freitas (PHS) correm por fora? Quem teria mais chances, no grupo e junto ao eleitorado?

Feijó – Eu vejo os nomes de Mauro e Dr. Chicão com mais possibilidades, até porque dentro do grupo vejo que os dois estão mais motivados. Eu estou fora. Os demais, não posso avaliar. O candidato do grupo será o candidato com grandes chances de vencer as eleições. No momento certo esse nome será anunciado. A partir daí vamos trabalhar para a vitória.

Folha – Em outubro de 2010, você disse: “Ganharemos de qualquer um. Oposição, em Campos, não existe”. E foi parcialmente confirmado em 2012, com a reeleição da prefeita em turno único. Mas na pesquisa do instituto Pro4, de junho deste ano, 70,2% dos campistas disseram que não votariam em nenhum candidato apoiado por Rosinha em 2016. Ainda acha que dá para ganhar de qualquer um? E a oposição ainda não existe?

Feijó – Não existe eleição fácil e na democracia é comum que o poder mude de mãos, mas acredito que o nosso grupo político fará o sucessor da prefeita, até porque a oposição é muito desunida e desestruturada eleitoralmente.

Folha – Em outra entrevista à Folha, em fevereiro 2014, você disse: “hoje considero Rosinha a prefeita de melhores resultados na história do município de Campos”. Um ano e meio depois, diria o mesmo? Por quê?

Feijó – Com certeza! Rosinha é a prefeita que mais realizou no nosso município, com fortes resultados, principalmente nas áreas econômicas e sociais. Mas vale destacar que, se levarmos em consideração o que Campos recebeu de royalties do petróleo nos últimos 20 anos, verificamos que o nosso município poderia ser muito melhor, até como uma referência de qualidade de vida pro Brasil.

Folha – Um fato que tem causado grande desgaste à prefeita é a antecipação de receitas, inclusive de administrações futuras, estimada em até R$ 1,2 bilhão, autorizada pela Câmara numa manobra governista julgada ilegal pela 3ª Vara Cível de Campos, na última quinta. A ação já tinha sido repudiada por 88,5% da população, na mesma pesquisa Pro4, rejeição próxima das enquetes da Folha (84,7%) e InterTV (90%). Vale a pena insistir em pagar para ver?

Feijó – Quero ressaltar que a crise brasileira é muito forte, a crise na indústria do petróleo idem, com consequências pesadas para nossa região. Em relação ao quadro financeiro do nosso município não conheço os números para fazer esta avaliação.

Folha – Em entrevista recente, o vereador Gil Vianna disse que foi a manobra governista para autorizar a chamada “venda do futuro” de Campos, e sua esmagadora rejeição entre os campistas, que fez com que ele e outros cinco outros edis abandonassem a bancada rosácea. Diante de tanta sangria na base de apoio popular e legislativa, há alternativa?

Feijó – Há alternativa sim, o diálogo! Acredito que a saída destes vereadores da base tenha ocorrido não por estes motivos, mas principalmente pela falta de conversa. Dou como exemplo a presidente Dilma, que enfrenta um desgaste sem precedentes, mas tem procurado conversar com os partidos políticos, governadores, líderes partidários, movimentos sociais, e está ganhando fôlego. Em Campos, o nosso grupo tem que ir pelo mesmo caminho, o da conversa. Fazendo isso, tenho certeza que traremos vários desses vereadores de volta.

Folha – Em março de 2014, Garotinho previu que você se reelegeria deputado federal: “No seu caso, Feijó, aposto em 150 mil votos para cima”. Porém, seus 48.058 votos se aproximaram de um terço da previsão. Até que ponto a entrada de Clarissa Garotinho (PR) em Campos, onde acabou a mais votada, pode ter atrapalhado, já que na cidade você também ficou atrás de Alexandre Tadeu (PRB) e Nelson Nahim (então no PSD)?

Feijó – O que importa é que vencemos as eleições, e bem. O PR elegeu seis deputados federais e eu fui o terceiro mais votado. Claro que eu esperava fazer de 80 a 100 mil votos, pelos serviços prestados que tenho em Campos e região. Furou muito no Noroeste e em Campos. Tive uma votação, principalmente, de reconhecimento e amizade, praticamente sem apoio de máquina administrativa nenhuma.

Folha – Por falar em Clarissa, como está a situação dela na bancada do PR na Câmara Federal, onde colegas teriam lhe dado um ultimato para que deixasse de partido? O PSDB deve mesmo ser o destino dela?

Feijó – Ela ocupa hoje um dos mais importantes cargos do PR na Câmara Federal, como presidente da Comissão de Aviação e Transportes. Acho que não é hora dela falar em troca de partido, até porque o pai é o presidente regional do PR no Estado do Rio.

Folha – Como alguém no quinto mandato de deputado federal, já viu algo parecido com que se assiste hoje na capital federal, com um governo refém da crise econômica, política, de popularidade e moral? Onde isso pode acabar? Enxerga algum paralelo entre as situações da presidente Dilma Rousseff (PT) e da prefeita Rosinha?

Feijó – A crise política e moral do governo da presidente Dilma é muito grave, o Brasil está acompanhando. É imprevisível onde isso pode acabar, até porque eu acho que a Operação Lava-Jato não vai acabar tão cedo, trazendo resultados trágicos para o governo e o Congresso Nacional. Me posiciono de maneira a contribuir para que o Brasil vença essas dificuldades. Já a crise vivida pelo município na gestão da prefeita Rosinha advém, principalmente, destas dificuldades enfrentadas pelo país e também pela região, em função da queda da receita proveniente dos royalties do petróleo.

Folha – Logo após o primeiro turno da eleição de governador do Rio em 2014, com Garotinho excluído do segundo, você recebeu uma ligação de Francisco Dornelles (PP), vice do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), pedindo pela neutralidade. Garotinho ignorou, decidiu sozinho pelo apoio a Marcelo Crivella (PRB) e vocês acabaram derrotados não só no Estado, como em cinco das sete zonas eleitorais de Campos. Arrependeu-se de ter aconselhado? E Garotinho, por não ter seguido seu conselho?

Feijó - Realmente isso aconteceu, mas no domingo, logo após o primeiro turno, o Garotinho já tinha decidido apoiar Crivella. Na segunda-feira cedo, quando fui conversar com ele, a decisão já está tomada. Fiz o meu papel.

Folha – Em 2008, Geraldo Pudim foi fundamental na ponte para que você passasse a integrar o grupo de Garotinho. Agora, Pudim tem sua saída anunciada para ser candidato a prefeito de Campos pelo PMDB. Como viu o movimento e como será enfrentá-lo em 2016?

Feijó – Na minha opinião, sem entrar no mérito da relação com Garotinho, que é uma coisa pessoal, Pudim tem todo direito de buscar o seu caminho. Em relação ao ano que vem, é lógico que eu estarei apoiando o candidato do nosso grupo político.

Folha – Vê possibilidade do afastamento entre Pudim e Garotinho ser uma jogada ensaiada, uma espécie de Cavalo de Tróia? E é possível que, a apenas 14 meses da eleição, o eleitor mude uma percepção formada nos últimos 30 anos da parceria política entre os dois?

Feijó – Não, possibilidade zero, houve sim o afastamento. Em relação ao eleitor, só o tempo poderá dizer.

Folha – O anúncio da candidatura de Pudim a prefeito pela oposição tem dividido reações. Em artigos publicados ao longo da semana na Folha, o jornalista Fernando Leite saudou a iniciativa, questionada pelo também jornalista Ricardo André Vasconcelos, além do advogado José Paes Neto e do médico Makhoul Moussallem. A oposição já começa a se dividir? Ou isso já estaria previsto na tal “jogada ensaiada”?

Feijó – Acredito que não tenha nenhuma jogada ensaiada e, como já disse anteriormente, dificilmente a oposição se unirá para a eleição do ano que vem.

Folha – Um dos pontos levantados no artigo de Ricardo foi a formação de uma pauta de princípios a ser estabelecida junto à sociedade, que seria seguida por quem, independente de nome ou corrente política, seja eleito prefeito de Campos. O que pensa da ideia?

Feijó – A ideia é boa, só que o nosso grupo político vai elaborar o futuro plano de governo da mesma forma, discutindo com a sociedade organizada, como foi feito nos dois mandatos anteriores, da prefeita Rosinha.

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